Especialistas falam sobre a questão
Marcos Terra |
Em um mundo
onde a palavra de ordem é inclusão social, com mudanças de atitudes e comportamentos
visando elevar a qualidade de vida das pessoas, qual seria o papel da arte e da
cultura neste contexto? Como ações ligadas à área cultural e artística podem
contribuir para a inclusão de pessoas que vivem praticamente à margem da
sociedade?
Para personalidades e profissionais
ouvidos pela reportagem, a arte e a cultura podem sim ser usadas como
instrumentos de inclusão e mudança social. Alguns cuidados, entretanto, devem
ser observados, como, por exemplo, identificar as manifestações culturais e
constituir um diálogo entre o Poder Público e a sociedade, tendo como objetivo
o fomento dessas manifestações.
Ex-funcionário público municipal e
ex-secretário de Cultura de Itapetininga, Marcos Vinícius de Moraes Terra, mais
conhecido como Marquinho Terra, avalia que, de modo geral, “a arte e a cultura
podem ser instrumentos de inclusão social, mas temos que tomar certo cuidado
com esses conceitos, principalmente identificando que existe diferença entre
cultura e a arte, por mais que, em uma visão genérica, as duas palavras sejam
complementos uma da outra. Assim, é necessário sempre entender que não
necessariamente toda arte e até mesmo todas as ideias de cultura podem servir
como instrumentos de inclusão social”.
Para ele, que atualmente se divide
entre trabalhos na Capital e Itapetininga, o primeiro passo é identificar
iniciativas inclusivas. “Sempre identifiquei dezenas de ações de arte e cultura
que serviam como instrumentos de inclusão social, uma forma comum é a própria
atuação das entidades sociais, que quase sempre têm em suas ações projetos que
valorizam o desenvolvimento humano, com ações ligadas às artes como: aulas de
musica, dança, capoeira, cultura do hip-hop e outras tantas, felizmente comuns
no ambiente das entidades sociais”.
Sobre as dificuldades em levar
cultura e arte às camadas menos favorecidas da sociedade, Marquinho Terra
afirma que “primeiro é necessário reconhecer que nessas camadas existem cultura
e arte, um exemplo bem comum e que inúmeras vezes eu presenciei foram grupos musicais,
de artes cênicas, e de outras modalidades artísticas falando que a cidade
(Itapetininga) não tem arte, aí eu sempre me questionei: se não tem arte o que
eles estão fazendo então? Com esse questionamento é bom entender uma coisa: a
cultura, apesar de apagada e adormecida, sempre está presente na comunidade, o
que talvez não tenha (e que deveria ser o questionamento correto) é a fruição
(apreço, aproveitamento da ate) e o fomento artístico nesses setores, e isso é
um problema do Poder Público, ele tem que observar, entender e discutir com a
comunidade como é a melhor forma de suprir essas necessidades de apoio à criação
e produção e também como criar oportunidades para que todos tenham um bom
acesso à criação artística e possam apreciá-la”.
Marcos Terra
conta que tem viajado muito nos últimos meses, dividindo-se entre trabalhos em
Itapetininga e São Paulo, entre eles a ópera Ça Ira (foto), do compositor Roger
Waters, nada mais, nada menos do que o fundador da banda Pink Floyd. “Foi uma
grande escola de como se faz uma produção de nível internacional, trabalhando
com uma equipe extraordinária, sem dúvida essa oportunidade (que apareceu de
forma muito incomum), me rendeu um historia incrível: conhecer e trabalhar com
um mito como é o Roger Waters, mas confesso que o melhor de tudo foi
compartilhar experiência com as produtoras que eu trabalhei diretamente nesse
período. Esse trabalho me rendeu outro convite muito inusitado: a de trabalhar
como produtor executivo em cenografia com dois grandes cenógrafos
brasileiros, a cenografia era um campo da produção cultural que eu realmente
desconhecia e ainda conheço muito pouco, mas foi outra grande experiência.
entre os projetos que participei nesse período, está o Musical “A Madrinha Embriagada”
do SESI SP, realizei também pesquisa e elaboração orçamentaria de outras duas
Óperas”, conta Marquinho Terra.
