Em 2019, área desmatada foi de quase dois mil campos de
futebol
O fogo é usado para desmatar áreas
O Dia
Mundial do Meio Ambiente é comemorado no dia 5 de junho. Foi criado por
ocasião da Conferência de Estocolmo, organizada pela Organização das Nações
Unidas (ONU) em 1972.
Mas, enquanto
no resto do mundo as emissões de gases resultantes da queima de combustíveis
fósseis tiveram redução expressiva, devido principalmente ao isolamento social
como forma de desacelerar a pandemia do novo coronavírus, no Brasil acontece o
contrário: o desmatamento vem aumentando desde 2019, principalmente na região
Amazônica. E isto contribui para o aumento na emissão de gases.
O
desmatamento das matas brasileiras afeta principalmente a Amazônia, que perdeu
por dia, em média, 2.110 hectares de florestas em 2019, segundo documento
divulgado no final de maio pelo projeto MapBiomas, que reúne especialistas em
várias áreas, desde o uso da terra até o sensoriamento remoto, entre outras.
Segundo o
projeto, a área desmatada na Amazônia é “equivalente a 1,9 mil campos de
futebol com medidas da Fifa. O bioma foi o mais devastado do país,
representando 63% dos 3.339 hectares derrubados por dia no Brasil. “Somando
todos os biomas, apenas 0,5% da área de desmatamento detectada em 2019
está dentro da legalidade”, de acordo com Relatório Anual de Desmatamento,
organizado pelo projeto MapBiomas
Destaques
Ainda de acordo com o relatório,
em 2019, foram desmatados em média 3.339 ha por dia ou 139 ha por
hora no Brasil. Amazônia e Cerrado somam 96,7% da área desmatada
em 2019. Além disso, a Amazônia perdeu em média 2.110 hectares por dia ou
87,92 ha por hora; o Cerrado perdeu em média 1.119,6 hectares por dia ou
46,65 ha por hora; apenas 0,2% do total de alertas e 0,5% da área de
desmatamento detectada em 2019 estão dentro da legalidade; 15,6% do
desmatamento em 2019 ocorreu em terras indígenas e unidades de
conservação.
A velocidade média máxima de
desmatamento para um único evento de desmatamento foi alcançada em
uma área de 1.148 hectares no município de Jaborandi (BA). Ela foi
desmatada entre os dias 8 e 27 de maio de 2019, alcançando uma média de 60 ha
por dia O relatório destaca que os dados de desmatamento do MapBiomas devem ser
usados com cautela se comparados aos dados oficiais de desmatamento (como o do
sistema Prodes, responsável pela detecção oficial de desmate no Brasil). O
Sistema Prodes Amazônia, por exemplo, emite alerta para áreas devastadas acima
de 6,25 hectares. O Prodes Cerrado emite alerta para áreas acima de 1 hectare.
O Atlas Mata Atlântica, 3 hectares. Já o MapBiomas monitora área de 0,3
hectare.
Alertas batem recorde
Segundo o projeto, dados oficiais
do governo indicam que, em 2020, os sinais de degradação do meio ambiente
seguem em alta. “Os alertas de desmatamento na Amazônia bateram recorde no
primeiro trimestre de 2020”, afirma o documento, baseado em dados do Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Ainda de acordo com o projeto
MapBiomas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2020 foram emitidos
alertas para 796,08 km² da Amazônia, aumento de 51,45% em relação ao mesmo
período de 2019, quando houve alerta para 525,63 km². Em 2018 foram 685,48 km²;
em 2017 foram 233,64 km² e em 2016 foram 643,83 km².
Os alertas de desmatamento servem
para embasar ações de fiscalização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e
dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Já os dados oficiais de desmatamento
são do Programa de Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite
(Prodes), divulgados anualmente.
