Candidato à Presidência vivia melhor momento de sua carreira política
Em um país onde tradicionalmente há
escassez de novas lideranças políticas que se apresentem como alternativa para
o eleitor saturado dos discursos da esquerda radical e da direita conservadora,
a morte de Eduardo Campos, candidato à Presidência da República pelo PSB,
ocorrida neste último dia 13 de agosto, deixou uma lacuna que Campos tentava
preencher, conquistando seu próprio espaço.
Um dia antes do fatídico acidente
com o avião que transportava o candidato do Rio de Janeiro até a cidade
paulista de Santos, onde daria uma palestra, Campos foi entrevistado pelo
Jornal Nacional, da Rede Globo de Televisão.
Fumaça marca o lugar onde caiu o avião Cessna que levava o candidato |
Durante 15 minutos, ele respondeu
às questões levantadas pelos apresentadores William Bonner e Patrícia Poeta. O
candidato não se furtou a responder nenhuma pergunta, incluindo questões
delicadas, como seu empenho na eleição de sua mãe, a então deputada federal Ana
Arraes, para o cargo vitalício de Conselheira do Tribunal de Contas da União.
Ou mesmo a indicação de dois primos para o Tribunal de Contas do Estado de
Pernambuco.
Eduardo Campos mostrou-se sereno e
disposto a ser firmar como uma alternativa para o eleitor; uma nova liderança
nacional, com propostas viáveis. Campos começou a carreia política ainda
estudante, sendo filho e neto de políticos; seu avô, Miguel Arraes, governou
Pernambuco duas vezes, uma delas com o apoio do Partido Comunista do Brasil, o
que o obrigou a exilar-se fora do Brasil durante a ditadura militar. Arraes só
voltou ao Brasil após a promulgação da Lei da Anistia, no fim dos anos 70. Ele
morreu em 2005, coincidentemente no dia 13 de agosto.
Mesmo com uma influência tão
carismática como a do seu avô, Campos sempre se esforçou para ter luz própria.
E tinha bom trânsito em várias esferas da política. Basta ver a repercussão de
sua morte.
Durante entrevista ao JN, o
candidato rebateu as afirmações de que possuía promessas divergentes, como
aumentar os investimentos na saúde e educação e, ao mesmo tempo, reduzir a
inflação para 4% em 2016 e 3% até 2019. E garantiu que conseguiria cumprir
todas as promessas, que na sua avaliação, se resumiam a uma só: melhorar a
qualidade de vida do brasileiro.
“A sociedade brasileira tem
apresentado na internet, nas ruas, uma nova pauta, que é a pauta da educação,
da melhoria da assistência da saúde, que está um horror no país, a violência
que cresce nos quatro cantos do país. Nós temos que dar conta de melhorar a
qualidade de vida nas cidades onde a mobilidade também é um grave problema. E
tudo isso em quatro anos. Nós estamos fazendo um programa de governo,
ouvindo técnicos, a universidade, gente que já participou de governo. E é
possível, sim. Nós estamos fazendo conta, tem orçamento. Eu imagino que muitas
vezes as pessoas dizem assim: ‘Houve uma reunião do Copom hoje e aumentou 0,5%
os juros’. E ninguém pergunta da onde vem esse dinheiro. E 0,5% na Taxa Selic
significa 14 bi. O passe livre, que é um compromisso nosso com os estudantes,
custa menos do que isso. Então, nós estamos fazendo contas para, com
planejamento, em quatro anos trazer inflação para o centro da meta, fazer o
Brasil voltar a crescer, que esse é outro grave problema, o Brasil parou. E o crescimento
também vai abrir espaço fiscal. Tudo isso com responsabilidade na condução
macroeconômica. Banco Central com independência, Conselho Nacional de
Responsabilidade Fiscal, gente séria e competente governando. Fazendo a união
dos competentes, dos bons, o Brasil pode ir muito mais longe”, afirmou Campos.
Ainda
segundo o candidato, “a inflação não pode ser combatida só com a taxa de juros,
como vem sendo feita no país. É preciso ter coordenação entre a política
macroeconômica monetária e a política fiscal, mas é preciso também ter regras
seguras. As regras que mudam todo dia no Brasil muitas vezes fazem com que o
preço do dinheiro suba, o chamado Custo Brasil. A falta de logística que encarece
o produto que vem do mundo rural, da própria indústria, a falta de ferrovia, de
rodovia, que o Jornal Nacional mostra tantas vezes aqui, de portos, encarece o
país. Então, o Brasil precisa enfrentar a inflação, porque ela está corroendo o
salário. As pessoas estão percebendo. Os aposentados, os assalariados, os que
vivem por conta própria do seu esforço percebem. O compromisso um com o centro
da meta da inflação e a retomada do crescimento”.
Pouco
antes de encerrar a entrevista, Eduardo Campos avaliou que 2014 “está sendo um
ano difícil, porque a gente vai ter um crescimento de -1%. O Brasil está
perdendo”.
Em
sua manifestação final, Eduardo Campos resumiu em um minuto e meio porque
queria ser presidente da República: “Eu queria ter a oportunidade de falar com
você de todo Brasil. Eu governei o estado de Pernambuco por duas vezes. Fui
reeleito com 83% dos votos e deixei o governo com mais de 90% de aprovação.
Governei com pouco, porque governei um estado do Nordeste brasileiro com muita
pobreza, e botei o foco naqueles que mais precisam. Então, aprendi a fazer mais
com menos. Agora, ao lado da Marina Silva, eu quero representar a sua
indignação, o seu sonho, o seu desejo de ter um Brasil melhor. Não vamos
desistir do Brasil. É aqui onde nós vamos criar nossos filhos, é aqui onde nós
temos que criar uma sociedade mais justa. Para isso, é preciso ter a coragem de
mudar, de fazer diferente, de reunir uma agenda. É essa agenda que nos reúne, a
agenda da escola em tempo integral para todos os brasileiros, a agenda do passe
livre, a agenda de mais recursos para a saúde, a agenda do enfrentamento do
crack, da violência...O Brasil tem jeito. Vamos juntos. Eu peço teu voto”.
Eduardo Campos tinha 49 anos, completados no
último dia 10 de agosto, e deixa esposa e cinco filhos. Além do candidato, também
morreram no acidente dois assessores, o cinegrafista e o fotógrafo oficiais da
campanha, o piloto e o co-piloto. As causas do acidente serão investigadas.