Região
O Cururu é uma manifestação cultural típica da Região |
Ao contrário do que pensa muita
gente, Marcos Terra avalia que a nossa Região é rica culturalmente. “É um campo
fértil para a produção cultural. Apenas necessitamos entender melhor a nossa
dinâmica regional e fomentá-la de forma concreta. Infelizmente a nossa Região
se destaca na produção cultural com diversas cidades que investem todo o
dinheiro da cultura em shows de aniversario de cidade e rodeios, eu sou
totalmente contra quando isso ocorre em detrimento a outras politicas públicas
na área da cultura, é nefasto observar prefeituras pagando por um show de duas
horas valores que poderiam fomentar dezenas de projetos”.
Terra
afirma sempre pensar a cultura em termos regionais. “Não consigo não pensar
regionalmente; exemplo disso é que, nesses últimos meses, meu envolvimento com
a Ópera e também com os musicais, fez com que eu imaginasse como seria incrível
pode levar para a minha região um espetáculo tão grandioso como esse, quem sabe
qualquer momento conseguimos realizar mais esse sonho. Sempre penso
regionalmente, prova é que todos os eventos que de alguma maneira eu participei,
acabava dando ares de regional, foi assim na primeira conferencia
intermunicipal de cultura que reuniu 11 cidades e em outros tantos como o 1°
Seminário Regional do Sudoeste Paulista em Economia Criativa e Turismo que
aconteceu em novembro do ano passado”.
Participação
da sociedade
Coordenadora do Museu Paulo
Setúbal (foto), em Tatuí, e representante do SISEM (Sistema Estadual de Museus), na
Região, a artista plástica Raquel Fayad entende que “o apoio do Poder Público
nas ações culturais é fator decisivo para um desenvolvimento pleno na área
cultural. Estamos num momento especial na área da cultura na nossa cidade.
Temos o apoio do Poder Público, que a cada dia acredita mais na força deste
setor e que nos fortalece ao apoiar as nossas ações. Faço parte do conselho de
cultura de Tatuí e estamos num momento especial porque temos reunidos no
Conselho, pessoas que visam o desenvolvimento cultural e artístico da cidade.
Esta equipe deseja e acredita num futuro melhor e tem qualificações para
participar ativamente da construção de uma lei, de um plano e de um fundo
municipal de cultura”.
Para ela, que
também é diretora do ponto de cultura AMART, o que “mais deveria ser pontuado,
é a questão da participação da sociedade como fator de mudança neste processo
de desenvolvimento cultural. Este é um trabalho de todos: Poder público e
sociedade. Não basta cobrar, tem que participar”. A artista é enfática ao
afirmar que arte e cultura “podem e devem ser instrumentos de inclusão social”.
Raquel Fayad
cita inúmeras ações culturais que visam a inclusão social no município de
Tatuí: “existem vários projetos sociais na cidade, que trabalham a inclusão
social. COSC, Lar Donato Flores, Fundo Social de Solidariedade, Maçonaria,
AMART, Rotary e Lions, Clube da 3ª idade, Apodet, APAE. Nestes locais, sempre
são oferecidos cursos de artesanato, de música, de pintura, de dança, entre
outros. Cursos que visam aumentar a autoestima, o desenvolvimento de uma
habilidade, a troca e o convívio. Uma pessoa que se expressa artisticamente
participa de modo mais efetivo no seu contexto sociocultural, contribuindo de
forma produtiva e transformando o seu desenvolvimento em um constante processo
de aprendizagem e de reconstrução de suas formas de expressão”.
Raquel
ressalta ainda: “não acredito que o difícil seja levar cultura (às camadas mais
necessitadas). O difícil é atrair o interesse das camadas, não só as mais carentes,
mas da sociedade em geral. Vivemos em um mundo tão virtual e rápido que fica
difícil parar para realizar algo com as mãos, ouvir, ou mesmo para se
sociabilizar fisicamente. A troca não oferece conforto. Você precisa estar
disposto a sair de casa para produzir, se doar, seja trocando ou se expressando.
E o mundo se acostumou em tem que ter um atrativo forte que o leve, nem sempre
este atrativo sendo cultural. A cultura é a forma de vida e expressão do ser
humano e nós sempre estaremos nos transformando, mas mantendo as nossas raízes,
concepções e formações. Vejo que estamos em plena transformação. Num momento
único, mas conscientes deste caminhar, deste fazer”, finaliza a artista,
comentando sobre o segmento cultural em Tatuí. Veja matéria completa na revista Hadar deste mês: www.revistahadar.com.br
Texto: Marco Antônio
Fotos: Facebook; Jornal Integração (Museu Paulo Setúbal). Marconews
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