Fala do ministro
O ministro do Meio Ambiente,
Ricardo Salles, afirmou
na reunião ministerial do dia 22 de abril, que o governo deveria
aproveitar o momento em que o foco da sociedade e da mídia está voltada para o
novo coronavírus para mudar regras que podem ser questionadas na Justiça,
conforme vídeo divulgado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Celso
de Mello.
Segundo Salles, seria hora de
fazer uma “baciada” de mudanças nas regras ligadas à proteção ambiental e à
área de agricultura e evitar críticas e processos na Justiça. "Tem uma
lista enorme, em todos os ministérios que têm papel regulatório aqui, para
simplificar. Não precisamos de Congresso", disse o ministro do Meio
Ambiente.
Depois da
divulgação do vídeo, o ministro se justificou em uma rede social. “Sempre
defendi desburocratizar e simplificar normas, em todas as áreas, com bom senso
e tudo dentro da lei. O emaranhado de regras irracionais atrapalha
investimentos, a geração de empregos e, portanto, o desenvolvimento sustentável
no Brasil”, disse Salles.
Avanço no desmatamento e a emissão de gases
As emissões de gases de efeito
estufa devem subir entre 10% e 20% no Brasil em 2020 em comparação com 2018,
último ano de dados disponíveis. A análise feita pelo Observatório do Clima
coloca o país na contramão de outras nações. A expectativa é de que a recessão
causada pela pandemia de Covid-19 leve a uma queda de 6% na emissão destes
gases no planeta neste ano.
A razão para que o Brasil
contrarie a tendência mundial é o forte aumento no desmatamento da Amazônia,
segundo nota técnica do Sistema de Estimativas de Emissão de Gases de Efeito
Estufa (SEEG) do Observatório do Clima divulgada na segunda quinzena de maio.
De acordo com o documento, as
emissões decorrentes do desmatamento serão 29% maiores em 2020 considerando a
média dos últimos cinco anos nos meses de maio a julho. Esse aumento deve
compensar a queda de emissões nos setores de energia e na produção industrial.
A organização estima que se o
desmatamento em maio, junho e julho for semelhante ao do ano passado neste
mesmo período, as emissões na Amazônia podem ser 51% maiores do que em 2018 – o
desmatamento é calculado entre agosto de um ano e julho do ano seguinte.
O setor de transportes, afetado
pela pandemia, principalmente nos transportes aéreo e no individual de
passageiros, teve queda baixa de 1% nas emissões – o consumo de diesel no
transporte de cargas teve aumento.
Situação preocupante
Para o
engenheiro ambiental José Maurício Del Fiol Neto, o avanço do desmatamento na
Amazônia é uma situação “muito preocupante, principalmente por se tratar de
desmatamento irregular, ou seja, sem avaliação dos órgãos ambientais, autorização
e posterior compensação ambiental, dessa totalidade de área desmatada, grande
parte está dentro de terras indígenas ou de áreas de proteção ambiental o que é
outro fator agravante.”.
O
engenheiro acredita que há relação entre este aumento expressivo e a política
ambiental do atual governo. “Há relação sim, os principais órgãos e entidades
ambientais confirmam essa relação, através da área desmatada”.
Del Fiol
observa que a fala do ministro Ricardo Salles na reunião de 22 de abril “foi
muito infeliz nesse comentário, sendo que apesar do foco maior da mídia ser o
coronavírus, a imprensa exerce papel muito importante na parte ambiental, com
certeza mudanças nas regras ambientais não vão passar despercebidas e serão
repercutidas largamente pela imprensa e ONGS”.
Mudanças
Del Fiol
avalia que a pandemia deve provocar mudanças no comportamento da sociedade,
inclusive na relação com o Meio Ambiente. “Acredito que já está ocorrendo:
nesse momento as pessoas estão com mais tempo para refletir e fazer autocriticas
sobre em quais aspectos podem melhorar e isso acaba incluindo comportamentos
ambientais mais sustentáveis”.
Leia matéria completa
na revista Hadar (www.revistahadar.com.br)
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