Rompimento de barragem
expõe falhas do país
Trabalho de resgate das vítimas da tragédia
Mais uma vez
o Brasil é sacudido pela notícia de uma tragédia envolvendo o rompimento de uma
barragem de rejeitos de minérios e mais uma vez pessoas inocentes pagam com a
vida pelas falhas de um sistema e de uma sociedade que parece não aprender nem
com os próprios erros.
Claro que a
perda de vidas é uma tragédia incalculável porque não apenas a pessoa que morre
é destruída, mas toda a sua história, seus valores, todo o seu trabalho é
perdido, assim como sua família e amigos são devastados pela dor.
Três anos
depois do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, o país vê, com a
sensação de dejá vu, a mesma situação
se repetir, envolvendo a mesma empresa. E parece que nada mudou.
Terceira
maior empresa em valor de mercado do Brasil, a Vale agora é acusada de
incompetência e descaso no que diz respeito às suas barragens. Muitas vozes se
levantam contra a companhia. E com razão!
Mas este
problema vai muito além de uma empresa ou setor. Nos últimos dias, fomos
bombardeados com inúmeras informações. Logo no começo, a Vale declarou que a
barragem do Córrego do Feijão estava inativa, com pouco rejeito de minério e o
que material estava mais seco.
O presidente
da empresa, Fabio Schvartsman, afirmou ter laudos feitos no começo de janeiro e
que atestavam a estabilidade da barragem, mas o que ele não contou na ocasião
foi que a Vale já tinha solicitado às autoridades competentes autorização para
mexer na barragem, retirando o que os técnicos chamam de produto fino. Essa
informação veio dias depois, através de ambientalistas, que se posicionaram
contra a reativação da barragem, mas foram voto vencido. Segundo esses
ambientalistas, representantes de órgãos fiscalizadores de Minas Gerais se
posicionaram do lado da empresa, apesar dos avisos do que poderia ocorrer.
Parece que no
Brasil, quem deveria fiscalizar com rigor não cumpre sua função por uma série
de motivos, incluindo a própria falta de infraestrutura para que a fiscalização
seja feita adequadamente. Isso sem falar na pressão econômica e política
exercida por grandes empresas, já que muitos políticos são ligados a elas.
Agora, depois da perda de muitas vidas, ficamos sabendo de projetos que poderiam
melhorar a fiscalização, mas ou estão engavetados ou tramitam há anos no
Congresso, em um ritmo no mínimo capenga
Agora se fala
em tomar medidas duras, enrijecer leis. A Vale é pintada quase como um demônio.
Mas essa conta não pode ser paga pela empresa sozinha! O Estado brasileiro, na
medida que não cumpre o seu papel de fiscalizar e proteger o povo, também é
responsável pela tragédia. A própria sociedade brasileira, quando faz vista
grossa aos problemas, tem sua parcela de culpa.
Uma
jornalista da TV Globo disse que no Brasil é comum se colocar TRANCA na porta
depois que o ladrão arromba e entra. E ela tem razão. Parece ser da nossa
cultura rejeitar a prevenção e esperar para agir depois que o pior acontece.
Isto é uma coisa que precisa mudar.
O país
precisa amadurecer, encarar de frente seus problemas e buscar soluções. Não dá
mais para ser a Terra do jeitinho,
porque este chamado jeitinho já
custou muito ao país. E o preço mais alto que pagamos é a vida de brasileiros
inocentes, que só querem viver de maneira digna.
Texto: Marco Antonio Vieira de Moraes
Foto: Adriano Machado - Reuters
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