sexta-feira, 5 de junho de 2020

Desmatamento cresce na Amazônia

Em 2019, área desmatada foi de quase dois mil campos de futebol

O fogo é usado para desmatar áreas

            O Dia Mundial do Meio Ambiente é comemorado no dia 5 de junho. Foi criado por ocasião da Conferência de Estocolmo, organizada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1972.
            Mas, enquanto no resto do mundo as emissões de gases resultantes da queima de combustíveis fósseis tiveram redução expressiva, devido principalmente ao isolamento social como forma de desacelerar a pandemia do novo coronavírus, no Brasil acontece o contrário: o desmatamento vem aumentando desde 2019, principalmente na região Amazônica. E isto contribui para o aumento na emissão de gases.
            O desmatamento das matas brasileiras afeta principalmente a Amazônia, que perdeu por dia, em média, 2.110 hectares de florestas em 2019, segundo documento divulgado no final de maio pelo projeto MapBiomas, que reúne especialistas em várias áreas, desde o uso da terra até o sensoriamento remoto, entre outras.
            Segundo o projeto, a área desmatada na Amazônia é “equivalente a 1,9 mil campos de futebol com medidas da Fifa. O bioma foi o mais devastado do país, representando 63% dos 3.339 hectares derrubados por dia no Brasil. “Somando todos os biomas, apenas 0,5% da área de desmatamento detectada em 2019 está dentro da legalidade”, de acordo com Relatório Anual de Desmatamento, organizado pelo projeto MapBiomas

Destaques
Ainda de acordo com o relatório, em 2019, foram desmatados em média 3.339 ha por dia ou 139 ha por hora no Brasil. Amazônia e Cerrado somam 96,7% da área desmatada em 2019. Além disso, a Amazônia perdeu em média 2.110 hectares por dia ou 87,92 ha por hora; o Cerrado perdeu em média 1.119,6 hectares por dia ou 46,65 ha por hora; apenas 0,2% do total de alertas e 0,5% da área de desmatamento detectada em 2019 estão dentro da legalidade; 15,6% do desmatamento em 2019 ocorreu em terras indígenas e unidades de conservação.
A velocidade média máxima de desmatamento para um único evento de desmatamento foi alcançada em uma área de 1.148 hectares no município de Jaborandi (BA). Ela foi desmatada entre os dias 8 e 27 de maio de 2019, alcançando uma média de 60 ha por dia O relatório destaca que os dados de desmatamento do MapBiomas devem ser usados com cautela se comparados aos dados oficiais de desmatamento (como o do sistema Prodes, responsável pela detecção oficial de desmate no Brasil). O Sistema Prodes Amazônia, por exemplo, emite alerta para áreas devastadas acima de 6,25 hectares. O Prodes Cerrado emite alerta para áreas acima de 1 hectare. O Atlas Mata Atlântica, 3 hectares. Já o MapBiomas monitora área de 0,3 hectare.

Alertas batem recorde
Segundo o projeto, dados oficiais do governo indicam que, em 2020, os sinais de degradação do meio ambiente seguem em alta. “Os alertas de desmatamento na Amazônia bateram recorde no primeiro trimestre de 2020”, afirma o documento, baseado em dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Ainda de acordo com o projeto MapBiomas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2020 foram emitidos alertas para 796,08 km² da Amazônia, aumento de 51,45% em relação ao mesmo período de 2019, quando houve alerta para 525,63 km². Em 2018 foram 685,48 km²; em 2017 foram 233,64 km² e em 2016 foram 643,83 km².
Os alertas de desmatamento servem para embasar ações de fiscalização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Já os dados oficiais de desmatamento são do Programa de Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite (Prodes), divulgados anualmente.

Fala do ministro
O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, afirmou na reunião ministerial do dia 22 de abril, que o governo deveria aproveitar o momento em que o foco da sociedade e da mídia está voltada para o novo coronavírus para mudar regras que podem ser questionadas na Justiça, conforme vídeo divulgado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Celso de Mello.
Segundo Salles, seria hora de fazer uma “baciada” de mudanças nas regras ligadas à proteção ambiental e à área de agricultura e evitar críticas e processos na Justiça. "Tem uma lista enorme, em todos os ministérios que têm papel regulatório aqui, para simplificar. Não precisamos de Congresso", disse o ministro do Meio Ambiente.
            Depois da divulgação do vídeo, o ministro se justificou em uma rede social. “Sempre defendi desburocratizar e simplificar normas, em todas as áreas, com bom senso e tudo dentro da lei. O emaranhado de regras irracionais atrapalha investimentos, a geração de empregos e, portanto, o desenvolvimento sustentável no Brasil”, disse Salles.

Avanço no desmatamento e a emissão de gases
As emissões de gases de efeito estufa devem subir entre 10% e 20% no Brasil em 2020 em comparação com 2018, último ano de dados disponíveis. A análise feita pelo Observatório do Clima coloca o país na contramão de outras nações. A expectativa é de que a recessão causada pela pandemia de Covid-19 leve a uma queda de 6% na emissão destes gases no planeta neste ano.
A razão para que o Brasil contrarie a tendência mundial é o forte aumento no desmatamento da Amazônia, segundo nota técnica do Sistema de Estimativas de Emissão de Gases de Efeito Estufa (SEEG) do Observatório do Clima divulgada na segunda quinzena de maio.
De acordo com o documento, as emissões decorrentes do desmatamento serão 29% maiores em 2020 considerando a média dos últimos cinco anos nos meses de maio a julho. Esse aumento deve compensar a queda de emissões nos setores de energia e na produção industrial.
A organização estima que se o desmatamento em maio, junho e julho for semelhante ao do ano passado neste mesmo período, as emissões na Amazônia podem ser 51% maiores do que em 2018 – o desmatamento é calculado entre agosto de um ano e julho do ano seguinte.
O setor de transportes, afetado pela pandemia, principalmente nos transportes aéreo e no individual de passageiros, teve queda baixa de 1% nas emissões – o consumo de diesel no transporte de cargas teve aumento.

Situação preocupante
            Para o engenheiro ambiental José Maurício Del Fiol Neto, o avanço do desmatamento na Amazônia é uma situação “muito preocupante, principalmente por se tratar de desmatamento irregular, ou seja, sem avaliação dos órgãos ambientais, autorização e posterior compensação ambiental, dessa totalidade de área desmatada, grande parte está dentro de terras indígenas ou de áreas de proteção ambiental o que é outro fator agravante.”.
            O engenheiro acredita que há relação entre este aumento expressivo e a política ambiental do atual governo. “Há relação sim, os principais órgãos e entidades ambientais confirmam essa relação, através da área desmatada”.
            Del Fiol observa que a fala do ministro Ricardo Salles na reunião de 22 de abril “foi muito infeliz nesse comentário, sendo que apesar do foco maior da mídia ser o coronavírus, a imprensa exerce papel muito importante na parte ambiental, com certeza mudanças nas regras ambientais não vão passar despercebidas e serão repercutidas largamente pela imprensa e ONGS”.

Mudanças
            Del Fiol avalia que a pandemia deve provocar mudanças no comportamento da sociedade, inclusive na relação com o Meio Ambiente. “Acredito que já está ocorrendo: nesse momento as pessoas estão com mais tempo para refletir e fazer autocriticas sobre em quais aspectos podem melhorar e isso acaba incluindo comportamentos ambientais mais sustentáveis”.

Leia matéria completa na revista Hadar (www.revistahadar.com.br) 

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