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Antigos barracões da Fepasa são
usados para consumo de drogas |
Quase um ano depois de denuncia feita pelo Marconews sobre a existência de uma
cracolândia em Itapetininga, pouca coisa mudou na paisagem próxima a linha
férrea que corta a cidade, mais precisamente onde antes estavam os barracões da
América Latina Logística (ALL), na vila Arlindo Luz, entre as vilas Paulo Ayres
e Prado. O local é ponto de usuários de drogas e traficantes. Segundo uma fonte
anônima, o movimento nessa área torna-se mais intenso à noite, a partir das 23
horas, e vai até de madrugada. “As pessoas parecem zumbis andando ao longo da
linha do trem”, disse a fonte. É intenso também o movimento de carros,
inclusive alguns modelos de luxo, que aparecem para comprar drogas. A
concentração de usuários e traficantes fez com que o local fosse chamado de Cracolinha, em referência à Cracolândia
que existia no centro de São Paulo.
Ainda
de acordo com uma fonte anônima, as melhorias que foram feitas no terreno, como
limpeza e a construção de um acesso para facilitar a passagem até a Vila Paulo
Ayres, acabaram sendo utilizadas pelos dependentes e traficantes. Há relatos de
pessoas que ficam escondidas em bueiros e galerias de águas pluviais, onde
podem usar drogas livremente, como também emboscar passantes incautos.
O problema vem se
arrastando há pelo menos um ano e nem algumas medidas adotadas pelo Poder
Público, como a demolição de imóveis usados para o consumo de drogas e o
isolamento dos barracões com uma cerca amenizaram o problema.
A
reportagem esteve no local e flagrou algumas pessoas no interior dos antigos
barracões. Um buraco na cerca indicava ser o lugar por onde as pessoas entravam
no local. Na hora em que a equipe fazia as fotos, uma moça saiu de um dos
barracões; um homem que estava no local pegou uma pedra e ficou com ela na mão,
em atitude ameaçadora.
Moradores
dizem que evitam passar pelo local durante a noite e madrugada, mesmo quando
estão a caminho do trabalho. Ainda segundo moradores, a maioria dos usuários é
jovem, alguns com menos de 18 anos.
Realidade
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Como zumbis, os dependentes caminham pela linha férrea |
“O
que acontece na Cracolinha é a pura
realidade”, comentou André Franco, coordenador da Casa Luz, instituição que
acolhe moradores de rua. “As pessoas parecem mesmo zumbis; algumas ficam dias
sem comer, só pensando em conseguir alguma droga. É a chamada fissura”,
acrescentou o coordenador, que toda semana leva comida às pessoas que dormem
nos barracões. Atualmente, este trabalho também conta com o apoio de
voluntários.
Segundo
ele, existem duas formas de trabalhar com dependentes químicos: “Uma é evitar
que a dependência aconteça, através de um trabalho de prevenção; a outra é
ajudar quem quer sair. Entre estes dois extremos, temos milhares de pessoas que
estão na dependência, mas não há o que fazer”. Franco é contra a internação
compulsória, adotada pelo governo estadual, por exemplo. “A pessoa precisa
querer sair deste tipo de vida para que seja encaminhada a uma clínica de
recuperação. Se não for assim, não consegue tirá-la dessa vida”.
Ponta
do iceberg
Enquanto outros municípios já possuem
instituições que atuam na recuperação dos dependentes, Itapetininga sofre com o
problema dos viciados em drogas ou álcool, que se espalham pela cidade.
“A
Cracolinha é só a ponta visível do
problema. Itapetininga tem bolsões de pobreza e há bairros inteiros infestados
pela droga, que muitas vezes é vendida em casas de famílias, com as pessoas
sendo obrigadas a conviver com essa situação por seus parentes envolvidos no
tráfico”, afirmou Franco.
Zumbis
Os
zumbis humanos costumam se dispersar com a chegada da Polícia Militar, mas
apenas por pouco tempo. “É só a PM ir embora que tudo volta”, disse uma pessoa.
Pedestres já teriam sido ameaçados a luz do dia, bem como veículos apedrejados
pelos dependentes químicos.
“Esse
é um tema muito complexo que envolve ações de setores como Saúde, Promoção Social
e Segurança Pública”, afirmou Eliana Fontes, assistente social e ex-secretária
da Promoção Social do município. Para ela, o Poder Público deveria ocupar os
galpões com atividades, o que afastaria os viciados. Atualmente, segundo ela, o
espaço está cedido à Secretaria de Esportes.
Polícia
Militar
Após denúncia feita pela imprensa a PM intensificou o
policiamento nos arredores dos galpões da antiga Fepasa, na Vila Arlindo Luz,
região conhecida como Cracolinha.
Segundo o major Marcelo Marques, subcomandante do 22º Batalhão da Polícia
Militar, em um espaço de três dias, 46 pessoas foram abordadas no local, por
estarem em atitude suspeita.
Texto e Fotos: Marco Antonio