Dados do IBGE apontam para safra recorde de grãos
Apontado com um dos
pilares da economia brasileira, o segmento agropecuário mostra força e, mesmo
sob os efeitos da pandemia da covid-19, deve apresentar um aumento na produção
de grãos de quase 3%, em relação à safra de 2019. Os dados são do IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e foram divulgados no começo
de julho.
De acordo com o órgão,
“a safra nacional de grãos deve bater novo recorde e chegar a 247,4 milhões de
toneladas em 2020, segundo a estimativa de junho do Levantamento Sistemático da
Produção Agrícola (LSPA), divulgada pelo IBGE. Isso corresponde a um aumento de
0,6% em relação à previsão de maio e de 2,5% na comparação com a colheita de
2019, um aumento de 6 milhões de toneladas”.
Segundo o IBGE, “esse
crescimento na comparação anual resulta, principalmente, do aumento na projeção
de 5,6% para a soja (mais 119,9 milhões de toneladas) e de 0,4% para o algodão
(mais 6,9 milhões de toneladas), ambos recordes na série histórica. A
estimativa de produção de trigo encontra-se 33% maior (7 milhões de toneladas)
que a do ano passado”.
Analistas do instituto
também destacam um provável recorde também na produção de café arábica, que
deve chegar a 2,6 milhões de toneladas este ano, ou 44,5 milhões de sacas de
60kg, um crescimento de 28,9% em relação à safra do ano passado, mantendo a
hegemonia do país na produção mundial”. Fatores como o clima (com chuvas boas
em regiões produtoras) e a característica da safra ser bienal (alternando anos
com baixa produção e outros com alta produção). De acordo com os técnicos, “o
dólar valorizado e a boa produção devem alavancar as exportações do produto,
possibilitando ao país recuperar mercados internacionais importantes”.
São Paulo
Levantamento feito em abril pela Secretaria
de Agricultura do Estado, em parceria com o Instituto de Economia Agrícola
(IEA) e a Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável (CDRS), traz as estimativas
das principais culturas do estado para a safra 2019/2020. Os dados abrangem todos
os 645 municípios do Estado de São Paulo.
À época do levantamento, o estado já se
encontrava em isolamento social, decretado pelo governador (Decreto n. 64.881,
de 22 de março de 2020). Entretanto, os técnicos da CDRS, responsáveis também
pela coleta dos dados, utilizaram outros meios de comunicação para obter as
informações necessárias como a pesquisa por telefone quando não foi possível o
deslocamento até o informante (cooperativas, associações, unidades produtivas e
outras), em respeito e cumprimento ao decreto.
Mais de 10 milhões de toneladas
A colheita de grãos nesta safra deve somar
10,3 milhões de toneladas, o que representa acréscimo de 7,7% em relação à
safra anterior, devido aos maiores volumes produzidos e esperados para amendoim
(+31,3%), arroz (+4,8%), café (+33,2%), feijão de inverno sem irrigação
(+3,7%), milho safrinha (+0,4%) e soja (+16,4%). Em contrapartida, apresentaram
decréscimos em suas produções, algodão (-13,6%), feijão das águas (-3,0%),
feijão da seca (-22,5%), feijão de inverno (-12,5%), feijão de inverno irrigado
(-14,7%), trigo (-4,8%) e triticale (-15,6%).
Área plantada diminui, mas produtividade aumenta
A elaboração dos índices que refletem a
evolução da agricultura paulista no ano agrícola 2019/20 em comparação ao de
2018/19 reflete o comportamento de culturas anuais, semiperenes e perenes no
estado. Os resultados agregados indicam retração de 0,5% na área plantada, mas
com aumento de 2,1% no volume a ser produzido, por conta do crescimento de 2,4%
na produtividade da terra. O conjunto das culturas anuais apresenta acréscimo
de 2,5% na produção e na produtividade da terra, com destaque para o grupo dos
grãos, especialmente soja, amendoim e arroz. No caso das culturas perenes e
semiperenes, observa-se que o aumento de produção (2,0%) é influenciado pela
melhor produtividade (2,3%), dado que a área diminui em 0,7%. O café é
responsável pelo desempenho positivo desse grupo. Veja agora como está a
situação de algumas das principais culturas do estado. Os dados são da
Secretaria da Agricultura de São Paulo.
Batata da Seca e de Inverno
Para a safra 2019/20 de batata da seca e de
inverno, observa-se decréscimo em área em relação à safra passada. A batata de
inverno apresentou redução na área plantada em 7,8%, chegando a 11,9 mil
hectares, e a produtividade apresentou redução de 17,1%, com uma produção
esperada de 320,8 mil toneladas. O primeiro levantamento do cultivo de batata
da seca também apresentou redução em relação ao ano anterior. A área cultivada
foi estimada em 6,5 mil hectares, com uma produtividade de 27,4 t/ha e uma
produção de 178 mil toneladas. Todos os indicadores dessa cultura foram
inferiores à safra 2018/19. Para ambos os tipos de batata levantados, os
principais EDRs são: São João da Boa Vista, Itapeva e Itapetininga.
