sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Ginásio Mário Carlos continua abandonado

Prefeitura anuncia nova licitação no segundo semestre

Frente do ginásio está tomada pelo mato


          A prefeitura de Itapetininga anunciou na última semana a realização de uma nova licitação para a retomada das obras de reforma do Ginásio Mário Carlos Martins, no centro da cidade. A informação é do jornal Correio de Itapetininga. As obras estão paradas há mais de cinco anos. Também na última semana, a administração municipal anunciou que irá assumir a gestão do Recinto Acácio de Moraes Terra (o Carrito) e a realização da edição deste ano da Expo-Agro, maior evento do setor agropecuário da Região, com uma média de público estimada em 300 mil pessoas durante os 10 dias do evento. Ainda não há data marcada para a realização da feira, mas o anúncio da prefeitura gerou polêmica na cidade.

Mário Carlos
Segundo o jornal Correio de Itapetininga, a expectativa da prefeitura é de que o processo licitatório seja aberto no segundo semestre deste ano. As obras ainda não têm data para começarem. A administração municipal informou que devem ser investidos R$ 1 milhão na conclusão da reforma e que o projeto já foi aprovado pela Caixa Econômica Federal. O valor anunciado agora é igual ao montante investido em 2015 nas obras do Mário Carlos e do Ginásio Ayrton Senna, na Vila Barth, segundo informou na época o então secretário de Esportes, Osmar Thibes Júnior (veja histórico abaixo).
Ainda segundo o jornal Correio, a reforma foi suspensa em dezembro de 2012, porque a empresa contratada rescindiu o contrato alegando que os recursos financeiros liberados estavam defasados. A ampliação do ginásio estava orçada em mais de R$ 1 milhão. Naquele ano, a prefeitura utilizou o dinheiro do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) para reformar o ginásio e comprar placares eletrônicos para escolas municipais. Para utilizar o recurso, o prédio do ginásio foi repassado para uma escola municipal.

Situação só piora

Quase um ano depois que o Marconews abordou pela última vez a questão das obras do ginásio Mário Carlos Martins (foto), na área central da cidade, paradas desde 2012, a degradação do imóvel só aumentou.
Na tarde desta segunda, 22, a reportagem esteve no local e constatou que o mato tomou praticamente toda a frente do imóvel, que agora também serve de estacionamento. O mato, aliás, está presente não apenas na frente do ginásio, mas nas esquinas e ruas próximas, como no cruzamento da rua Expedicionários Itapetininganos, com São Vicente de Paula. Existe mato alto também em trechos da Expedicionários e da rua Capitão José Leme. Nesta última, quase não se pode andar pela calçada em determinado ponto da rua.

Histórico
Mato e lixo se acumulam nas
proximidades do ginásio

Iniciadas na administração de Roberto Ramalho, as obras foram paralisadas em 2012 porque, de acordo com o ex-secretário de Esportes, Osmar Thibes Júnior, a empresa vencedora da licitação abandonou a obra “e a segunda colocada não quis fazer pelo mesmo valor”, contou o ex-secretário, que esteve à frente da pasta desde julho de 2014 até dezembro de 2016, já na administração Hiram Jr. Durante a última campanha para prefeito, a Prefeitura chegou a realizar a limpeza na frente do prédio, mas o trabalho parou nisso.
          Em janeiro de 2015, Thibes esteve visitando o ginásio acompanhado do então prefeito Luiz Di Fiori (PSDB). Na ocasião, o secretário garantiu que as obras do Mário Carlos e do ginásio Ayrton Senna (Vila Barth) seriam concluídas ainda no primeiro semestre daquele ano, com investimento de R$ 1 milhão.
          Dois anos depois, o Ayrton Senna passou por uma reforma para adequá-lo às normas de segurança do Corpo de Bombeiros, além de atender exigências da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) e de instituições como a Conmebol (Confederação Sul-americana de Futebol) e Confederação Brasileira de Futsal. O ginásio, inclusive, já sediou jogos da Supercopa de vôlei e da Liga Paulista de Futsal, com a presença do jogador Falcão. Já o Mário Carlos continua esquecido.


