A maior estiagem dos últimos 50 anos
apontou a falta de estrutura para enfrentar o desafio da crescente demanda por
água e energia
A
grande seca que afeta São Paulo é tema de reportagem da edição de setembro da
revista Hadar (www.revistahadar.com.com.br). O
estado mais rico e populoso do Brasil, com uma população estimada, segundo o
IBGE, em 44 milhões de pessoas, enfrenta um desafio à altura de sua fama e de
sua história: onde buscar água e como fornecer esse bem essencial para tanta
gente? Como está a estrutura e os investimentos para atender a demanda por água
e energia? Como o Estado – e a nossa Região – está tratando do tema? Estamos
sabendo usar os nossos rios e mananciais de forma sustentável? O que está sendo
feito para estimular ações politicamente corretas, como o uso racional da água
ou a utilização de fontes de energia limpa e renovável? Estas são algumas
questões que a matéria especial da revista Hadar levanta, no momento em São
Paulo enfrenta a pior seca em meio século, que já leva ao racionamento de água
em alguns municípios.
E
a previsão para esta semana não é das melhores. Segundo o site Clima Tempo, a
temperatura deve elevar-se nos próximos dias, chegando a 25º C na quarta e 30ºC na
quinta-feira, com possibilidade de pancadas de chuva, mas com pequeno volume. Na sexta, a temperatura
mantem-se na faixa dos 27ºC graus mas podem ocorrer pancadas de chuva a tarde e
a noite.
Sem chuva
São
Paulo não vê uma chuva forte o suficiente para elevar o nível dos rios e
reservatórios há meses. Embora a situação seja particularmente crítica na
Capital (com mais de 11,6 milhões de habitantes) outras cidades do Estado já
sofrem com o racionamento, como é o caso de Itu. Procurada pela reportagem, a
Sabesp encaminhou uma nota, divulgada no começo de agosto, onde afirma que
“nenhum dos 364 municípios operados pela Sabesp enfrenta qualquer restrição no
abastecimento de água, tanto na capital e Região Metropolitana de São Paulo,
quanto no interior, apesar da estiagem que reduz a vazão dos principais
mananciais paulistas e que já traz problemas para dezenas de cidades no
Estado”.
Ainda
segundo a nota, “nos últimos três anos, desde 2011, foram construídos 202
poços, outros sete estão em execução e um em contratação. O investimento passa
de R$ 27 milhões e a disponibilidade de água aumenta em 1,5 mil litros por
segundo. Além dos poços, 30 novas estações de tratamento de água serão
entregues no período 2011/2014. Já foram concluídas 18, beneficiando a
população de oito grandes regiões: região de Franca, região de Itapetininga,
Botucatu, Vale do Paraíba, região de Jundiaí, Registro, além do Litoral Norte e Baixada Santista”.
Plano Diretor
Rio Itapetininga no passado, com o volume normal de água |
Segundo prefácio assinado por Alceu
Segamarchi Júnior, superintendente do DAEE, “A ampliação da complexidade dos
sistemas de infraestrutura e dos serviços públicos exige, agora, novos recortes
territoriais de análise, incorporando outras bacias hidrográficas e, além das
Regiões Metropolitanas, os aglomerados urbanos instituídos a partir de 2011,
conformando-se a chamada Macrometrópole Paulista, objeto de estudo deste Plano
Diretor de Aproveitamento dos Recursos Hídricos”. Segamarchi explica que o
trabalho foi “elaborado por uma equipe multidisciplinar e acompanhado por
técnicos do DAEE, da Sabesp e de três Secretarias do Governo do Estado, e
produziu um valioso instrumento de planejamento e de gestão integrada, capaz de
subsidiar a tomada de decisões e ações necessárias para garantir a segurança
hídrica de uma imensa mancha territorial”. Segundo o estudo, já existe a “necessidade
de criação de novos sistemas de captação e reservação de água bruta em um
cenário que inclui a renovação da outorga do Sistema Cantareira. Ao mesmo
tempo, incorpora as ações de curto prazo, parte das quais já está sendo
executada pelo Governo do Estado, além de um plano de investimentos de médio e
longo prazos a ser revisto periodicamente”.
