Neste dia 5
de maio, é comemorado o dia do Expedicionário e do ex-combatente. A data lembra
os brasileiros que lutaram na Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e que ajudaram
a vencer o poderoso exercito alemão, principalmente na Itália.
Prestes a completar 90 anos (no dia
4 de julho), o itapetiningano Vitório Nalesso (foto) é um dos muitos homens que foram
convocados a lutar na Europa. Desde meados de 1944, até o fim da guerra, em
maio de 1945, Nalesso treinou muito para entrar em combate. Ele e outros
pracinhas precisaram passar por uma série de exames e exercícios.
Nascido no bairro da Chapadinha,
Nalesso ajudava o pai na roça quando, aos vinte e poucos anos, “fui chamado
para servir o Exército Nacional, junto ao 5º Batalhão de Caçadores, sediado em
Itapetininga”, lembra o ex-pracinha. Ele se apresentou no dia 5 de março de
1944 e foi incorporado no dia 25 desse mesmo mês. Vitório Nalesso ficou no 5º
BC até junho de 44, quando foi para São Paulo, no 4º Regimento de Infantaria,
onde fez os exames para entrar na FEB (Força Expedicionária Brasileira).
Após cerca de 10 dias, Nalesso foi
transferido para a cidade paulista de Caçapava, onde realizou treinamento, e
daí para o Rio de Janeiro, na Vila Militar, sendo incorporado ao 11º Regimento
de Infantaria, onde realizou mais treinamentos e exames médicos, até embarcar
para Itália no dia 22 de setembro. No dia seis de outubro de 1944, os
brasileiros chegaram no porto de Nápoles, e daí foram transferidos para navios
menores, que os transportaram para o norte da Itália, onde lutariam contra os
alemães.
Mais de cinco mil homens chegaram em
Livorno, onde os brasileiros permaneceram durante um mês, “tomamos bastante
conhecimento sobre as armas que usaríamos e de como era a guerra na Itália”,
conta Nalesso. Segundo ele, os brasileiros deixaram o país sem saber direito o
que era a guerra. Ao todo, mais de 10 mil brasileiros chegaram para lutar na
Itália nos navios que levaram Nalesso e outros itapetininganos.
Logo na primeira noite em solo
italiano, o primeiro problema: uma forte chuva surpreendeu os brasileiros, o
acampamento, montado próximo a um rio, foi inundado pelas águas do manancial,
que transbordou. Os pracinhas tiveram que correr para desmontar as barracas e
buscar um ponto alto para ficar. Com a chuva forte, não adiantava montar as
barracas de novo. O jeito foi ficar na chuva mesmo, esperando ela passar.
Alí já deu para sentir como seria o
clima na Itália, que por sinal judiou muitos dos brasileiros, acostumados com o
calor. Além da chuva, os pracinhas também enfrentaram o frio, que chegava a 22
graus negativos. “Era terrível, uma coisa que a gente nunca tinha
experimentado”, lembra Vitório Nalesso. Ele recorda ainda que o gelo tomava
conta das trincheiras, que precisavam ser limpas constantemente.
O ex-combatente é taxativo ao
afirmar que, se dependesse do equipamento bélico nacional, o soldado brasileiro
“teria que voltar para casa”. Ao contrário dos brasileiros, os americanos
tinham os melhores equipamentos. “Quando eles iam para a frente de batalha, era
até bonito de ver; parecia que iam para um desfile, de tão bonita que era a
farda”. Além disso, quando tinham que descansar, eles realmente deixavam a
linha de frente e iam para as cidades mais próximas. “Nós não podíamos fazer
isso. Os brasileiros dormiam e descansavam ao relento, e ficávamos a semana toda
sem trocar uma peça de roupa e sem tomar banho”. Os alemães, por sua vez,
também tinham um bom equipamento, além de terem homens mais experientes em
combate. “Eram valentes, mas não enfrentavam o brasileiro na baioneta”.
Nalesso durante campanha na Itália |
Foi somente em Livorno que os pracinhas
tomaram contato com as armas que usariam, como a metralhadora .50, a qual seria
operada por Nalesso. A medida que avançavam, o inimigo estava mais próximo. “E
os alemães lutavam duro”, lembra Vitório Nalesso. Para evitar serem atingidos
por tiros e granadas do inimigo, os brasileiros avançavam durante a noite.
Mas mesmo avançar de noite era um
perigo, pois os alemães costumavam jogar granadas nos brasileiros. Foi assim
que um artefato desses explodiu próximo a Nalesso, que seguia com seu pelotão
para a linha de frente. Ele não foi atingido por estilhaços, mas caiu em cima
de uma caixa de munições que levava. Até hoje ele tem problemas no ouvido
direito por causa da explosão do artefato.
Ainda por causa da explosão, ele
acabou se separando de seu grupo. Sozinho em meio a escuridão, resolveu voltar
pelo caminho que tinha feito. Eram cerca de duas da manhã. Ele seguia o som da
artilharia. Vitório Nalesso conseguiu voltar ao quartel general da companhia,
onde descansou e comeu (um café da manhã reforçado, segundo ele) antes de
voltar para junto do seu grupo.
Orientado por um oficial, seguiu por
uma estrada, indo atrás de seus companheiros. Ao chegar próximo a um túnel, ele
percebeu que a agua que corria pelo chão estava misturada com sangue.
“De
longe, no escuro, vislumbrei o vulto de uns homens na beira da estrada, chamei
forte: Aí tigrada, a cobra vai fumar
e ninguém respondeu...Então me aproximei e vi que estavam mortos; levei um
choque; o sangue que escorria era o que estava deixando a água turva. Eu
coloquei minha mochila no chao, rezei e depois continuei meu caminho”. Nalesso
acredita que eram soldados brasileiros mortos em combate que haviam sido
deixados alí por seus companheiros, para que fossem levados de volta para o
acampamento.
O ex-combatente lembra ainda que o
primeiro brasileiro a tombar na guerra era de Itapetininga: Joaquim Antônio de
Oliveira, nascido no bairro Chapada Grande e integrante do 6º Regimento.
O reencontro com seus amigos foi festivo
e Nalesso conta que integrantes de seu pelotão já estavam à sua procura. O
pracinha itapetiningano então foi para a frente de batalha, lutando até o fim
da guerra.
Mulheres e crianças
Nalesso
conta que os soldados tinham pouco contato com a população, nessa época
constituída por mulheres, crianças e velhos, principalmente, pois os alemãs
levaram os homens para lutar na guerra. Neto de italianos, ele conseguia
compreender o que as pessoas falavam. E muita gente pedia comida, E os
brasileiros repartiam a comida com a população, “que há muito tempo já não
tinha o que comer”.
Com
o fim da guerra, os brasileiros tomaram conhecimento da triste situação do povo
italiano e da violência cometida pelas tropas alemãs contra a população.
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