Turistas estrangeiros
impulsionam o setor
Praia de jericoacoara, no Ceará
Você já deve
ter ouvido falar que Deus é brasileiro! Afinal, um país tão rico de recursos
naturais, com paisagens exuberantes e vastas e um povo (ainda) acolhedor, só
pode ser mesmo a casa de um Ser Superior. Talvez seja por isso que muitos
turistas estrangeiros visitam o Brasil, apesar da crise econômica, da
infraestrutura precária e da violência nossa de cada dia. Muita gente vem
conhecer as belezas deste verdadeiro paraíso tropical.
E esses
visitantes estão vindo cada vez em maior número, deixando alguns bilhões de
dólares por aqui e colaborando para manter a roda da economia girando. Em
contrapartida, apesar de uma leve queda, registrada em junho do ano passado, os
gastos dos brasileiros no exterior foram quase 9% superiores ao mesmo período
de 2017, segundo o Ministério do Turismo.
Os dados
demonstram que, apesar de todos os problemas que existem em várias partes do
mundo, as pessoas continuam viajando e gastando, fazendo do turismo uma peça
importante na engrenagem econômica de vários países.
Injetando dinheiro no
país
A receita gerada pelo turismo
internacional no Brasil, de janeiro a junho de 2018, registrou alta de 5,94% na
comparação com o 1º semestre de 2017. Em visita a destinos brasileiros no
período, os viajantes estrangeiros deixaram no País US$ 3,24 bilhões, US$ 180
milhões a mais que nos primeiros seis meses do ano anterior (US$ 3,06 bi). Os
dados são do Banco Central do Brasil.
“Os dados reforçam que o turismo é um vetor da economia e
como tal deve ser tratado”, comentou o ex-ministro do Turismo, Vinicius
Lummertz. A variação positiva acompanha a alta na chegada de turistas
internacionais no período. A entrada de turistas estrangeiros no Brasil
aumentou 8% no primeiro semestre de 2018 em comparação com os primeiros seis meses de
2017: foram 3,15 milhões de visitantes internacionais, segundo números
preliminares divulgados pelo Ministério do Turismo com base nos dados da
Polícia Federal.
Cinco dos seis primeiros meses de
2018 tiveram receita superior à do ano anterior: janeiro (+17,8%), fevereiro
(14,2%), abril (19,6%), maio (2,3%) e junho (0,5%). Já a despesa cambial
turística, valor gasto pelos brasileiros no exterior, caiu em junho. Passou de
US$ 1,51 bilhão (2017) para US$ 1,49 bi, o que corresponde a -1,5%. No
acumulado do ano, no entanto, a despesa cambial foi de US$ 9,57 bilhões
correspondendo a um percentual de 8,72% superior ao mesmo período de 2017 (US$
8,81 bilhões).
Potencial do país e
investimento
Para Fabiano
Orso, 44 anos, gerente geral do Hotel Ibis em Tatuí, o Brasil tem um grande
potencial a ser explorado no segmento do turismo, mas há muito ainda a ser
feito na área, como investimentos nas áreas de infraestrutura e segurança.
“O Brasil é
um país com um potencial de turismo enorme ainda não explorado em sua
totalidade. Algumas regiões possuem o turismo como sua principal fonte de
renda. A tecnologia impulsiona os destinos turísticos e somos vistos no mundo
todo. Sem contar com o turismo de negócios que movimenta as grandes cidades,
como São Paulo, por exemplo, sendo cada vez mais destino das grandes redes
hoteleiras internacionais, gerando novos empregos para o setor de serviços”,
afirma Orso. Ele também aponta o que precisa ser feito para estimular o setor:
“investimento em segurança e infraestrutura são fundamentais para alavancar o
mercado turístico. Desenvolver organizações que fomentem os destinos e seus
atrativos e organize os interesses públicos e privados, além da criação de
políticas públicas que regularizem as atividades turísticas e seus
desdobramentos. Além disso, receber o turista inclui a capacitação dos
profissionais do turismo, do comercio e serviços locais. Além da educação da
população para que ela possa valorizar, indicar, conhecer e principalmente
frequentar os pontos turísticos de sua cidade ou região”.
Futuro
Vista aérea do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro |
O gerente vê
com otimismo o segmento nos próximos anos. “As pessoas têm tido maior interesse
e possibilidade de viajar, conhecer lugares novos e ter novas experiências.
Acredito que algumas regiões podem atingir seu máximo quanto a demanda e oferta
como outras regiões ainda possuem muito a ser explorado. O turismo e seus
impactos precisam ser encarados de forma sustentável para atender a necessidade
de todos. Além disso há novos movimentos turísticos que fogem do convencional,
abrindo outros nichos de mercado”.
Orso ressalta
ainda que “a experiência do turista se torna completa quando ele sente-se
seguro e quando encontra infraestrutura que o permita conhecer os lugares para
que possa extrair o máximo de sua viagem. O investimento em segurança e
infraestrutura é importante também para os profissionais do turismo que
geralmente possuem horários de trabalho que fogem do convencional pois se
adequam a necessidade do turista. Muitos precisam sair cedo de suas casas, ou
voltar tarde de seus trabalhos e precisam de transporte púbico adequado e
segurança além de outros aspectos que envolvem o dia a dia de uma cidade”.
O gerente
avalia que “o brasileiro é reconhecido como um povo muito hospitaleiro,
anfitrião por natureza. Aquele “jeitinho
brasileiro”, de levar vantagem, vai dando espaço para profissionais
capacitados e trabalhos de conscientização e educação para a população quanto a
importância de receber bem um turista. A hotelaria nacional vem se mostrando
preparada para atender à crescente demanda de turistas”.