Expo-Agro
O recinto recebe outros eventos além da Expo-Agro

          Também na última semana, a prefeitura anunciou, em nota, que estava assumindo a gestão do Recinto Acácio de Moraes Terra e a realização da exposição. Veja a íntegra da nota.
“Pela 1ª vez, o Sindicato Rural de Itapetininga definiu que deixará de administrar o Recinto de Exposições “Acácio de Moraes Terra”, imóvel de propriedade do Governo do Estado de São Paulo, destinado ao desenvolvimento de atividades e exposições específicas do setor agropecuário, com permissão por tempo indeterminado.
O Sindicato Rural, em entendimento com a Prefeita Simone Marquetto, procurou a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo para que a cessão de uso do recinto passe à Prefeitura de Itapetininga”, afirma a nota enviada pela prefeitura.
          Ainda segundo o documento, “o Sindicato Rural se comprometeu a oferecer o apoio técnico às atividades realizadas no local. A prefeitura aguarda a assinatura de um decreto do governador Geraldo Alckmin para oficializar a cessão de uso. Enquanto isso, a prefeita Simone Marquetto solicitou ao secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Arnaldo Jardim, a cessão de uso do espaço temporário para a realização da Expoagro 2018, que neste ano teve a definição da Prefeita para que os dias de eventos solidários sejam voltados para a saúde. O pedido foi autorizado e a partir de agora, a Prefeitura passa a desenvolver a edição da mais tradicional festa agropecuária da região. Nos próximos dias, a Prefeitura de Itapetininga irá organizar toda a realização do evento”.

Perguntas sem respostas
          O Marconews enviou perguntas à assessoria de imprensa da prefeitura de Itapetininga, solicitando mais informações a respeito desta iniciativa, mas a assessoria limitou-se a responder o seguinte: “A Prefeitura de Itapetininga informa que essa é a nota oficial sobre o assunto. Outras informações serão divulgadas posteriormente”.
          Veja agora as perguntas encaminhadas e não respondidas: Por que a Prefeitura decidiu assumir o recinto? Além da Expo Agro, outros eventos poderão ser realizados no local? Quais? Há recursos no orçamento municipal para investimentos no recinto? Como vai ser a parceria com o Sindicato Rural? Com relação à Expo Agro, os ingressos continuarão sendo cobrados? Quem bancará os cachês dos shows artísticos? Já está definida a data para a realização da exposição?


Repercussão
          A decisão da administração municipal em assumir o recinto e a organização da Expo-Agro repercutiu nas redes sociais, com muitos comentários a favor e contra a realização da feira.
          “Eu acho que foi uma decisão precipitada da administração municipal”, afirmou o jornalista e autor teatral Rogério Sardela, de 43 anos. Ele lembra que “até hoje, em quase cinco décadas da exposição, nenhuma prefeitura esteve sozinha à frente do evento. De onde sairá o cachê dos shows, considerando que a Cultura é a pasta com menos verba? Tem a questão da segurança e a cobrança de ingressos. No Abílio Victor, por exemplo, não podemos cobrar”, afirma Sardela, referindo-se ao auditório municipal Abílio Victor. Para ele, “haverá muita cobrança com relação a qualidade do evento e críticas virão”.

Risco
          O vereador Eduardo Vinícius Venturelli de Almeida Prando (PMDB). 44 anos, mais conhecido como Eduardo Codorna, afirma, por sua vez, que o recinto Acácio de Moraes Terra é um dos bens que pode estar na lista dos imóveis que o Estado de São Paulo pretende leiloar. “O Recinto pertence ao Estado e o Estado vai leiloar vários “BENS DOMINICAIS”. Se o município não requerer a Cessão de Uso, corremos o risco de perder. Com isso pode o município utilizar o recinto para outras atividades”. Ainda segundo o parlamentar, no caso de requerer a cessão de uso, não há a necessidade de aprovação por parte do Legislativo. “E no caso de assumir a Expo-Agro, só se tiver que remanejar verba do orçamento”.
          Eduardo Codorna afirma ainda que “a intenção de requerer a cessão de uso é justamente pra isso (a realização de vários eventos no local). E os eventos ficam à critério do executivo e suas secretarias”. Ele não acredita que a prefeitura tenha se precipitado ao tomar a decisão de assumir o recinto.

