Fotógrafos
profissionais falam sobre a profissão
A foto do beijo na Times Square é o símbolo do fim da II Guerra Mundial |
Mais do que
apertar um botão e registrar a imagem desejada, a fotografia é uma profissão e
uma arte que tem entre seus pilares a sensibilidade e o olhar diferenciado do
fotógrafo profissional. Mesmo com todo o avanço tecnológico dos dias atuais, o
talento continuar sendo essencial na hora de produzir não apenas uma foto, mas
sim uma obra de arte de luz e sombra, que registra para sempre um momento na
vida de uma pessoa, uma cidade ou mesmo um país.
Uma das fotos
mais marcantes do fim da Segunda Guerra Mundial, por exemplo, foi feita quase
por acaso por Alfred Eisenstaedt, então um desconhecido auxiliar de dentista
que depois fotografaria personagens como Einstein, John Kennedy e Marilyn
Monroe.
Eisenstaedt
estava trabalhando no dia 14 de agosto de 1945 quando ouviu a notícia do fim da
guerra. Desconfiado, ele foi até a Times Square, no coração de Manhattan, e viu
a alegrai toda: todo mundo comemorava a rendição do Japão. Foi nesse momento e
nesse clima que o fotógrafo registrou um beijo que entraria para a história. O
que a enfermeira Greta Zimmer Friedman e o marinheiro George Mendonsa, segundo o próprio relato
dela, deram naquele 14 de agosto, em Nova York, sem se conhecer nem dizer seus
nomes. Um encontro nascido para o esquecimento, mas que, sem que eles
soubessem, foi imortalizado por Alfred Eisenstaedt e tornou-se um ícone que
passados mais de 70 anos, e apesar de a polêmica sobre a verdadeira identidade
do casal nunca ter acabado, está destinado a sobreviver mesmo após a morte de
seus protagonistas. Eisenstaedt, morreu em 1995. Greta Zimmer morreu aos 92 anos, em setembro de 2016, no
Estado norte-americano da Virginia. Apenas Mendonsa, um pescador aposentado de
93 anos, continua vivo.
Neste dia 8
de janeiro, é comemorado o dia do fotógrafo. Nesta matéria, através do
depoimento de profissionais da área, a revista Hadar e o blog Marconews prestam homenagem a todos que
amam a fotografia.
Privilégio
“Me sinto privilegiado em poder
registrar parte da história através das minhas imagens. Tenho a oportunidade de
conhecer lugares e pessoas incríveis com suas histórias de vida. Como fotógrafo
aprendi a olhar para o mundo de uma forma diferente, pois ao fazer um registro,
estou não só captando a imagem, mas também eternizando um momento das nossas
vidas”. A frase é de Mike Adas (foto), 38 anos, fotógrafo profissional em Itapetininga
desde os 22 nos.
Mike sempre se interessou pela
área de comunicação e imagem. “Comecei como cinegrafista aos 12 anos e como
fotógrafo e repórter fotográfico desde 2002. Por influência do meu pai, que
gostava de filmagem, comecei a fazer trabalhos como cinegrafista, mas ao entrar
na faculdade de comunicação, durante as aulas de fotografia, acabei atraído
pelo desafio de ter que contar um fato com uma imagem”.
Com 16 anos de profissão, ele
afirma que “quando comecei na fotografia já estava acontecendo a transição dos
filmes para o digital, a adaptação não foi muito difícil, pois a base técnica
de medição da fotografia continuou praticamente a mesma. Hoje a maiores diferenças
são a tecnologia de captação, a quantidade de plataformas que podemos atender e
também a quantidade de profissionais ou amadores avançados no mercado”.
Avanço tecnológico e
mercado de trabalho
“Apesar de toda a evolução tecnológica, como na qualidade das fotos
dos celulares por exemplo, o diferencial ainda é a sensibilidade e a
criatividade do fotógrafo, pois é perceptível a diferença de uma mesma imagem
batida por um profissional para a de um amador”, avalia Mike Adas sobre o
avanço tecnológico na sua profissão.
