quarta-feira, 12 de agosto de 2020

Agro sob a pandemia: setor mostra força e bate recorde de produção

 Dados do IBGE apontam para safra recorde de grãos

Área plantada de soja

 Área plantada de soja

            Apontado com um dos pilares da economia brasileira, o segmento agropecuário mostra força e, mesmo sob os efeitos da pandemia da covid-19, deve apresentar um aumento na produção de grãos de quase 3%, em relação à safra de 2019. Os dados são do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e foram divulgados no começo de julho.

            De acordo com o órgão, “a safra nacional de grãos deve bater novo recorde e chegar a 247,4 milhões de toneladas em 2020, segundo a estimativa de junho do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA), divulgada pelo IBGE. Isso corresponde a um aumento de 0,6% em relação à previsão de maio e de 2,5% na comparação com a colheita de 2019, um aumento de 6 milhões de toneladas”.

            Segundo o IBGE, “esse crescimento na comparação anual resulta, principalmente, do aumento na projeção de 5,6% para a soja (mais 119,9 milhões de toneladas) e de 0,4% para o algodão (mais 6,9 milhões de toneladas), ambos recordes na série histórica. A estimativa de produção de trigo encontra-se 33% maior (7 milhões de toneladas) que a do ano passado”.

            Analistas do instituto também destacam um provável recorde também na produção de café arábica, que deve chegar a 2,6 milhões de toneladas este ano, ou 44,5 milhões de sacas de 60kg, um crescimento de 28,9% em relação à safra do ano passado, mantendo a hegemonia do país na produção mundial”. Fatores como o clima (com chuvas boas em regiões produtoras) e a característica da safra ser bienal (alternando anos com baixa produção e outros com alta produção). De acordo com os técnicos, “o dólar valorizado e a boa produção devem alavancar as exportações do produto, possibilitando ao país recuperar mercados internacionais importantes”.

 

 

São Paulo

Levantamento feito em abril pela Secretaria de Agricultura do Estado, em parceria com o Instituto de Economia Agrícola (IEA) e a Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável (CDRS), traz as estimativas das principais culturas do estado para a safra 2019/2020. Os dados abrangem todos os 645 municípios do Estado de São Paulo.

À época do levantamento, o estado já se encontrava em isolamento social, decretado pelo governador (Decreto n. 64.881, de 22 de março de 2020). Entretanto, os técnicos da CDRS, responsáveis também pela coleta dos dados, utilizaram outros meios de comunicação para obter as informações necessárias como a pesquisa por telefone quando não foi possível o deslocamento até o informante (cooperativas, associações, unidades produtivas e outras), em respeito e cumprimento ao decreto.

 

Mais de 10 milhões de toneladas

A colheita de grãos nesta safra deve somar 10,3 milhões de toneladas, o que representa acréscimo de 7,7% em relação à safra anterior, devido aos maiores volumes produzidos e esperados para amendoim (+31,3%), arroz (+4,8%), café (+33,2%), feijão de inverno sem irrigação (+3,7%), milho safrinha (+0,4%) e soja (+16,4%). Em contrapartida, apresentaram decréscimos em suas produções, algodão (-13,6%), feijão das águas (-3,0%), feijão da seca (-22,5%), feijão de inverno (-12,5%), feijão de inverno irrigado (-14,7%), trigo (-4,8%) e triticale (-15,6%).

 

Área plantada diminui, mas produtividade aumenta

A elaboração dos índices que refletem a evolução da agricultura paulista no ano agrícola 2019/20 em comparação ao de 2018/19 reflete o comportamento de culturas anuais, semiperenes e perenes no estado. Os resultados agregados indicam retração de 0,5% na área plantada, mas com aumento de 2,1% no volume a ser produzido, por conta do crescimento de 2,4% na produtividade da terra. O conjunto das culturas anuais apresenta acréscimo de 2,5% na produção e na produtividade da terra, com destaque para o grupo dos grãos, especialmente soja, amendoim e arroz. No caso das culturas perenes e semiperenes, observa-se que o aumento de produção (2,0%) é influenciado pela melhor produtividade (2,3%), dado que a área diminui em 0,7%. O café é responsável pelo desempenho positivo desse grupo. Veja agora como está a situação de algumas das principais culturas do estado. Os dados são da Secretaria da Agricultura de São Paulo.

 

Batata da Seca e de Inverno

Para a safra 2019/20 de batata da seca e de inverno, observa-se decréscimo em área em relação à safra passada. A batata de inverno apresentou redução na área plantada em 7,8%, chegando a 11,9 mil hectares, e a produtividade apresentou redução de 17,1%, com uma produção esperada de 320,8 mil toneladas. O primeiro levantamento do cultivo de batata da seca também apresentou redução em relação ao ano anterior. A área cultivada foi estimada em 6,5 mil hectares, com uma produtividade de 27,4 t/ha e uma produção de 178 mil toneladas. Todos os indicadores dessa cultura foram inferiores à safra 2018/19. Para ambos os tipos de batata levantados, os principais EDRs são: São João da Boa Vista, Itapeva e Itapetininga.