Café tem salto na produção
A estimativa preliminar da safra 2019/20
para o café no Estado de São Paulo evidencia produção de 352,8 mil toneladas,
superior em 33,2% em relação à safra anterior. Tal resultado é reflexo do
aumento de produtividade em 32,5% e não influenciado pelo ligeiro decréscimo de
área produtiva (-0,4%). Acrescenta-se o satisfatório comportamento climático
nas principais regiões em que a lavoura é conduzida. No EDR de Franca,
estimou-se colheita de 2,6 milhões de sacas de 60 kg, caminhando para recorde
histórico de produção nessa região. Houve incremento da produtividade nesse
EDR, saltando para 37,7 sc. de 60 kg/ha. Assim, entre fevereiro e abril, a
estimativa acrescentou uma saca de produção adicional a cada três hectares
cultivados. Nos demais EDRs relevantes na cafeicultura paulista (São João da
Boa Vista, Marília e Ourinhos), observaram-se variações apenas na produção e
produtividade. A atual temporada deverá ser caracterizada por um ano bastante
atípico na história da cafeicultura, diante de tais aspectos: elevadas produção
e produtividade, boa qualidade e preços para a maior parte dos empreendedores,
e remuneradores. Essa condição favorece que estratégias públicas e privadas
visando o incremento da competitividade sejam adotadas com maior chance de
êxito.
Cana para Indústria
Os números preliminares da safra paulista de
2019/20 para a cultura da cana para indústria apontam ganhos de produtividade
agrícola de 1,1%, por conta das condições climáticas positivas, resultando em
um volume a ser produzido na safra de 0,7% a mais que a anterior, totalizando
438,5 milhões de toneladas. O setor mostra indícios de que o volume a ser
produzido nesta safra se dirige à produção de açúcar.
A área plantada na safra 2019/20 é similar à
estimada em 2018/19 (-0,7%), em que se prevê colheita em 91,0% deste total. Há
informação de que parte desses hectares reduzidos se deve à devolução de áreas
arrendadas e de fornecedores, que preferiram substituir o plantio de
cana-de-açúcar por outras culturas. A finalização de contratos de arrendamento
tem sido habitual, principalmente nas áreas impróprias à colheita mecanizada,
pois faz parte da estratégia das unidades de produção para se tornarem mais
eficientes, visto que as áreas não adequadas à colheita mecanizada tendem a ser
descontinuadas. Entretanto, também não deve ser desprezada a crise que o
mercado sucroalcooleiro viveu nos últimos anos, que afetou o campo e a
indústria. Embora haja produção em quase todo o estado, as regiões de Barretos,
Orlândia e Ribeirão Preto se destacam, pois possuem 21,2% da produção de cana
no estado. A produtividade média nestas regiões está acima de 78,0 t/há, equiparando-se
à média estadual de 78,4 t/ha.
Feijão
Para o feijão da seca na safra 2019/20, a
estimativa preliminar sobre área cultivada é de 17,6 mil hectares e a produção
estimada em 41,9 mil toneladas. Na comparação com a safra anterior, têm-se
reduções de 26,3% no plantio e de 22,5% para a produção a ser colhida, e ganhos
de 5,3% de produtividade, com rendimento de 2,4 t/ha. Um dos fatores que têm
limitado o plantio do feijão da seca é a infestação da mosca branca. Cerca de
50% da área cultivada no estado de São Paulo concentra-se nos EDRs de Avaré
(24,0%), Itapeva (17,1%) e General Salgado (14,7%).
No caso da cultura do feijão de inverno
(irrigado e sem irrigação) para a safra 2019/20, os primeiros resultados
mostram diminuição de 13,5% de área plantada (35,2 mil ha) em relação à safra
passada, influenciando negativamente a produção (-12,5%), com previsão de serem
colhidas 90,3 mil toneladas. Essa queda foi notada no feijão irrigado, que
representa 80,0% da área total de feijão de inverno. Por se tratar do primeiro
levantamento, essas informações podem ter alterações, possivelmente com aumento
de área do feijão irrigado, uma vez que parte dos produtores na época do
levantamento não havia iniciado o plantio. Espera-se também retração de área no
feijão não irrigado, devido às condições climáticas adversas com previsões de
poucas chuvas no período inicial do cultivo até mês de junho.
Laranja
A estimativa preliminar da safra agrícola
2019/20 para a cultura da laranja é de 13,5 milhões de toneladas colhidas, 1,5%
abaixo da quantidade obtida na safra agrícola 2018/19. O período de deficiência
hídrica, principalmente nos meses de março e abril de 2020, quando os frutos já
se encontravam em estágio mais avançado de desenvolvimento, e as altas
temperaturas diurnas podem vir a comprometer a safra, pois são fatores que
afetam negativamente estágios importantes do desenvolvimento vegetativo dos
pomares, como o florescimento e o desenvolvimento dos frutos.
Essa situação climática foi notada em grande
parte da região noroeste do estado (Votuporanga e São José do Rio Preto).