Foto marcante
Sobre sua carreira, o fotógrafo
afirma que “são muitos fatos que marcaram, mas um que tenho como exemplo do
puro fotojornalismo, é uma reportagem que eu e o jornalista Marco Antonio
fizemos com uma mãe e seus três filhos pequenos que estavam há 6 meses sem
energia elétrica na casa. Tínhamos 30 minutos para fazer a matéria, fomos na
casa, entrevistamos a mulher e para a foto, já no escuro da noite, tive que
pedir para ela segurar uma vela acesa junto com as crianças que estavam
jantando. Com todo o contexto, o resultado ficou impactante e foi capa do
jornal. Depois da matéria a luz foi paga por desconhecidos”.
Mike também avalia que pode
considerar várias de suas fotos como históricas, “uma é a da matéria a qual
descrevi da mãe e as crianças sem luz há 6 meses e posso citar uma do meio
político, que foi a visita do então presidente Lula em Tatuí. Das muitas fotos
que fiz no evento de entrega de ambulância do Samu, a imagem de capa acabou
sendo a caminhada do Presidente, junto com o prefeito Gonzaga e a então
ministra Dilma Roussef”.
Meio século de
profissão
Prestes a completar meio século
de profissão (no próximo dia 25 de janeiro), José Trindade Xavier, 65 anos,
pode dizer que herdou a paixão pela fotografia dos pais e avós que, segundo
ele, viviam tirando fotos. “Já com meus cinco anos andava com uma câmera
fotográfica tipo caixão da marca "Big Box" fabricada na época (Anos
50) pela empresa carioca "Exacta". Sempre estava com a câmera
arriscando uns clicks até que no final do ano de 1967, adquiri minha primeira câmera
profissional uma "Ashai Pentax" e ao 25 de janeiro de 1968 fiz o meu
primeiro trabalho. Logo após adquiri uma câmera profissional estilo caixão da
marca Yashica (tenho até hoje ambas as câmeras)”.
Diferenças
Trindade afirma que ser fotógrafo
hoje “é completamente diferente” de quando começou. “Naquele tempo, para ser
fotógrafo realmente, você tinha que dominar os três pilares da fotografia: ISO
(sensibilidade à luz), abertura e velocidade, além de precisar ter conhecimento
técnico do funcionamento das câmeras”.
Para ele, “a tecnologia sempre é
bem-vinda porque facilita em muito o desempenho em qualquer área. No caso da
fotografia realmente hoje é fácil ser fotógrafo pois as câmeras no modo
automático entregam a foto pronta. Mas mesmo assim ainda tem lugar para o
verdadeiro profissional que tem o seu "olhar" diferenciado sempre
procurando buscar ângulos inusitados e usando da criatividade que só se adquire
com muita prática. Por isso cada fotógrafo é um artista que tem seu estilo
próprio, sua marca que o difere dos demais”.
Concurso
internacional
Um fato marcante em sua carreira,
segundo Trindade, foi a conquista do segundo lugar em um concurso internacional
promovido pela Fujifilm, em 1979, com a foto intitulada Tempestade em copo d’água.
O fotógrafo
afirma ainda que ‘na minha concepção de fotografia eu considero que todas as
fotos são históricas pois elas registram um momento único que não se repetirá.
É difícil especificar uma em especial ao longo desses quase 50 anos de carreira
onde registrei várias inaugurações, posse de dois presidentes (Sarney e
Collor), enfim não consigo realmente definir uma apenas entre tantas”.
José Trindade
também foi pioneiro ao montar, em 1972, o primeiro laboratório de fotografia a
cores do Estado de São Paulo. Em 1982 produziu um filme em Super 8 com três
horas de duração para o município de São Miguel Arcanjo. “Este foi um fato
inusitado na época, e recebi diploma de reconhecimento das mãos do então
governador, José Maria Marin”. Ele também realizou workshop de fotografia na Fundação Karnig Bazarian. Na década de 90
ganhou cinco troféus Jacob Bazarian de Imprensa, na categoria fotojornalismo,
promovido pela Ajori (Associação dos Jornalistas e radialistas de Itapetininga);
também foi colunista de vários veículos de imprensa e editor da revista Visual
por 10 anos. Trindade também é professor de violino e maestro.
Texto: Marco Antonio Vieira de Moraes
Fotos: Alfred Eisenstaedt, Mike Adas, José Trindade
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