 

Café tem salto na produção

A estimativa preliminar da safra 2019/20 para o café no Estado de São Paulo evidencia produção de 352,8 mil toneladas, superior em 33,2% em relação à safra anterior. Tal resultado é reflexo do aumento de produtividade em 32,5% e não influenciado pelo ligeiro decréscimo de área produtiva (-0,4%). Acrescenta-se o satisfatório comportamento climático nas principais regiões em que a lavoura é conduzida. No EDR de Franca, estimou-se colheita de 2,6 milhões de sacas de 60 kg, caminhando para recorde histórico de produção nessa região. Houve incremento da produtividade nesse EDR, saltando para 37,7 sc. de 60 kg/ha. Assim, entre fevereiro e abril, a estimativa acrescentou uma saca de produção adicional a cada três hectares cultivados. Nos demais EDRs relevantes na cafeicultura paulista (São João da Boa Vista, Marília e Ourinhos), observaram-se variações apenas na produção e produtividade. A atual temporada deverá ser caracterizada por um ano bastante atípico na história da cafeicultura, diante de tais aspectos: elevadas produção e produtividade, boa qualidade e preços para a maior parte dos empreendedores, e remuneradores. Essa condição favorece que estratégias públicas e privadas visando o incremento da competitividade sejam adotadas com maior chance de êxito.

 

Cana para Indústria

Os números preliminares da safra paulista de 2019/20 para a cultura da cana para indústria apontam ganhos de produtividade agrícola de 1,1%, por conta das condições climáticas positivas, resultando em um volume a ser produzido na safra de 0,7% a mais que a anterior, totalizando 438,5 milhões de toneladas. O setor mostra indícios de que o volume a ser produzido nesta safra se dirige à produção de açúcar.

A área plantada na safra 2019/20 é similar à estimada em 2018/19 (-0,7%), em que se prevê colheita em 91,0% deste total. Há informação de que parte desses hectares reduzidos se deve à devolução de áreas arrendadas e de fornecedores, que preferiram substituir o plantio de cana-de-açúcar por outras culturas. A finalização de contratos de arrendamento tem sido habitual, principalmente nas áreas impróprias à colheita mecanizada, pois faz parte da estratégia das unidades de produção para se tornarem mais eficientes, visto que as áreas não adequadas à colheita mecanizada tendem a ser descontinuadas. Entretanto, também não deve ser desprezada a crise que o mercado sucroalcooleiro viveu nos últimos anos, que afetou o campo e a indústria. Embora haja produção em quase todo o estado, as regiões de Barretos, Orlândia e Ribeirão Preto se destacam, pois possuem 21,2% da produção de cana no estado. A produtividade média nestas regiões está acima de 78,0 t/há, equiparando-se à média estadual de 78,4 t/ha.

  

Feijão

Para o feijão da seca na safra 2019/20, a estimativa preliminar sobre área cultivada é de 17,6 mil hectares e a produção estimada em 41,9 mil toneladas. Na comparação com a safra anterior, têm-se reduções de 26,3% no plantio e de 22,5% para a produção a ser colhida, e ganhos de 5,3% de produtividade, com rendimento de 2,4 t/ha. Um dos fatores que têm limitado o plantio do feijão da seca é a infestação da mosca branca. Cerca de 50% da área cultivada no estado de São Paulo concentra-se nos EDRs de Avaré (24,0%), Itapeva (17,1%) e General Salgado (14,7%).

No caso da cultura do feijão de inverno (irrigado e sem irrigação) para a safra 2019/20, os primeiros resultados mostram diminuição de 13,5% de área plantada (35,2 mil ha) em relação à safra passada, influenciando negativamente a produção (-12,5%), com previsão de serem colhidas 90,3 mil toneladas. Essa queda foi notada no feijão irrigado, que representa 80,0% da área total de feijão de inverno. Por se tratar do primeiro levantamento, essas informações podem ter alterações, possivelmente com aumento de área do feijão irrigado, uma vez que parte dos produtores na época do levantamento não havia iniciado o plantio. Espera-se também retração de área no feijão não irrigado, devido às condições climáticas adversas com previsões de poucas chuvas no período inicial do cultivo até mês de junho.

 

Laranja

A estimativa preliminar da safra agrícola 2019/20 para a cultura da laranja é de 13,5 milhões de toneladas colhidas, 1,5% abaixo da quantidade obtida na safra agrícola 2018/19. O período de deficiência hídrica, principalmente nos meses de março e abril de 2020, quando os frutos já se encontravam em estágio mais avançado de desenvolvimento, e as altas temperaturas diurnas podem vir a comprometer a safra, pois são fatores que afetam negativamente estágios importantes do desenvolvimento vegetativo dos pomares, como o florescimento e o desenvolvimento dos frutos.

Essa situação climática foi notada em grande parte da região noroeste do estado (Votuporanga e São José do Rio Preto). Entretanto, esse efeito é muito amenizado na região sudoeste (Avaré e Itapetininga), onde predomina a laranja com destino para mesa, com uso de irrigação. Contudo, para a presente safra, há indicativo de uma produtividade agrícola de 32,2 t/ha, registrando variação positiva de 0,3% em relação à safra anterior.