Parceria
          O vereador ressaltou que não há a necessidade de investimento público na iniciativa. “Temos uma lei aprovada que torna possível as parcerias público-privada”, disse Codorna, referindo-se a uma provável parceria entre a administração municipal e o setor privado para a gestão do recinto e a realização da exposição.
          O vereador afirmou ainda que “provavelmente” os ingressos para a Expo-Agro continuarão a serem cobrados. “Se (a exposição) for realizada pela prefeitura com dinheiro público, a entrada deve ser gratuita; se for uma PPP, não”. Ele ressalta ainda que, se a festa for realizada por uma empresa, o cachê dos shows artísticos “vai ser pago com o caixa da bilheteria, como sempre” 
“Quanto ao intuito de direcionar a renda da Expo-Agro para comprar aparelhos para a saúde, me lembro daquela festa que fizeram pra arrumar o TOMOGRAFO…Até hoje ninguém viu tomógrafo e também o dinheiro. É um assunto muito sério. Como vereador tenho por obrigação estar em cima das proposituras”, alertou Codorna.

Fotos ginásio: Marco Antônio
Foto recinto: Facebook

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Fotografia: a arte de captar a luz e registrar a história

Fotógrafos profissionais falam sobre a profissão
A foto do beijo na Times Square é o símbolo do fim da II Guerra Mundial


          Mais do que apertar um botão e registrar a imagem desejada, a fotografia é uma profissão e uma arte que tem entre seus pilares a sensibilidade e o olhar diferenciado do fotógrafo profissional. Mesmo com todo o avanço tecnológico dos dias atuais, o talento continuar sendo essencial na hora de produzir não apenas uma foto, mas sim uma obra de arte de luz e sombra, que registra para sempre um momento na vida de uma pessoa, uma cidade ou mesmo um país.
          Uma das fotos mais marcantes do fim da Segunda Guerra Mundial, por exemplo, foi feita quase por acaso por Alfred Eisenstaedt, então um desconhecido auxiliar de dentista que depois fotografaria personagens como Einstein, John Kennedy e Marilyn Monroe.
          Eisenstaedt estava trabalhando no dia 14 de agosto de 1945 quando ouviu a notícia do fim da guerra. Desconfiado, ele foi até a Times Square, no coração de Manhattan, e viu a alegrai toda: todo mundo comemorava a rendição do Japão. Foi nesse momento e nesse clima que o fotógrafo registrou um beijo que entraria para a história. O que a enfermeira Greta Zimmer Friedman e o marinheiro George Mendonsa, segundo o próprio relato dela, deram naquele 14 de agosto, em Nova York, sem se conhecer nem dizer seus nomes. Um encontro nascido para o esquecimento, mas que, sem que eles soubessem, foi imortalizado por Alfred Eisenstaedt e tornou-se um ícone que passados mais de 70 anos, e apesar de a polêmica sobre a verdadeira identidade do casal nunca ter acabado, está destinado a sobreviver mesmo após a morte de seus protagonistas. Eisenstaedt, morreu em 1995. Greta Zimmer  morreu aos 92 anos, em setembro de 2016, no Estado norte-americano da Virginia. Apenas Mendonsa, um pescador aposentado de 93 anos, continua vivo.
          Neste dia 8 de janeiro, é comemorado o dia do fotógrafo. Nesta matéria, através do depoimento de profissionais da área, a revista Hadar e o blog Marconews prestam homenagem a todos que amam a fotografia.

Privilégio

“Me sinto privilegiado em poder registrar parte da história através das minhas imagens. Tenho a oportunidade de conhecer lugares e pessoas incríveis com suas histórias de vida. Como fotógrafo aprendi a olhar para o mundo de uma forma diferente, pois ao fazer um registro, estou não só captando a imagem, mas também eternizando um momento das nossas vidas”. A frase é de Mike Adas (foto), 38 anos, fotógrafo profissional em Itapetininga desde os 22 nos.
Mike sempre se interessou pela área de comunicação e imagem. “Comecei como cinegrafista aos 12 anos e como fotógrafo e repórter fotográfico desde 2002. Por influência do meu pai, que gostava de filmagem, comecei a fazer trabalhos como cinegrafista, mas ao entrar na faculdade de comunicação, durante as aulas de fotografia, acabei atraído pelo desafio de ter que contar um fato com uma imagem”.
Com 16 anos de profissão, ele afirma que “quando comecei na fotografia já estava acontecendo a transição dos filmes para o digital, a adaptação não foi muito difícil, pois a base técnica de medição da fotografia continuou praticamente a mesma. Hoje a maiores diferenças são a tecnologia de captação, a quantidade de plataformas que podemos atender e também a quantidade de profissionais ou amadores avançados no mercado”.

Avanço tecnológico e mercado de trabalho
Apesar de toda a evolução tecnológica, como na qualidade das fotos dos celulares por exemplo, o diferencial ainda é a sensibilidade e a criatividade do fotógrafo, pois é perceptível a diferença de uma mesma imagem batida por um profissional para a de um amador”, avalia Mike Adas sobre o avanço tecnológico na sua profissão.