Entretanto, esse efeito é muito amenizado na região sudoeste (Avaré e
Itapetininga), onde predomina a laranja com destino para mesa, com uso de
irrigação. Contudo, para a presente safra, há indicativo de uma produtividade
agrícola de 32,2 t/ha, registrando variação positiva de 0,3% em relação à safra
anterior.
O volume contabilizado contempla a produção
destinada ao mercado e à indústria, as caixas perdidas no processo produtivo e
na colheita, bem como os frutos provenientes de pomares não expressivos
economicamente, independentemente de seu tamanho. Quanto à área total plantada
(que inclui área com plantas ainda não produtivas), nota-se recuo de 1,4%,
embora se registre expectativa de crescimento em que não se fará a colheita
(aumento do número de plantas novas), ainda que de forma não uniforme
regionalmente. Em relação à área produtiva, nota-se diminuição de
aproximadamente 2,0%, relativamente à safra 2018/19 (redução de três milhões de
pés). Esse fato também contribui para um volume menor, visto que há expectativa
de leve aumento no rendimento (+0,3%). É conhecida a continuidade no processo
de erradicação, por conta da eliminação de pomares comprometidos com a
incidência de problemas fitopatológicos, principalmente cancro cítrico e HLB
(greening). A área ocupada com pomares de laranja é de 448,6 mil hectares,
correspondendo a 180,1 milhões de plantas, das quais 89,0% aptas para produção.
Milho: área de cultivo sofre redução
No levantamento da safra 2019/20, os
resultados mostram que continua o cenário de redução de área de cultivo, 11,8%
menor do que a anterior, totalizando 354,0 mil hectares. A produtividade
cresceu 2,0%, com isso a redução de produção foi menor que a de área (10,0%). É
importante apontar que o momento de comercialização do produto é favorável.
Dados do IEA apontam que, em abril de 2019, o preço médio da saca de 60 kg de
milho era de R$32,9 e, em abril deste ano, o produto foi comercializado na
média de R$48,2, variação de 46,5%; assim, espera-se boa rentabilidade para os
produtores.
Milho safrinha
Ao contrário do milho 1ª safra, o milho
safrinha apresenta tendência de crescimento de 5,1% de área na safra 2019/20,
alcançando 498,3 mil hectares em relação à safra anterior. A produtividade
estimada é menor em 4,5%, com produção de 0,4% maior quando comparada à
anterior. Os técnicos da CDRS informam que pode haver alteração na
produtividade, dado que o atraso no plantio de soja e milho 1ª safra levou à
mudança na janela produtiva do milho safrinha, e o clima no mês de maio será
preponderante para o resultado da produtividade neste ano safra.
Soja
Para a cultura da soja na safra 2019/20, os
dados indicam que a área evolui 1,1%, contabilizando 1.084,3 mil hectares. Em relação
à produção, espera-se um expressivo aumento (+16,4%) impulsionada pelo aumento
de produtividade de 15,2% superior à safra anterior. Ressalta-se que o
comparativo de aumento de produtividade deve ser visto como uma recuperação,
pois a produtividade da safra passada foi prejudicada por adversidades
climáticas. A sustentação da demanda pelo grão e derivados constituídos
pelo farelo e pelo óleo nos mercados doméstico e internacional justificam a
expansão da sojicultura no estado.
São Paulo e Brasil
A participação paulista no total da balança
comercial brasileira (todos os setores da economia) apresentou quedas de 3,4
pontos percentuais nas exportações e de 2,8 p.p. nas importações nos cinco
meses de 2020, apontando valores de 18,9% nas exportações e de 32,0% de
representatividade para as importações. Para o agronegócio, as exportações
setoriais de São Paulo nos cinco primeiros meses de 2020 representaram 15,5% em
relação ao agronegócio brasileiro, mesmo valor registrado no mesmo período de
2019; já as importações tiveram ligeiro aumento (0,1 p.p.) passando de 34,8%
para 34,9%.
Desafios
Para o engenheiro
agrônomo Samuel Grillo Negrin, o setor agrícola tem muitos desafios a enfrentar
nestes tempos de pandemia. “Em meio a tempos desafiadores devido à covid-19,
com alterações na economia e na rotina dos cidadãos, que precisam ficar em
casa, a produção agropecuária se torna ainda mais essencial para garantir o
abastecimento de alimentos em todo o mundo. Toda essa mudança no
comportamento das pessoas, gerou impactos difíceis de entender”, avalia o
agrônomo.
Ele ressalta que “alguns
setores do Agro estão passando por sobressaltos maiores e outros menores. Vamos
olhar um pouco o que está acontecendo: Flores e Horticultura – queda no consumo
por causa do isolamento social; algodão – queda no consumo e a concorrência de
fibras sintéticas, mais baratas comparadas com fibras naturais; cana de açúcar
– os preços do petróleo recuaram, causando uma mudança abrupta no mercado de
biocombustíveis, já que a tendência é que os combustíveis derivados de petróleo
fiquem mais baratos”.
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