A história do menino
pobre que conheceu o mundo
Nascido
no distrito de Morro do Alto, em Itapetininga, há 57 anos, Olivaldo Prado
(foto), mais conhecido como Vadinho, começou
a trabalhar desde cedo, assim como seus outros irmãos, para ajudar no sustento
da família, principalmente depois que seus pais se separaram e sua mãe foi trabalhar
de cozinheira em uma pensão da cidade. Mais de 40 anos depois, o menino de
família humilde se tornou um profissional conhecido e requisitado por grandes
nomes da música, como Chico Buarque. Vadinho
é um roadie, profissional que
acompanha os artistas em turnês, shows e viagens, cuidando da iluminação, do
som e de deixar tudo pronto no palco para a apresentação. Ele até afina
instrumentos. Veja agora um pouco dessa história.
Ainda
adolescente, começou a atuar no segmento de bailes e shows, com a equipe New
Tape Sound, do empresário Nelsinho, que morava na pensão e tornou-se amigo da
mãe de Vadinho, passando a frequentar
a casa da família. “A NTS tava começando a fazer os bailinhos no CRI”, conta Vadinho, referindo-se ao Clube
Recreativo Itapetiningano.
Eram
os anos 70. E a família Prado tinha acabado de chegar à cidade. “Quando
chegamos em Itapetininga, foi uma luta para arrumar trabalho. Era o ano de
1975, ou 76, por aí, e eu trabalhava no Superbom Supermercado”, lembra Vadinho.
Nelsinho
convidou Vadinho e os irmãos para irem conhecer o clube. E apesar da diferença
de idade, Vadinho não tinha nem 15
anos, “e o Nelsinho já tinha uns 20”, eles se tornaram bons amigos, chegando ao
ponto de o empresário oferecer trabalho ao então adolescente.
Trabalhando
durante a semana no supermercado, Vadinho
ajudava a fazer os bailes nos finais de semana. E foi se integrando a equipe e
outros amigos. “A gente ganhava pouco, mas se divertia muito e namorava
bastante também”. E assim foi durante três anos, inclusive viajando toda a
Região fazendo shows. Ao mesmo tempo, Vadinho
foi se tornando amigo de músicos de Itapetininga e cidades vizinhas.
São Paulo
Vadinho e Chico Buarque |
A
vida de Vadinho começou a mudar quando o conjunto Garotas de Prata, composto só
por mulheres, veio fazer um show no CRI, em 1976 – ele ajudou a descarregar os
equipamentos do conjunto – depois, ele foi para casa, tomou banho e voltou para
ficar “cuidando das meninas no camarim”. Vadinho
tinha entre 15 e 16 anos e conta que “o baile terminou as 4h30 da manhã,
ajudei a carregar o equipamento e eles passaram em casa, falaram pra minha mãe
que iam me levar, pois eu era um garoto bom”.
Com
as bênçãos da mãe, que apesar das dúvidas, deixou o filho partir, Vadinho Prado, então com 16 anos foi
para a capital. “Ela falou que eu ia descer no primeiro quarteirão, mas eu fui
mesmo”. O rapaz não sabia, mas estava prestes a iniciar uma jornada que o
levaria a conhecer alguns dos mais famosos e talentosos artistas brasileiros,
além de viajar pelo mundo e conhecer lugares como Paris, na França.
Chegando
em São Paulo, Vadinho conheceu e foi
morar na casa do músico e produtor Sidnei de Barros, que o colocou para
trabalhar com o grupo Corrente de Força (que se tornaria a banda Placa
Luminosa). “Eu nem fiquei com o Garotas de Prata, só fui com eles até São
Paulo”, relembra Vadinho. “Nos três anos
que fiquei em São Paulo, em vivi 30 anos”, lembra Vadinho.
Depois
de instalado na Terra da Garoa, ele
começou a aprender a mexer com iluminação, sempre com profissionais renomados,
o que permitiu que as portas fossem sendo abertas. “Eu fui aprendendo e
entrando no sistema; fiz Vida de Viajante, com Gonzagão e Gonzaguinha. Depois
fui trabalhar no Cine Veneza, que se tornou o Teatro Procópio Ferreira e ganhou
cinco ou seis refletores. Eu conheci e jantei com o próprio Procópio Ferreira,
com a Eva Wilma...era um plebeu no meio dos grandes”.
