O Marconews participa das homenagens e reproduz uma entrevista emocionante com dois fãs do piloto: o primeiro é Jorge Telles (foto) um apaixonado pela Fórmula-1 e fã incondicional de Ayrton Senna. Telles faz parte de um grupo que anualmente prestigia o GP do Brasil. Atualmente assessora parlamentar, Leila Rosana Meira trabalhava como repórter no dia do acidente. Ela se lembra exatamente do que estava fazendo quando o piloto bateu na curva Tamburello. Suas lembranças são repletas de emoção. Leia agora a entrevista.
Em uma época em que ídolos e heróis são
personagens cada vez mais raros, perder um deles causa comoção em todo o mundo.
Em uma era em que a inversão de valores é cada vez mais comum, a morte de um
ídolo, de um exemplo, de alguém que é referência para o resto da humanidade,
deixa marcas profundas nos corações dos homens.
Muitos
brasileiros, e até estrangeiros, lembram com exatidão onde estavam e o que
faziam no dia primeiro de maio de 1994, dia do Grande Prêmio da Itália de
Fórmula-1 e data da terrível tragédia, quando Ayrton Senna da Silva bateu na
curva Tamburello.
“Eu
estava almoçando na casa da minha mãe e assistindo a corrida quando aconteceu o
acidente”, lembra o motorista Jorge Idálio Telles, 50 anos de idade e há 30
acompanhando a Fórmula-1. Ele faz parte da Turma da Placa dos 100, torcida
organizada que possui cerca de 250 integrantes, a maioria de Itapetininga, mas
também reúne pessoas de outras cidades e até de outros estados. Todos
apaixonados pelo esporte. O nome, Turma da Placa dos 100, é uma referência ao
local do autódromo de Interlagos aonde a galera costuma ficar.
Jorjão, como é conhecido, lembra que,
logo após o acidente os amigos começaram a chegar à sua residência. Todos muito
emocionados. O acidente encerrou uma carreira vitoriosa, com três títulos
mundiais, e seguida por Jorjão praticamente
desde o início, na década de 80.
“Eu
acompanhei a carreira de Ayrton Senna desde 83, quando ele disputou dois
campeonatos da F-3 inglesa, em um ele foi campeão e no outro ele foi vice. Isso
possibilitou a ascensão dele para a Fórmula-1, onde ele começou a correr em 1984” , conta o fã,
acrescentando que na Inglaterra, no campeonato de 83, Ayrton Senna ganhou 11
das 12 provas e fez 12 pole position (quando o piloto larga em primeiro).
Jorge
Telles recorda que Senna chegou à Inglaterra em 1982, após ser vice-campeão
mundial de kart no ano anterior. “O Ayrton era obcecado pela vitória, pela
perfeição. Se errava em algo, voltava e fazia 50 vezes até ficar perfeito. Ele
se recriava em cima dos seus erros. Tudo eu vi nesses 30 anos de F-1, ninguém
chegou nem perto dele. Tanto é que faz 18 anos que ele morreu e ainda se fala
nele. Você vai até o Japão, por exemplo, e ele é idolatrado lá. Tem até museu”.
Conhecendo
o ídolo
Fão de Senna no GP Brasil 2033 |
Ressaltando
que nunca foi do tipo de fã pegajoso, daqueles que não deixa o ídolo nem
respirar, Jorjão conta que, por duas
vezes, se encontrou rapidamente com Senna.
A
primeira foi em 1987, no GP do Brasil, então realizado no Rio de Janeiro. “Eu
fique hospedado no mesmo hotel dos pilotos, só que, do 12º andar pra cima,
ficava o pessoal da F-1, e nos andares abaixo, os clientes comuns. Em uma de
minhas andanças encontrei com ele e disse que tinha andado 600 km só para vê-lo e disse
que queria ganhar alguma coisa. Então ele tirou o boné do Banco Nacional que
usava e colocou na minha cabeça”. O boné, por sinal, “está muito bem guardado”,
segundo Jorjão, que não permite que
ninguém o use.
O
segundo encontro aconteceu já na fazenda de Ayrton, em Tatuí, durante um
churrasco, promovido pelo pai do piloto, Milton Senna. “Eu nunca fui de
assediar, mas gostaria de ter tido a oportunidade de abraçar o Ayrton e dizer o
quanto ele contribuiu com o país, e não só com o automobilismo. Para a minha
geração, ele foi o último e mais completo ídolo. Eu estou com 50 anos e nunca
vi ninguém como ele”, afirma Jorjão.
Para
o fã, a admiração por Ayrton Senna se deve ao comportamento e atitudes do
piloto dentro e fora das pistas. “Porque ele era um cara tão completo, que
atingia todas as pessoas, não apenas no esporte, mas em tudo que fazia. Minha
irmã morava na Alemanha na época e mandava muita coisa para gente. Ele era
exaltado no mundo inteiro; o Ayrton era uma pessoa que pagava tratamento de
saúde de crianças, mas pouca gente soube disso”.
