O servente Júlio César Campos |
Aos 30 anos e
pai de três filhos (dois meninos, de 11 e nove anos e uma menina de seis), o
servente Júlio César da Silva Campos passou dez anos bebendo e usando drogas,
principalmente o crack. A dependência química o levou a separa-se da família e
a morar nas ruas. Com vergonha dos filhos, escondia-se para que eles não o
vissem. Caçula de sete irmãos, viu três deles perderem a vida por causa da
droga; uma quarta irmã também envolveu-se com o tráfico de entorpecentes e
acabou presa, saindo recentemente da cadeia.
Depois de chegar ao fundo do poço e
ficar acordado durante dias, vagando pelas ruas, inclusive da Capital, Campos
conheceu a Casa Luz, instituição que acolhe moradores de rua em Itapetininga.
Depois de ficar um ano no local, o servente saiu em dezembro do ano passado,
arrumou emprego registrado (pela primeira vez na vida) e tem esperança de
reconstruir a vida. Atualmente, já visita e passa tempo com os filhos, para
quem é um herói. Ele ainda auxilia outros moradores da Casa Luz, aconselhando e
dando testemunho de vida.
Início
Júlio César posa junto aos tijolos ecológicos que aprendeu a fazer durante sua estada na Casa Luz |
“Comecei a beber cerveja aos 19
anos, quando ainda era namorado da minha esposa”, conta o servente. Da cerveja
para o álcool (pinga) foi um passo e daí para a maconha, “apresentada” por
amigos. Depois, conheceu a “farinha” (cocaína), passando a cheirar thiner e,
finalmente, o crack. “Aí, quebrou tudo”, lembra o servente, que perdeu a mãe
aos seis meses de vida e foi criado por uma tia.
“Eu fazia de tudo um pouco como
servente. Recebia toda a sexta-feira e ia para o bar, beber. Os amigos chegavam
e perguntavam se eu queria ir cheirar crack. Eu ia e, enquanto tinha dinheiro,
ficava lá. Chegava em casa e minha mulher perguntava do dinheiro; aí a gente
brigava. Eu dizia que tinha bebido, mas na verdade tinha fumado”, conta Campos.
A situação foi piorando até tornar-se insustentável. “Eu pedia para ela me dar
força, que iria parar, mas não conseguia. Ela tentou me ajudar mas no final
pediu a separação”. O servente lembra que, a essa altura, já estava se
afastando da família.
Fundo do poço
Júlio César Campos relata que, com a
separação, “aí tudo caiu mesmo. Passei três meses na rua, mas consegui emprego
e o patrão me levou para São Paulo. Lá, um primo me levou para conhecer a
favela, e voltei às drogas e para as ruas (foi despedido)”. Um irmão do
servente foi até a capital para ajudá-lo, mas acabou se envolvendo com drogas
também. “Meu irmão conseguiu voltar para Itapetininga e depois voltou para São
Paulo para tentar me tirar. Eu disse para ele esperar um pouco e fui até a
favela pegar mais droga; acabei ficando lá e meu irmão veio embora, cansado de
me esperar”.
Completamente sozinho, Campos
passava dias vagando pelas ruas, sem dormir, mas não sentia medo. Um dia,
conseguiu ajuda para voltar para Itapetininga, mas não a tempo de falar com o
irmão, que morreu logo em seguida, devido ao envolvimento com o crack. “Ele
tinha câncer e misturava os remédios com o crack”, diz o servente; ele próprio
contraiu tuberculose devido ao uso de droga.
Clamando a Deus
Quando a esperança estava acabando, o
rapaz clamou a Deus, pedindo ajuda. “Eu via as pessoas passarem felizes indo
para a igreja. Então pedi ajuda a Deus, achava que a religião poderia me
salvar. Eu não era religioso e mal sabia ler, mas também queria muito ver meus
filhos; recomeçar a minha vida”. Hoje, Campos é evangélico e dá testemunho aos
outros moradores da Casa Luz, contando sua história. “A fé, a esperança, e a
vontade de ver minha família me salvaram”, conta o servente.
Casa Luz
Campos lembra que, no começo, não
queria ir para a Casa Luz. “Não sabia como era; queria sair das ruas, mas
também tinha medo. E o André insistia”, disse o servente, referindo-se a André
Franco, fundador e coordenador da Casa Luz. “Demorei, mas acabei vindo. Fiquei
aqui até dezembro, quando sai para morar só e trabalhar”. A primeira
experiência, contudo, não deu certo. “Fiz uma pintura em três dias (levaria uma
semana) recebi R$ 400 e usei parte do dinheiro para pagar o aluguel de uma
casa, mas não deu certo porque uma pessoa que morava no fundo usava droga, aí
resolvi voltar para a Casa Luz”. Ele até tentou morar com familiares, mas não
deu certo. “A minha tia está com Alzheimer e então ficou difícil morar lá”.
De
volta à instituição, Campos continua apoiando os outros moradores. Durante o
dia, trabalha em uma empresa de luminosos da cidade. É o seu primeiro emprego
com carteira assinada e ele aguardava ansioso o primeiro pagamento. “Sou feliz
e estou recuperado e firme – leio a bíblia. Quero sair e ter minha casa. Os
patrões estão me ajudando a encontrar a casa. Hoje vejo meus filhos todos os
domingos e já contei sobre o meu problema para eles e me tornei o herói deles.
Tenho certeza de estar preparado para sair da casa e tocar minha própria vida”,
afirmou.
Texto: Marco Antonio
Fotos: Mike Adas
Parabés pela matéria meu amigo....um exemplo de perseverança....que Deus me ilumine e me ajude a ser perseverante assim tb em todos os meus planos.
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