Vadinho conheceu, trabalhou e se tornou
amigo de Juca Chaves, de quem ganhou um relógio. “Ele gostou muito de mim”. O
jovem profissional também trabalhou na parte técnica da peça Pato com Laranja,
do ator Paulo Autran.
Em
mais uma reviravolta, Vadinho foi
fazer a iluminação da turnê Lá Vem o Brasil, descendo a Ladeira, de Moraes
Moreira, na segunda metade dos anos 70.
Rio e Bahia
O
trabalho com Moraes Moreira levou Vadinho
para o Rio de Janeiro e depois para a Bahia, onde conheceu, trabalhou e
tornou-se amigo de bandas e artistas como o Trio Elétrico de Armandinho, Dodô e
Osmar, A Cor do Som e Luiz Caldas, que era amigo de Armandinho.
Quando
estava no Rio, Vadinho comia na casa
de Armandinho. “Um dia, em 1986, eu estava almoçando e tocaram a campainha; fui
abrir e era o Luiz Caldas. Ele perguntou: Vadinho,
você por aqui? E eu respondi que almoçava na casa do Armandinho, aí ele me
disse que estava chegando para gravar o programa do Chico e Caetano e pediu
para eu buscar a banda dele no aeroporto. Eu fui, levei para o hotel e depois
para o ensaio, que acontecia no teatro Fênix, com a direção do Roberto Talma”,
lembra o roadie.
Foi
nessa ocasião que conheceu o diretor global; logo após o primeiro ensaio, Talma
convidou Vadinho a continuar
trabalhando e assim ele participou dos 12 programas da série Chico e Caetano,
apresentados por Chico Buarque e Caetano Veloso. “Eu já conhecia todos os
contrarregras que trabalhavam na Globo e ele me indicaram para o diretor,
dizendo que eu tinha muito pique”, lembra Vadinho,
sorrindo. Graças a esse programa, este itapetiningano pôde conhecer pessoas
como Elizete Cardoso e Astor Piazzola, entre outros.
Em
1988, enquanto Chico Buarque ensaiava para uma turnê após um intervalo de 25
anos, Vadinho viajou para a África,
acompanhando Gilberto Gil e outros artistas negros brasileiros em uma turnê por
vários países. O objetivo era comemorar os 100 anos do fim da escravidão no
Brasil.
“Eu
já trabalhava com o Chico e ele me liberou para viajar, pois o roadie do Gil não quis ir. Foi uma
viagem emocionante. Logo na chegada, um curandeiro veio tirar os maus espíritos,
para impedir que a escravidão retornasse à África”. Vadinho também se encantou com uma orquestra que se apresentou
antes do show de Gilberto Gil. “O Gil subiu ao palco as 11h30, mas teve de
parar de tocar às 11h45, para que eles pudessem rezar. Ao meio-dia em ponto a
oração terminou e o show prosseguiu”.
Em Londres |
De
volta ao Brasil, ele, embarcou na turnê do espetáculo Francisco, de Chico
Buarque, que rodou o mundo. “O Chico só faz turnê de cinco em cinco anos”,
conta Vadinho, que está há 20 anos
com o artista (foram cinco turnês) e neste ano de 2016, após a sexta turnê,
pretende encerrar a carreira de roadie.
Ele mostra a carteira de trabalho assinada por Marieta Severo, ex-mulher de
Chico Buarque.
Depois de mais de duas décadas de convivência e trabalho, Vadinho coleciona histórias. Ele
aprendeu, por exemplo, a afinar e até consertar o violão de Chico Buarque. Uma
das passagens mais marcantes foi a saída de um show realizado em Londres,
quando o público se aproximou do ônibus da equipe e cantou as músicas do espetáculo.
Com tantas histórias, a vida de Vadinho
Prado daria um livro: a história do menino pobre que saiu do interior de
São Paulo e viajou pelo mundo, conhecendo cidades como Londres, Paris e tantas
outras.
Texto: Marco Antonio
Fotos: Arquivo Pessoal
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