De
acordo com Segamarchi, este é o terceiro plano diretor desenvolvido pelo DAEE
em mais de 60 anos. O primeiro, elaborado nos anos 60 e implantado a partir de
1964, “visava o controle das cheias da capital e municípios vizinhos – por meio
de construção de barragens e do desassoreamento dos rios Tietê, Tamanduateí,
Pinheiros e seus principais afluentes –, além do abastecimento de água da
Região Metropolitana de São Paulo e do destino final do esgoto gerado por sua
população. Em 1993, o primeiro Plano foi revisado, atualizado e ampliado com a
incorporação das Bacias do Alto Tietê, Piracicaba e Baixada Santista. Concluído
em 1995 pelo consórcio Hidroplan (Coplasa-Etep-Figueiredo Ferraz-
Hidroconsult-Maubertec), tinha um horizonte projetado para 2020”, disse o
superintendente.
Novo sistema em 2018
O estudo aponta necessidade de
investimentos vultuosos, que podem superar os R$ 10 bilhões. Além disso, indica
a necessidade da entrada em operação, em 2018, do Sistema São Lourenço,
iniciativa já em curso de implantação, “e a intensificação do uso da tecnologia
de reúso da água, nos moldes do projeto Acquapolo, que atende as indústrias do
Polo Petroquímico de Mauá. Os investimentos podem variar, a preços de dezembro
de 2012, de R$ 4,6 bilhões a R$ 10,8 bilhões, a depender da menor ou maior
complexidade das obras que compõem cada uma das soluções selecionadas. Mas há
outros fatores, além dos recursos financeiros, a serem considerados na tomada
de decisão: conflitos ambientais, restrições legais, dificuldades
político-institucionais e, também, o tempo necessário para a implantação das
obras. Em qualquer das soluções estudadas, o Plano Diretor de Aproveitamento de
Recursos Hídricos para a Macrometrópole aponta a necessidade de um novo sistema
de grande porte para ampliar, de forma significativa, a disponibilidade de água
bruta para a região e alerta para a urgência da tomada de decisão e o preparo
de estudos e projetos”.
O estudo ressalta que “projetos de
grande porte para a ampliação da oferta de água têm longa maturação, cerca de
10 anos. É essencial, portanto, a agilização dos procedimentos com o objetivo
de reduzir a crescente vulnerabilidade da Macrometrópole em termos de segurança
hídrica”.
Gigante ameaçado
A longa estiagem e a atividade de poços
clandestinos representam ameaça até para um imenso reservatório subterrâneo de
água doce: o aquífero Guarani, que abastece alguns municípios paulistas.
A represa de São José do Rio Preto é
reflexo da pior seca das últimas décadas na Região Sudeste. Os moradores só não
enfrentam desabastecimento porque a cidade conta com outras reservas. 70% da
água que chega às casas vem dos Aquíferos Guarani e Bauru. O Aquífero Guarani é
o maior manancial de água doce do mundo. Ele abrange oito estados do Brasil,
além do Uruguai, Paraguai e Argentina. Há estudos que estimam as reservas
permanentes deste manancial em mais de 45 mil km3 de agua. O que seria
suficiente, segundo técnicos, para abastecer toda a população brasileira por um
longo período.
Mas,
por maior que seja, o aquífero é finito e depende das chuvas para manter seu
volume. Sua importância é estratégica e o seu uso deve ser feito com
planejamento, pois pode fornecer água para agricultura, abastecimento, lazer e
turismo, mas a retirada indiscriminada de suas reservas e a seca, constituem
uma ameaça real a este gigante. A água subterrânea é retirada por meio de poços
artesianos. Em São José do Rio Preto são quase 250 poços que retiram água dos
Aquíferos Bauru e Guarani. Como não é poluída, pois é filtrada no longo caminho
entre a superfície e o aquífero, a água não precisa passar pela estação de
tratamento convencional. Recebe flúor e cloro no poço. Uma bomba instalada onde
a lâmina de água é mais espessa bombeia a água pra cima. O problema é que
existem, além dos poços municipais, quase 3,8 mil poços retirando água do
aquífero, a maioria de forma descontrolada e clandestina.
Veja
reportagem completa na edição impressa da revista Hadar.
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