Neste dia 8 de março, data Internacional da Mulher, o Marconews traz uma homenagem especial às mulheres, com uma entrevista feita em 2011 com a professora aposentada Lúcia Araújo (foto), então com 93 anos. A reportagem foi publlcada na Revista Divina. A vida da professora serve como exemplo para todos nós e mostra a força da mulher. Leiam agora a matéria completa.
A professora aposentada Lúcia Araújo fez do
magistério um verdadeiro sacerdócio. Entre seus alunos, estão muitas pessoas de
destaque hoje na sociedade itapetiningana, como o advogado Francisco de Castro,
pai do promotor de justiça Célio de Castro Sobrinho, além de inúmeros funcionários
do Banco do Brasil. Formada pela então Escola Normal Peixoto Gomide, a
professora passou boa parte de sua carreira lecionando na zona rural, não
apenas em Itapetininga, mas em diversos municípios da Região. Isto em uma época
em que o acesso aos bairros mais distantes era muito difícil e a viagem era
feita a cavalo. Por esta razão, os professores chegavam a morar no sítio,
raramente vindo à cidade.
Familiares
contam que a professora levava a filha mais velha, Linda, junto. “Eu punha a
menina em uma caixa de papelão e ia a cavalo dar aula”, conta a educadora. Até
a pé a professora chegou a ir dar aula, o que provocou um susto: “Eu estava
andando e no meio do caminho apareceu uma cobra. Eu tive de passar bem por cima
dela; lembro até hoje disso”, lembra, ressaltando que enfrentava tudo sozinha. Devido
às dificuldades da época, era o marido da professora, Dimas, que ia visitá-la
no bairro onde lecionava.
Professora da
primeira a quarta série, Lúcia Araújo gostava de trabalhar com os alunos do
primeiro ano. “As outras professoras não queriam pegar o primeiro ano porque os
alunos tinham de ser alfabetizados, mas eu gostava disso. Eu pensava: se dou
aula para a quarta série, por que não para o primeiro ano também?”.
Sem medo de
enfrentar desafios e sempre disposta a trabalhar, a veterana professora
conciliava o magistério com o fato de ser dona de casa e mãe. Assim, depois de
mais de 20 anos ensinando na zona rural, foi transferida para a escola Fernando
Prestes, onde sempre que podia auxiliava em diversas atividades e socorria as
outras professoras.
“Havia uma
classe, bem em frente à minha, onde os alunos eram muito barulhentos. A
professora chorava por não conseguir controlar os estudantes”, lembra Lúcia
Araújo. Após passar a lição para seus alunos, Lúcia ia em socorro da colega,
cuidando para que os alunos ficassem quietinhos. “Onde precisasse de mim, eu
ia”, lembra a professora, que chegou a lecionar, nessa época, para classes de
alunos de 15 anos. Ela também preparava e aplicava os exames, além de ensinar
canto. A professora garante que os estudantes dessa época também eram
bagunceiros.
Dedicação e
cobrança
Com dedicação, e também muita
cobrança a professora alfabetizou muitas crianças e jovens, fazendo com que
merecidamente fossem promovidos de uma série à outra. Com iluminação à base de lampião, pois ainda não
havia energia elétrica naquele tempo, Lúcia preparava os cadernos que seriam
utilizados na alfabetização dos alunos.
Tal dedicação
rendia elogios dos diretores com os quais a professora trabalhava, entre eles
Abílio Fontes. “Os diretores examinavam
os cadernos para saber o que a gente ia dar em sala de aula”, lembra Lúcia.
Além das matérias, os cadernos continham também as tarefas que os estudantes
tinham de fazer em casa.
Esse trabalho todo tinha uma recompensa: nunca um de seus
alunos foi reprovado.
A dedicação
da mestra ia além. Se algum aluno tinha uma deficiência, ela ia até a casa dele
para ajudá-lo a recuperar.
Para manter a
classe sob seu controle, ela tinha um truque: chegava um pouco antes do início
da aula e colocava toda a matéria na lousa. Assim, quando entravam na sala, os
estudantes tinham de copiar tudo e a professora podia prestar atenção em que
conversava.
A professora
também alfabetizou filhos e netos e ainda hoje corrige quando alguém fala
alguma coisa errada. Incansável, aos 80 anos auxiliou o filho de uma empregada
da família. Em 20 dias, o menino, que estava no segundo ano, mas praticamente
não sabia ler, estava alfabetizado e passou de série.
Depois de 11
anos atuando na Escola Fernando Prestes, a professora se aposentou, recebendo
um prêmio do Centro do Professorado Paulista.
Nascida em 15 de março de 1917, Lúcia Ferreira de Araújo completa 96
anos este ano, com saúde, alegria e, claro, um pouco de vaidade, tanto que ela
não queria tirar a foto sem estar arrumada. Nada mais justo para quem fez a
diferença na vida de tanta gente.
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