Exterior
Falando sobre
os gastos dos brasileiros no exterior, que apresentaram pequena queda em junho
do ano passado, mas mantém o crescimento ao longo do ano, Fabiano Orso afirma
que “a insegurança na economia fez com que o brasileiro repensasse seus custos
e periodicidade de suas viagens. O aquecimento da economia e a valorização da
nossa moeda devem ser fatores importantes para essa retomada”.
O gerente
acredita ainda que “o turismo precisa deixar de ser encarado como uma forma
alternativa de renda. Se bem estruturado através do poder público e privado, o
turismo pode ser responsável pelo desenvolvimento de atividades profissionais
que envolvam a comunidade, os interesses sociais, econômicos e produtivos de
uma região. Além, claro, do forte apelo
cultural que envolve o turismo. Viajar é conhecer a história dos lugares, logo
preservar a história é fundamental para gerar demanda turística”
Crescimento sólido
Maior
operadora de turismo da América Latina, a CVC, empresa fundada no começo da
década de 70, na cidade de Santo André, no ABC paulista, cresceu 10,2% entre
2017 e 2018. A informação é da assessoria de imprensa da operadora.
De acordo com
a empresa, “as famílias brasileiras já incorporaram o hábito da viagem na cesta
de consumo e a experiência da CVC mostra que os clientes adaptam a viagem ao
seu orçamento. Ou seja, o “destino dos sonhos” está sendo
substituído, atualmente, pelo “destino que cabe no bolso”, e neste
sentido os destinos turísticos que oferecem a melhor relação custo x benefício
ganham destaque”.
Ainda segundo
a companhia, o Nordeste brasileiro, que possui destinos como Porto Seguro,
Maceió, Fortaleza, Natal e Porto de Galinhas "lidera o ranking de destinos mais
buscados entre os clientes”.
Foco é turismo
interno
O turismo
interno representa a maior fatia no bolo de operações da empresa. “Cerca de 60%
da movimentação da operadora se refere à viagens dentro do Brasil e 40% para
viagens ao exterior. Em momentos com alta do dólar, como o atual, essa
movimentação gira em torno de 70% para destinos nacionais e 30% para destinos
internacionais, ou seja, não apresenta uma queda brusca e nem uma migração
considerável, apesar de os destinos brasileiros ganharem no quesito preferência
nacional”, afirma a assessoria da empresa.
Estratégias
Ainda segundo a assessoria, a
empresa adotou estratégias que alavancaram o seu crescimento, como: renegociações
de preços e tarifas com fornecedores no Brasil e no exterior, junto a
companhias aéreas, hotéis e resorts, empresas de receptivo e passeios, para
reverter descontos aos consumidores; promoção de dólar reduzido - a CVC tem
feito promoções com câmbio reduzido, para promover viagens para a Europa, cuja
procura está mais alta em comparação aos EUA, por exemplo.
A operadora também optou pelo financiamento
sem juros da viagem em até 15 vezes iguais, em reais e parcelas
fixas, nos cartões de crédito Banco do Brasil ou em até 12x iguais
com entrada para 60 dias, para embarques a partir de dezembro. Além disso, “em
tempos de dólar alto, o consumidor também utiliza pontos de programas de
fidelidade para adquirir pacotes de viagens – os clientes da
Livelo, por exemplo, programa de fidelidade criado em parceria pelo
Banco Bradesco e Banco do Brasil, já estão resgatando seus pontos nas
mais de 1.200 lojas da CVC no Brasil, para emissão de bilhetes aéreos
junto a qualquer companhia aérea do mundo, mas também para efetuar diárias de
hospedagens, locação de carro, seguro viagem, intercâmbio, passeios, cruzeiros
marítimos, para viagens dentro ou fora do Brasil”. Outra iniciativa é o
parcelamento da viagem no boleto, o que, conforme a CVC, “não compromete o
limite do cartão”.
A operadora informou que, no
último trimestre de 2018, “o parcelamento das compras em boleto bancário na CVC
aumentou mais de 30%. No mesmo período do ano anterior esse número era em torno
de 25%”.
Mudanças
Em portaria baixada em dezembro
último, o Ministério do Turismo determina que, a partir deste ano, “só
serão reconhecidas como regiões turísticas aquelas que contarem com instância
de Governança Regional, Conselhos Municipais de Turismo ativos e, pelo menos
um prestador de serviço inscrito no Cadastur, serviço de cadastro de pessoas
físicas e jurídicas que prestam serviços no Turismo”
Os três novos critérios foram
publicados no Diário Oficial da União, na Portaria Nº 192. A ideia é estimular
a participação da sociedade na definição, implantação e acompanhamento das
políticas públicas do turismo, por meio do Programa de Regionalização do
Turismo - PRT, que seguem o princípio da gestão descentralizada.
“A Portaria Nº 192 é fruto de uma
série de discussões que tivemos com interlocutores estaduais do Programa
de Regionalização, ao longo do ano. Entendemos que o PRT estava maduro o
suficiente para avançar”, comentou o Diretor do Departamento de Ordenamento do
Turismo, Rogério Cóser. A próxima etapa, de acordo com o ministério, “é de
sensibilização e mobilização dos interlocutores estaduais e gestores municipais
para adequação das novas regras para atualização do Mapa do Turismo Brasileiro”.
Além dos três novos critérios,
ficam mantidas exigências previstas na portaria anterior. Para integrar o Mapa
do Turismo Brasileiro, os municípios que compõem as regiões turísticas devem
possuir características similares e/ou complementares e uma identidade
histórica, cultural, econômica e/ou geográfica em comum. Os municípios devem
ser limítrofes e/ou próximos uns aos outros e comprovar a existência de órgão
ou entidade com orçamento destinado ao setor.
Texto: Marc Antonio
Fotos: Ricardo Rollo (Embratur); Ministério do Turismo
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