quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Meninos e meninas vestem o que querem

Mais importante do que a roupa é ter saúde, educação e comida

Importa a cor da roupa quando a família não tem nem luz na casa?


          O Brasil e o mundo estão mudando com uma velocidade jamais vista. Mas esta mudança é para melhor ou para o pior? Esta é uma pergunta difícil de responder, já que vivemos os fatos à medida que a história está sendo escrita e, talvez por estarmos no Olho do Furacão, por assim dizer, não tenhamos o distanciamento e a imparcialidade necessários para fazer uma análise independente do momento que vivemos.
          O avanço tecnológico é inegável, facilitando a vida em muitos sentidos. Por outro lado, a humanidade corre o sério risco de tornar-se totalmente dependente desta tecnologia, perdendo a principal característica que a define: a capacidade de empatia com o semelhante, de emocionar-se, de ser, no sentido mais elevado da palavra, humano!
          Hoje, tudo está mais fácil, mais rápido. Até mesmo tirar a vida de uma pessoa pode ser feito à distância, com um tiro de fuzil, por exemplo. Atiradores de elite podem acertar um alvo a centenas de metros. São treinados para isso.
          Mas, nos dias atuais, você não precisa ser um soldado altamente treinado para acertar um alvo. Em algumas partes do Brasil – e do mundo – bandidos têm acesso à armamento pesado, que muitas vezes superam as armas da polícia local, e não hesitam em usá-lo contra a população. Basta ver os casos de assaltos a agências bancárias pelo interior do país, geralmente em pequenos municípios que mal têm policiamento. Ou mesmo os famosos arrastões que fecham vias públicas.
          Mas existe uma arma ainda mais poderosa, capaz de destroçar a vida de uma pessoa. Uma arma que está, literalmente, ao alcance dos dedos: a internet e as redes sociais.
          A rede mundial de computadores é sem dúvida um espaço livre, território perfeito para a liberdade de expressão. Mesmo que não concordemos com muitas opiniões expressas on line nas redes sociais, é importante e saudável que hajam opiniões divergentes e contraditórias, isto faz com que ampliemos nossos pensamentos. A internet veio para ser uma ferramenta, um meio para unir as pessoas ao redor do globo, mas ela não é um fim em si; é um canal para você se conectar com o mundo. Assim como o são as redes sociais. Não se pode confundir liberdade de expressão com o direito de agressão, de massacre virtual, que é o que ocorre em muitas situações.
          Nem tudo que é publicado nas redes sociais é verdade; nem tudo é mentira, e poucas coisas deveriam gerar polêmicas. Hoje, quase tudo vira polêmica. Você corre o risco, se postar que hoje está um lindo dia ensolarado, de alguém polemizar com você porque a pessoa prefere chuva. A questão é: o que isso muda na vida das pessoas? Isso afetará a rotação do planeta? Acabará com a fome do mundo? Polemizar sobre assuntos corriqueiros pode esvaziar a própria polêmica, que perderá força.
          Muitos acreditam que a grande imprensa está a serviço de interesses escusos, creem em teorias de conspirações e buscam duvidar de tudo e todos, mas quem garante que a fonte de onde tiram suas teorias não é manipulada?
Crianças recolhendo lixo em Itapetininga

          Por isso, criar polêmica em torno do que uma criança deve vestir, como se isso fosse uma questão de segurança nacional, parece meio fora de foco. Mais importante do que a cor da roupa, é saber se a criança tem o que vestir, se tem saúde, educação, família, se está na escola, se tem comida a mesa e se come todos os dias alimentos de boa qualidade. Claro que todos podem vestir a cor que quiserem (logicamente aqueles que podem comprar roupas). No final das contas, são os pais que decidem o que o filho(a) vestirá nos primeiros anos de vida. Mas criar políticas de inserção social, que tornem as crianças mais solidárias, tolerantes e participativas, proteger a infância e a juventude das drogas, da violência, do abuso, tudo isso é obrigação do Estado e da sociedade como um todo. De que adianta polemizar em torno da cor da roupa, se a criança não tem o que comer, não tem escola, vive em condições desumanas, sem segurança e saneamento básico?
          Menos polêmicas desnecessárias, mais ações e respeito com o ser humano, isto é o que realmente importa!

Texto: Marco Antonio
Fotos: Mike Adas; arquivo

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