Dança é inclusão
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Danças Circulares Sagradas |
Quase tão
antiga quanto a própria humanidade, a dança sempre esteve presente na história
do homem, seja para agradecer uma boa colheita, comemorar uma vitória ou louvar
os deuses. Muito mais do que a expressão física da alegria, a dança integra o
indivíduo à sua comunidade e, como um ato social, serve para que sejam feitas
novas amizades e até para apresentar uma jovem à sociedade, como são os famosos
bailes de debutantes. Como se vê, a dança está entre as atividades mais
inclusivas desenvolvidas pelo homem.
Mas, dentro do espectro quase ilimitado
da dança, existem aquelas que favorecem ainda mais a inclusão e a vivência
social. É o caso das Danças Circulares Sagradas, que têm esse nome porque
colocam as pessoas em contato com o que elas têm de mais sagrado: a sua
essência. Afinal, dançar faz bem para o corpo, a alma, a mente e até para as
comunidades.
Géssica Gralhóz é professora de DCS em Tatuí. Leia
agora os principais trecos da entrevista.
“A prática da dança é inerente ao
ser humano e há registros de que ela existe desde o Paleolítico. A dança
realizada em grupos em forma de círculo aparece depois, no Neolítico. Há
evidências de que diferentes povos costumavam reunir a comunidade e dançavam
com os mais diferenciados propósitos envolvendo cerimônias, festas ou rituais
sagrados. Mas o movimento das Danças Circulares é recente, resultou do encontro
entre o bailarino alemão/polonês Bernhard Wosien e a Comunidade de Findhorn, no
norte da Escócia, em 1976. Essa comunidade é algo muito especial no planeta.
Fundada há 51 anos, é considerada atualmente como referência mundial em
permacultura (cultura sustentável) e vida comunitária”, disse Géssica, que
visitou o local este ano e se encantou. “É um portal de Luz, não dá vontade de
sair de lá”. Ela conta que, nas celebrações dos 15 anos de existência da Comunidade
de Findhorn, Peter Caddy, um dos fundadores da comunidade, convidou Bernhard
Wosien para ensinar uma coletânea de Danças Folclóricas aos residentes. “Foi um
momento surpreendente para todos, Wosien encontrou o que há muito procurava,
vivenciou na dança a alegria, a amizade, o amor e constatou que dançar de mãos
dadas no círculo possibilitava uma comunicação mais amorosa entre as pessoas.
Desse momento mágico, surpreendente e amoroso nascem as DCS”;
Segundo a professora, as DCS
chegaram ao Brasil na década de 80, através de Sarah Marriott, que trouxe as DCS para um centro de vivência em Nazaré Paulista (SP). Sarah morou em Findhorn e resolveu fundar um centro de vivência, trazendo as Danças Circulares Sagradas como parte das atividades do centro.
Ainda de acordo com Géssica, há mais
dois nomes importantes na história das Danças Circulares no país. Um é Carlos
Solano, “que chegou inclusive a dar cursos em Belo Horizonte. Mas posso afirmar
com muita convicção que a pessoa que investe sua vida, mantém e segura o fogo das
DCS no Brasil é Renata Ramos, de São Paulo. Após visitar Findhorn (1992) e
fazer seu treinamento com a própria Anna Barton (1993), ela se empenhou em
editar em português o material sobre DCS e a Comunidade de Findhorn pela
Editora TRIOM. Passou também a dar cursos em todo Brasil; a levar grupos de
brasileiros ao Festival de DCS em Findhorn e, a partir de 2002, a organizar o
Encontro Brasileiro de DCS que acontece anualmente em Embu das Artes (SP). O
Brasil é o lugar do mundo onde mais cresce o movimento das DCS, estamos
dançando em todos os estados com diferentes grupos e propósitos. É uma alegria
muito grande partilhar desse movimento como brasileira”.
Benefícios
Géssica ressalta que “quando falamos
em DCS somos logo remetidos aos benefícios de sua prática. Quando inicio uma
prática, ao formarmos o círculo de mãos dadas, algo muito profundo acontece. O
fato de estarmos olhando uns aos outros, unidos no círculo, respirando juntos,
traz à tona a experiência da comunidade, do amparo, da proteção, da
colaboração, da compreensão; rompem-se as barreiras do individualismo, o ego se
dissolve, a hierarquia desaparece, formamos um novo ser, único e muito
poderoso. Quando a dança começa a ser executada, os passos ainda estão
descompassados ao ritmo da música, mas em poucos minutos a harmonia vai se
estabelecendo e a grandiosidade da comunidade se revela. Os corações se
expandem, o sorriso desabrocha espontaneamente e hesita em desfazer, às vezes
algumas lágrimas transbordam da expressão da alma, uma alegria sem tamanho se instala
e se expressa em profundo silêncio ou gargalhadas libertadoras”.
Para ela, a dança provoca a cura em
todos os sentidos: do corpo, da alma, das emoções, das relações. “É muito comum
em uma partilha pós dança os participantes declararem que fizeram um esforço
muito grande no início e depois conseguiram se soltar, mas que não podiam
piscar ou deixar a mente fugir dali, senão erravam os passos. É verdade, a
prática exige muito foco, principalmente porque todo o seu corpo é estimulado;
é preciso ouvir a música com atenção, perceber o ritmo, entender o passo da
dança naquele ritmo, deixar a melodia invadir seu coração, relaxar, curtir,
acertar o pé, o braço, o giro, o olhar, sorrir... quantos comandos. O cérebro
fica tinindo. É uma super ginástica cerebral”, disse a professora.
Ela
explica também que, “em geral, para se beneficiar do potencial de uma dança
circular é bom ter entre 10 e 30 pessoas. As práticas podem ser encontradas na
forma de vivências de meia hora, oficinas de 3 a 4 horas, cursos curtos de 10 a
16 horas, workshops de 30 a 40 horas ou cursos de formação de 180 horas. E para
quem quer ter uma formação teórica aprofundada, a UNIPAZ Campinas oferece o
curso de Pós-graduação em Jogos Cooperativos e Danças Circulares Sagradas. Os
focalizadores das DCS dedicam-se aos mais variados setores: saúde, educação,
empresas e parques. Na saúde vem sendo aplicadas a grupos de psicoterapia,
trazendo alegria de viver a pacientes com quadros de depressão; também na
Fisioterapia para reabilitação de movimentos; na Saúde Mental como forma de
estimular conexões neuronais. Nas escolas as DCS permitem o desenvolvimento das
múltiplas inteligências e nas instituições sociais vem ajudando a reinserir
valores e comportamentos. Nas empresas, constituem dinâmicas deflagradoras de
processos de resolução de conflitos, ou como forma de identificar ou valorizar
um aspecto da equipe que precisa ser fortalecido. Nos parques, serve como
entretenimento, convite à prática de atividade física e meio de cultivar os
valores necessários à construção de uma sociedade sustentável”. Leia matéria completa na edição deste mês da revista Hadar (www.revistahadar.com.br) .
Texto: Marco Antônio
Foto: site Ciranda da Lua