quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Cracolinha resiste e ainda causa transtornos a moradores

Antigos galpões da Fepasa se tornaram ponto de consumo de drogas

Barracão abandonado é frequentado por usuários de drogas


Quase quatro anos depois de denúncia feita pelo Marconews sobre a existência de uma Cracolândia em Itapetininga, pouca coisa mudou na paisagem próxima a linha férrea que corta a cidade, mais precisamente onde antes estavam os barracões da América Latina Logística (ALL), na vila Arlindo Luz, entre as vilas Paulo Ayres e Prado. O local é ponto de usuários de drogas e traficantes.
Desde 2012, pelo menos, os moradores das imediações dos barracões convivem com essa situação. Segundo uma fonte anônima, o movimento nessa área torna-se mais intenso à noite, a partir das 23 horas, e vai até de madrugada. “As pessoas parecem zumbis andando ao longo da linha do trem”, disse a fonte. É intenso também o movimento de carros, inclusive alguns modelos de luxo, que aparecem para comprar drogas. A concentração de usuários e traficantes fez com que o local fosse chamado de Cracolinha, em referência à Cracolândia que existia no centro de São Paulo.
            Ainda de acordo com uma fonte anônima, as melhorias que foram feitas no terreno, como limpeza e a construção de um acesso para facilitar a passagem até a Vila Paulo Ayres, acabaram sendo utilizadas pelos dependentes e traficantes. Há relatos de pessoas que ficam escondidas em bueiros e galerias de águas pluviais, onde podem usar drogas livremente, como também emboscar passantes incautos.
O problema vem se arrastando e nem algumas medidas adotadas pelo Poder Público, como a demolição de imóveis usados para o consumo de drogas e o isolamento dos barracões com uma cerca amenizaram o problema.
            A reportagem esteve no local e flagrou algumas pessoas no interior dos antigos barracões. Um buraco na cerca indicava ser o lugar por onde as pessoas entravam no local. Moradores dizem que evitam passar pelo local durante a noite e madrugada, mesmo quando estão a caminho do trabalho. Ainda segundo moradores, a maioria dos usuários é jovem, alguns com menos de 18 anos.

Deterioração

O Marconews voltou ao local neste mês e constatou que a situação continua a mesma. Dos anos dourados das ferrovias ao abandono, assim se encontram os barracões aonde funcionava a antiga oficina de máquinas da Estrada de Ferro Sorocabana (EFS), que depois passou à Fepasa e, nos últimos anos, para a América Latina Logística (ALL). Desde 2010, o prédio está sob responsabilidade da Prefeitura de Itapetininga, que assinou acordo com a ALL, com o compromisso de dar um destino ao imóvel, que passou por reforma.
Atualmente o prédio encontra-se sem utilidade e abandonado, servindo apenas de abrigo para usuários de drogas, alguns ainda crianças e adolescentes, além do acúmulo de lixo e do mato alto. Alguns moradores se sentem ameaçados pela presença dessas pessoas, muitos até já sofreram ameaças quando passavam pelo local para irem ao trabalho e escola. O movimento se intensifica a partir das 23h, como nos contou um morador da Vila Paulo Ayres que preferiu não se identificar. Segundo ele, desde que o prédio foi reformado, nunca foi destinado para nada útil, pelo contrário, teve uma época em que a prefeitura utilizou o barracão para armazenar pneus velhos, que depois foram levados para outro local. Ainda segundo o morador, logo após a reforma, havia um vigia e durante a noite havia iluminação, o que inibia os usuários de droga. Hoje, porém, não existe mais isso e mesmo o prédio sendo cercado de alambrado, nada impede que os usuários de drogas utilizem o local para consumo de drogas e até para fazerem sexo. Desde que passou pela reforma, o prédio não recebeu mais manutenção, e hoje além das depredações feitas pelos usuários de drogas que frequentam o local, também sofre com infiltração, mato e acúmulo de lixo e de água no pátio, o que facilita a reprodução do mosquito Aedes Aegypti, transmissor da do vírus da Dengue, Febre Chicungunya e Zika Vírus, tornando o local não só um problema social, mas também de saúde pública. Alguns moradores disseram que por várias vezes entraram em contato com a prefeitura e que somente algumas vezes foram atendidos. “Ás vezes eles vêm, recolhem o lixo, cortam o mato e até remendam o alambrado, mas não adianta muito, à noite os “nóia” voltam e começa tudo de novo”, conta a Dona Maria de 62 anos, moradora na Vila Paulo Ayres há 15 anos. Já seu Pedro, que já fez parte da Associação de Moradores do Bairro, afirma que a comunidade espera uma ação do Poder Público. “O que a gente espera, é que a prefeitura tome uma providência definitiva, pra acabar de vez com isso. Nós, moradores do bairro, não aguentamos mais esse descaso”, reclama seu Pedro, indignado com a atual situação.

Sem resposta
            Por e-mail, a reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa da Prefeitura, mas não houve resposta até o fechamento desta matéria. Veja a seguir as perguntas encaminhadas
Existe algum projeto para revitalização dos barracões? Em caso positivo, quando será implantado?

Que ações a administração municipal pode adotar para minimizar o problema da presença de usuários de drogas no local?

Existem outras áreas da cidade que apresentem o mesmo problema de concentração de usuários de drogas em um só ponto?


Colaboração e fotos: Luiz Guilherme França Rosa

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