Morte do piloto completa 20 anos; seu
falecimento comoveu o país
O menino paulistano de classe
média-alta que se tornou um fenômeno das pistas de corrida. Um ídolo
inigualável que despertou a admiração de toda uma nação. Assim era Ayrton Senna
da Silva, morto em trágico acidente no dia 1º de maio de 1994, em Imola, na
Itália, ao bater violentamente na curva Tamburello.
O Brasil parou naquele dia, e nos
outros que vieram depois, para acompanhar a chegada do corpo, sua passagem
pelas ruas de São Paulo, o velório e o enterro de Senna.
Mas qual o segredo de Ayrton Senna,
cujo apelido de infância era Deco? Sim, ele era um piloto fenomenal, tricampeão
do mundo, mas existem outros ótimos pilotos. E, analisando friamente as
estatísticas, Michael Schumacher é o maior piloto de todos os tempos. Afinal, é
o único heptacampeão e por enquanto reina absoluto, ameaçado, ainda que de
longe, por Sebastian Vettel. E por falar em Schumacher, ele começa a dar sinais
de recuperação de seu acidente de esqui.
Mas Ayrton é único. Mestre da pista
molhada, enfrentou desafios dentro das equipes por onde passou, como a
preferência por outros pilotos. Mesmo sendo de família rica, Senna era
brasileiro e me pergunto se o fato de ser do Terceiro Mundo não fez com que, no
começo, fosse visto com certo preconceito pelas grandes equipes europeias, que
poderiam ter privilegiado seus companheiros europeus. A briga com Alan Prost
dentro das pistas e nos boxes é um dos marcos da carreira do brasileiro.
Além do piloto arrojado, Senna era
um cidadão fora das pistas, exemplo para muitas pessoas, justamente em um país
onde exemplos de caráter, de dignidade, são cada vez mais raros. Este sim era o
segredo de Ayrton Senna: perfeccionista nas pistas e nos negócios, mas um ser
humano que valorizava a vida. Tanto é que, em um grande prêmio, dois anos antes
de sua morte, parou o carro praticamente no meio da pista para ajudar o piloto
francês Erick Comas, que estava preso no carro. Muito acreditam que a ação
rápida de Senna, prestando os primeiros socorros ao piloto, salvou a vida do
mesmo (veja depoimento de Comas). Pena que o próprio Senna não teve um
atendimento tão rápido e eficiente quando se acidentou.
Para muitos, a morte do brasileiro
foi uma fatalidade. Pois quebrar a barra de direção logo antes da curva, passar
reto e bater o carro no ângulo exato para que o braço da suspensão quebrasse e
atingisse a viseira do capacete....Uma situação improvável, mas que ocorreu! E
a comoção atingiu a todos, não apenas os brasileiros, mas todos que o tinham
como ídolo.
Em recente depoimento em vídeo,
Galvão Bueno lembrou os momentos que se sucederam logo após o acidente de
Senna. Ele mesmo precisou parar a transmissão por três vezes, naquele dia, para
respirar. Em meio ao corre-corre de todos tentando ir para o hospital saber a
real situação, o locutor lembra que soube da morte de Senna através de outro
piloto: Gerard Berger, por sinal grande amigo de Ayrton.
Ayrton Senna se foi, mas seu legado
permanece! Certamente, o fato de que hoje as viseiras são à prova de bala é uma
das muitas consequências que sua morte trouxe para o esporte. Embora amasse a
velocidade, sua maior preocupação era a segurança de todos. Nisto não abria mão
e batia de frente com os organizadores das provas, quando achava que algo não
estava certo. Em toda a história da competição, sua morte foi a última entre os
36 tristes episódios de pilotos que morreram em função desse esporte.
Atualmente, os carros de Fórmula 1
esbanjam tecnologia e segurança. Os motores diminuem de tamanho, mas graças a
uma série de recursos tecnológicos, rendem muita potência.
Bem diferente dos tempos do Ayrton,
quando a tecnologia praticamente não existia e as trocas de marchas eram feitas
no braço, como se diz. Segundo Jorge Telles, fã do piloto e integrante da turma
da Placa dos 100, que há mais de 20 anos acompanha o GP do Brasil, além de ter
dezenas de horas gravadas de corridas, em uma corrida, o brasileiro chegou a
mudar de marchas mais de 250 vezes. “São dados oficiais e verídicos”, garante
Jorjão, como é conhecido. Haja braço!
Ayrton Senna. Este nome certamente
está gravado nos corações dos brasileiros. E só podemos agradecer pelo que ele
fez. Obrigado Ayrton!
Herói
Veja
agora o depoimento do piloto Erick Comas sobre o acidente com Senna. “Quando
passei na curva Tamburello, os helicópteros médicos, as ambulâncias, o carro de
Ayrton, todos estavam lá. Vi que já estava colocado em uma maca, então parei
meu carro. Uma paralisia me bateu, porque eu estava próximo de um homem que,
dois anos antes, tinha salvado minha vida e eu não podia fazer nada para
ajudá-lo. Isso foi horrível. Ele salvou minha vida, mas eu cheguei muito tarde.
Eu não era médico, e o estado que ele estava era muito pior que o meu. O
acidente dele foi diferente do meu. Mas me encontrar naquela situação, ao lado
dele, me sentindo tão impotente, foi uma experiência horrível. Fui o último piloto
a vê-lo. Foi difícil aceitar que tive a honra de fazer a última visita antes de
ele ir embora. Para mim, foi o fim do livro na Fórmula 1”. Comas deixou o
esporte depois do acidente de Ayrton Senna.
Texto: Marco Antônio
Colaboração: Andréa Vaz e Jorge Telles
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