Marca
indelével
Jorge
Telles conta que o piloto teve um derrame facial e por isso conheceu o
Departamento de oncologia do Hospital das Cínicas, em São Paulo. “Ele só se
tratava no Brasil”, diz o fã, lembrando que o ídolo ajudou o hospital, mas o
fato só veio à público após a sua morte. “Hoje, você vê a marca dele no andar
inteiro, mas a gente só ficou sabendo depois que ele morreu”. O Instituto
Ayrtton Senna, por exemplo, era um projeto que o piloto já vinha amadurecendo
há algum tempo e foi concretizado por sua irmã, Viviane. “O Ayrton queria
ajudar mais do que já fazia”, afirma Jorjão.
“Por
onde ele passava, deixava uma marca. As pessoas as vezes brigavam com ele, mas
depois, lá na frente, viam que era uma obsessão pro bem, não para o mal. Foi
assim com o próprio Alain Prost”, conta o fã. O piloto francês foi o grande
adversário de Senna nas pistas e fez questão de comparecer ao velório do
brasileiro. “A briga dos dois era na pista, na competição, e não de pessoa para
pessoa. O Ayrton não tinha nada contra o Prost pessoalmente, só não gostava do
modo como ele competia”.
Para
Jorjão, se Michael Schumacher tivesse
competido com Ayrton Senna, a história do alemão (heptacampeão da categoria)
seria outra. “Ele não teria chance de competir nas grandes equipes. Além disso,
o Schumacher não teve adversários à altura e, quando teve, trapaceou para
vencer. Todo mundo sabe que ele procurou Damon Hill no retrovisor para bater e
assim ganhar o campeonato”, afirma Jorjão,
com a autoridade de quem tem 160 horas de gravações de corridas. Há ainda um
detalhe: nas quatro corridas que disputaram juntos, o piloto alemão não
conseguiu ultrapassar o brasileiro.
Para
fã, o valor de Senna, além do talento do piloto, está no fato de que, em sua
época, ele competiu e ganhou de grandes equipes e pilotos como Prost, Nigel
Mansell, Riccardo Patrese e Nelson Piquet, entre outros.
Sobre
o fim de semana fatídico do acidente, Jorge Telles lembra que foi atípico. “No
acidente do Rubinho, ele pulou o muro do hospital e foi ver como ele estava e
foi o Ayrton que informou os jornalistas sobre o estado do Rubinho”. Ele também
já reivindicava mais segurança no esporte. Para Jorge Telles, novos e bons
pilotos surgirão na F-1, “mas o Ayrton é uma pagina a parte. Tudo que se faz
hoje no esporte, se lembra dele”, diz o fã, que a cada cinco anos coloca
outdoors na cidade, lembrando a morte do ídolo, com a seguinte frase: Eterno
como a emoção. Os outdoors são custeados com a ajuda de empresários locais.
Lembranças
A assessora parlamentar Leila Rosana
Assunção de Meira estava trabalhando naquele 1º de maio de 94, como repórter, e
se lembra muito bem o que fazia no momento do acidente.
“Estávamos
fazendo matéria para o primeiro exemplar do jornal O Popular, ainda no Bairro
do Tupy, hoje distrito, estávamos entrando em um estabelecimento comercial lá,
mais precisamente Bar do Manuel Português. Acho que foi uma perda irreparável,
talvez a mais sentida até hoje no Brasil e no mundo”.
Leila, que também é conhecida
pela sua paixão pelo Corinthians, conta que sempre acompanhou a carreira do
ídolo. “Assistia todas as corridas, inclusive as de madrugada, participei da
TAS- Torcida Ayrton Senna e IAS- Instituto Ayrton Senna, que sempre foram coordenados pela sua irmã
Viviane”.
Ela lembra do
acidente “como se fosse hoje, isso foi uma coisa que não só parou o Brasil, mas
como todo o mundo, que eu saiba, nenhuma morte entristeceu tanto o Brasil e o mundo
como a de Ayrton Senna da Silva, aquele trágico 1 de Maio, ficará para sempre
na memória do mundo”.
Para Leila, “as corridas
e os domingos acabaram, não existe mais prazer em assistir uma corrida de
Fórmula 1, quem não se lembra de Ayrton e não se emociona? Eu, com certeza, me
emociono todas as vezes, é uma triste lembrança, a
comemoração de seus 50 anos, se vivo estivesse, mas o belo exemplo de Senna,
passou a ser seguido por seus pais Neide e Milton, e principalmente sua irmã
Viviane, que deu seqüência aos projetos
sociais, levantados por Senna, mesmo após 17 anos de seu falecimento”, finaliza
Leila.
Matéria reproduzida da revista Hadar (maio de 2011)
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