Foto marcante

Sobre sua carreira, o fotógrafo afirma que “são muitos fatos que marcaram, mas um que tenho como exemplo do puro fotojornalismo, é uma reportagem que eu e o jornalista Marco Antonio fizemos com uma mãe e seus três filhos pequenos que estavam há 6 meses sem energia elétrica na casa. Tínhamos 30 minutos para fazer a matéria, fomos na casa, entrevistamos a mulher e para a foto, já no escuro da noite, tive que pedir para ela segurar uma vela acesa junto com as crianças que estavam jantando. Com todo o contexto, o resultado ficou impactante e foi capa do jornal. Depois da matéria a luz foi paga por desconhecidos”.
Mike também avalia que pode considerar várias de suas fotos como históricas, “uma é a da matéria a qual descrevi da mãe e as crianças sem luz há 6 meses e posso citar uma do meio político, que foi a visita do então presidente Lula em Tatuí. Das muitas fotos que fiz no evento de entrega de ambulância do Samu, a imagem de capa acabou sendo a caminhada do Presidente, junto com o prefeito Gonzaga e a então ministra Dilma Roussef”.

Meio século de profissão

Prestes a completar meio século de profissão (no próximo dia 25 de janeiro), José Trindade Xavier, 65 anos, pode dizer que herdou a paixão pela fotografia dos pais e avós que, segundo ele, viviam tirando fotos. “Já com meus cinco anos andava com uma câmera fotográfica tipo caixão da marca "Big Box" fabricada na época (Anos 50) pela empresa carioca "Exacta".  Sempre estava com a câmera arriscando uns clicks até que no final do ano de 1967, adquiri minha primeira câmera profissional uma "Ashai Pentax" e ao 25 de janeiro de 1968 fiz o meu primeiro trabalho. Logo após adquiri uma câmera profissional estilo caixão da marca Yashica (tenho até hoje ambas as câmeras)”.

Diferenças
Trindade afirma que ser fotógrafo hoje “é completamente diferente” de quando começou. “Naquele tempo, para ser fotógrafo realmente, você tinha que dominar os três pilares da fotografia: ISO (sensibilidade à luz), abertura e velocidade, além de precisar ter conhecimento técnico do funcionamento das câmeras”.
Para ele, “a tecnologia sempre é bem-vinda porque facilita em muito o desempenho em qualquer área. No caso da fotografia realmente hoje é fácil ser fotógrafo pois as câmeras no modo automático entregam a foto pronta. Mas mesmo assim ainda tem lugar para o verdadeiro profissional que tem o seu "olhar" diferenciado sempre procurando buscar ângulos inusitados e usando da criatividade que só se adquire com muita prática. Por isso cada fotógrafo é um artista que tem seu estilo próprio, sua marca que o difere dos demais”.

Concurso internacional
          Um fato marcante em sua carreira, segundo Trindade, foi a conquista do segundo lugar em um concurso internacional promovido pela Fujifilm, em 1979, com a foto intitulada Tempestade em copo d’água.
          O fotógrafo afirma ainda que ‘na minha concepção de fotografia eu considero que todas as fotos são históricas pois elas registram um momento único que não se repetirá. É difícil especificar uma em especial ao longo desses quase 50 anos de carreira onde registrei várias inaugurações, posse de dois presidentes (Sarney e Collor), enfim não consigo realmente definir uma apenas entre tantas”.
          José Trindade também foi pioneiro ao montar, em 1972, o primeiro laboratório de fotografia a cores do Estado de São Paulo. Em 1982 produziu um filme em Super 8 com três horas de duração para o município de São Miguel Arcanjo. “Este foi um fato inusitado na época, e recebi diploma de reconhecimento das mãos do então governador, José Maria Marin”. Ele também realizou workshop de fotografia na Fundação Karnig Bazarian. Na década de 90 ganhou cinco troféus Jacob Bazarian de Imprensa, na categoria fotojornalismo, promovido pela Ajori (Associação dos Jornalistas e radialistas de Itapetininga); também foi colunista de vários veículos de imprensa e editor da revista Visual por 10 anos. Trindade também é professor de violino e maestro.

Texto: Marco Antonio Vieira de Moraes
Fotos: Alfred Eisenstaedt, Mike Adas, José Trindade