Entre os denunciados, estão um
ex-prefeito e
o atual vice-prefeito do município
Investigação teve início após denúncia do ex-secretário de Saúde, Geraldo Macedo |
O
Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO) - Núcleo
Sorocaba ofereceu na tarde desta sexta-feira (6), ao Juízo da 2ª Vara Criminal
de Itapetininga, denúncia criminal contra 61 pessoas indiciadas na investigação
conhecida como “Operação Atenas” e que apurou um intrincado esquema de desvio
de dinheiro público do Hospital Regional de Itapetininga. A informação foi
divulgada em nota publicada no site do Ministério Público de São Paulo.
Segundo
o GAECO, os denunciados são empresários, dirigentes de Organizações Sociais
(OS) e de Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), médicos
e agentes públicos, dentre os quais ex-Prefeito de Itapetininga, atual
Vice-Prefeito, e ex-Secretários municipais. Os crimes atribuídos aos envolvidos
são de formação de quadrilha, fraudes em licitações, peculato e corrupção
passiva e ativa.
A
investigação concluiu que foram desviados pelo menos R$ 7,5 milhões da verba da
saúde pública de Itapetininga, por meio das empresas dos denunciados. De acordo
com a denúncia, os responsáveis pela OSCIP Sistema de Assistência Social e
Saúde (SASS), que administrava o Hospital Regional de Itapetininga, montaram
empresas de fachada que emitiam notas fiscais correspondentes a serviços nunca
prestados ao Hospital. O esquema também envolvia a emissão de notas fiscais
superfaturadas.
Na
operação que desmantelou o esquema, no ano passado, 10 pessoas foram presas e,
em poder de uma delas, foi apreendida uma mala com R$ 1 milhão em dinheiro,
além de dólares e euros. Há nos autos notícia do recebimento de suborno por
parte de um parlamentar e de um Prefeito de município do interior, motivo pelo
qual o GAECO – Núcleo Sorocaba remeterá à Procuradoria-Geral de Justiça cópia
integral da investigação para as providências de sua alçada.
História
A
investigação do MP começou após denúncia do ex-vice-prefeito e secretário de
Saúde, Geraldo Macedo, no final de agosto de 2011. Na época, ele disparou o
mais duro ataque já sofrido pela administração municipal, denunciando supostas irregularidades
na gestão do Hospital Regional, gerenciado pelo SASS. Entre as denúncias,
estava o repasse de recursos a empresas de consultoria, que pertenceriam a
diretores do SASS. As denúncias foram feitas durante sessão do Legislativo
local.
O
então vice-prefeito relatou ainda desmandos administrativos que vinham ocorrendo
em sua secretaria, com o objetivo de desgastá-lo politicamente. “Quando assumi
a saúde, alguns amigos me disseram que o prefeito queria me queimar e eu acho
que foi isso mesmo. Uma fritura usando um maçarico”, acrescentou o
ex-secretário. Logo no início de sua exlanação, Geraldo Macedo deixou claro que
não estava para meias palavras. “Roberto Ramalho é um tirano ingrato que não
aceita opiniões divergentes. Ele não é democrático”, afirmou o ex-secretário,
“se pudesse me exonerar do cargo de vice-prefeito, que foi me dado pelo voto do
povo, ele o faria”.
Ainda
segundo Macedo, várias ações do prefeito obstruíram sua gestão frente à
secretária, como a nomeação de funcionários exonerados por ele em outra pasta.
Entre os motivos da exoneração, estava o fato dos funcionários receberem sem
trabalhar, de acordo com o ex-vice-prefeito. Geraldo Macedo criticou o que
chamou de herança recebida quando era titular da pasta da Saúde: a realização
de pagamentos sem o empenho. Fato que, de acordo com ele, ocorria desde 2009.
“Eu herdei R$ 17 mil e a ex-secretária Regina (Soares), R$ 400 mil. Macedo
lembrou que nenhum pagamento da administração municipal pode ser feito sem o
devido empenho.
Durante
sua fala aos vereadores e público presente (com o plenário lotado), o então
vice-prefeito mostrou um relatório administrativo com mais de 200 páginas o
qual, segundo ele, com base em orientações do Tribunal de Contas do Estado,
recomenda que o convênio com o SASS não seja renovado. “Mesmo assim, o prefeito
o renovou até 2013” ,
disse. Durante sua fala, Macedo confirmou que encaminhou cópias dos documentos
ao GAECO, grupo especializado ao combate ao crime organizado e ao Ministério
Público, pedindo providências. Esses documentos serviram de base para que o MP
iniciasse uma investigação, que culminou com agora com a denúncia contra 61
pessoas.
Prefeito se defende
As denúncias de Macedo caíram como
uma bomba no Paço Municipal. No começo do mês de setembro de 2011, Roberto
Ramalho (foto) compareceu à Câmara local, para se defender dos ataques de Macedo; na
ocasião, o prefeito também respondeu à perguntas dos vereadores. “Vim aqui em
respeito aos senhores e responder com tranqüilidade. Não podemos impedir as
pessoas de fazer comentários e de usar eleitoralmente essas questões”, disse o
chefe do Executivo, atribuindo um caráter eleitoral às declarações de Geraldo
Macedo.
Sobre as denúncias envolvendo a
administração do Hospital Regional, a cargo do SASS (Sistema de Atendimento
Social e Saúde), Ramalho disse que o problema “foi levantado pela equipe da
prefeitura”. Sobre a dívida que o município teria com a instituição, o prefeito
afirmou que “O SASS fez mais serviço do que foi contratado e a prefeitura
estava passando dinheiro aquém das necessidades. “Então tem a dívida. Tudo é
bem transparente”.
De acordo com Roberto Ramalho, a
dívida era de R$ 4 milhões na época da renovação do contrato com a entidade.
Contrato este que não deveria ser renovado, na avaliação de Geraldo Macedo, na
época secretário da Saúde do município. “Todo processo que assinamos passa por
avaliação do secretário e quando chega ao prefeito é para as providencias
necessárias para a renovação”. O contrato com o SAS encerrou-se em setembro de
2012.
Sobre a realização de pagamentos sem
empenho, outra acusação feita por Macedo, e que teria deixado uma dívida de
mais de R$ 400 mil, Ramalho informou que “não é possível pagamento sem empenho,
cabe ao secretário reconhecer ou não a dívida; se não reconhecer, pode abrir um
processo administrativo, pois tem autonomia para isso”.
O então prefeito não comentou os
ataques pessoais feitos por Geraldo Macedo, que o chamou de “tirano ingrato”.
“Não vou me ater a discussões desta ordem; quem me conhece sabe que sou
democrático e paciencioso. Delego praticamente para todos os secretários”. O
chefe do Executivo lembrou que sua gestão elaborou mais de 100 projetos novos,
destacando o atendimento ao idoso, “o que poucas cidades no Brasil têm”. Ele
admitiu, porém, que “não é possível atender a todos os interesses”.
Por fim, Roberto Ramalho rebateu a
afirmação de Macedo de que investe pouco mais de 15% no Saúde. “De acordo com o
relatório do Tribunal de Contas do Estado, Itapetininga investe 24,9% de seu
orçamento na área da Saúde”. “Ninguém compactua com irregularidades, mas
existem os meios adequados para se tomar providências. Qualquer secretário que
se assumir como candidato a prefeito deve deixar o cargo. Este foi o motivo da
exoneração (de Macedo). Não deixo me levar pelas questões pessoais – não é por aí
– não é bom pra o município”, declarou Ramalho.
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