O volume contabilizado contempla a produção destinada ao mercado e à indústria, as caixas perdidas no processo produtivo e na colheita, bem como os frutos provenientes de pomares não expressivos economicamente, independentemente de seu tamanho. Quanto à área total plantada (que inclui área com plantas ainda não produtivas), nota-se recuo de 1,4%, embora se registre expectativa de crescimento em que não se fará a colheita (aumento do número de plantas novas), ainda que de forma não uniforme regionalmente. Em relação à área produtiva, nota-se diminuição de aproximadamente 2,0%, relativamente à safra 2018/19 (redução de três milhões de pés). Esse fato também contribui para um volume menor, visto que há expectativa de leve aumento no rendimento (+0,3%). É conhecida a continuidade no processo de erradicação, por conta da eliminação de pomares comprometidos com a incidência de problemas fitopatológicos, principalmente cancro cítrico e HLB (greening). A área ocupada com pomares de laranja é de 448,6 mil hectares, correspondendo a 180,1 milhões de plantas, das quais 89,0% aptas para produção.

 

Milho: área de cultivo sofre redução

No levantamento da safra 2019/20, os resultados mostram que continua o cenário de redução de área de cultivo, 11,8% menor do que a anterior, totalizando 354,0 mil hectares. A produtividade cresceu 2,0%, com isso a redução de produção foi menor que a de área (10,0%). É importante apontar que o momento de comercialização do produto é favorável. Dados do IEA apontam que, em abril de 2019, o preço médio da saca de 60 kg de milho era de R$32,9 e, em abril deste ano, o produto foi comercializado na média de R$48,2, variação de 46,5%; assim, espera-se boa rentabilidade para os produtores.

 

Milho safrinha

Ao contrário do milho 1ª safra, o milho safrinha apresenta tendência de crescimento de 5,1% de área na safra 2019/20, alcançando 498,3 mil hectares em relação à safra anterior. A produtividade estimada é menor em 4,5%, com produção de 0,4% maior quando comparada à anterior. Os técnicos da CDRS informam que pode haver alteração na produtividade, dado que o atraso no plantio de soja e milho 1ª safra levou à mudança na janela produtiva do milho safrinha, e o clima no mês de maio será preponderante para o resultado da produtividade neste ano safra.

  

Soja

Para a cultura da soja na safra 2019/20, os dados indicam que a área evolui 1,1%, contabilizando 1.084,3 mil hectares. Em relação à produção, espera-se um expressivo aumento (+16,4%) impulsionada pelo aumento de produtividade de 15,2% superior à safra anterior. Ressalta-se que o comparativo de aumento de produtividade deve ser visto como uma recuperação, pois a produtividade da safra passada foi prejudicada por adversidades climáticas. A sustentação da demanda pelo grão e derivados constituídos pelo farelo e pelo óleo nos mercados doméstico e internacional justificam a expansão da sojicultura no estado. 

 

São Paulo e Brasil

A participação paulista no total da balança comercial brasileira (todos os setores da economia) apresentou quedas de 3,4 pontos percentuais nas exportações e de 2,8 p.p. nas importações nos cinco meses de 2020, apontando valores de 18,9% nas exportações e de 32,0% de representatividade para as importações. Para o agronegócio, as exportações setoriais de São Paulo nos cinco primeiros meses de 2020 representaram 15,5% em relação ao agronegócio brasileiro, mesmo valor registrado no mesmo período de 2019; já as importações tiveram ligeiro aumento (0,1 p.p.) passando de 34,8% para 34,9%.

 

 

Desafios

            Para o engenheiro agrônomo Samuel Grillo Negrin, o setor agrícola tem muitos desafios a enfrentar nestes tempos de pandemia. “Em meio a tempos desafiadores devido à covid-19, com alterações na economia e na rotina dos cidadãos, que precisam ficar em casa, a produção agropecuária se torna ainda mais essencial para garantir o abastecimento de alimentos em todo o mundo. Toda essa mudança no comportamento das pessoas, gerou impactos difíceis de entender”, avalia o agrônomo.

            Ele ressalta que “alguns setores do Agro estão passando por sobressaltos maiores e outros menores. Vamos olhar um pouco o que está acontecendo: Flores e Horticultura – queda no consumo por causa do isolamento social; algodão – queda no consumo e a concorrência de fibras sintéticas, mais baratas comparadas com fibras naturais; cana de açúcar – os preços do petróleo recuaram, causando uma mudança abrupta no mercado de biocombustíveis, já que a tendência é que os combustíveis derivados de petróleo fiquem mais baratos”.

            Ele reforça que neste momento, a soja tem forte exportação para a China, “com agricultores conseguindo um bom preço no momento da venda ou no mercado futuro”. Já quanto ao milho, feijão e arroz, o agrônomo diz que “há uma certa estabilidade, não indicando falta de abastecimento”. Sobre a carne, Samuel Negrin lembra que “com as pessoas em casa o consumo aumentou e a desvalorização do Real deixou nosso produto mais competitivo para exportação”. Veja matéria completa na edição deste mês da revista Hadar (www.revistahadar.com.br). 

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