sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Clima: a chave da sobrevivência do homem

Mudanças climáticas, muitas provocadas pela ação do homem, põem em xeque a sobrevivência da espécie humana

 
Mapa do desmatamento na Amazônia mostra,
em vermelho, as áreas desmatadas em 2011
            A conferência da ONU (Organização das Nações Unidas) sobre o clima, realizada esta semana, em Nova York, foi a largada da corrida mundial em uma tentativa de reverter as mudanças climáticas que assolam o planeta e ameaçam a própria sobrevivência da espécie.
            O assunto é sério e o papo é reto, como dizem os jovens. Afinal, o clima da Terra parece estar descontrolado, principalmente nos últimos anos. Além das mudanças naturais e inerentes ao planeta, cientistas dão como certa a ação do homem nas mudanças.
            E esta ação afeta pessoas e regiões em todo o planeta. Um exemplo prático disso é o desmatamento da Amazônia, que tem efeito direto na seca que atinge o Centro Oeste e o Sudeste do Brasil, que está a dois mil quilômetros da floresta (veja abaixo). Não é à toa que a comunidade internacional está preocupada e tenta viabilizar ações para eliminar o desmatamento até 2030, assim como outras medidas de proteção ambiental, como a redução na emissão de CO2 na atmosfera. Mas, apesar dos esforços, gigantes como China e Índia parecem que ainda não dão a devida importância ao assunto, tanto que mandaram representantes ao evento, e não seus chefes de Estado, segundo a imprensa mundial.
            De acordo com o G1 (portal de notícias da Rede Globo) o acordo para redução do desmatamento das florestas no mundo foi um dos principais resultados da Cúpula do Clima, que aconteceu no dia 23 de setembro, na sede da Organização das Nações Unidas, em Nova York. A "Declaração de Nova York sobre florestas" prevê reduzir pela metade o desmatamento no planeta até 2020 e zerá-lo até 2030.
            Apesar da importância do tema, o Brasil não assinou o texto final da declaração, mesmo sendo um dos países que mais obteve êxito na redução do desmatamento nos últimos anos. O motivo, segundo o governo brasileiro, seria que o país “não foi convidado a se engajar no processo de preparação” da declaração e que o Brasil temia que o texto pudesse colidir com leis nacionais que controlam o desflorestamento na Amazônia e outras florestas.
Os defensores do acordo querem cortar entre 4,5 bilhões de toneladas e 8,8 bilhões de toneladas de carbono por ano com a redução do desmatamento até 2030. Além disso, Reino Unido, Alemanha e Noruega se comprometeram em doar nos próximos anos o equivalente a R$ 2,7 bilhões para países com iniciativas voltadas à contenção do desmate.
O compromisso englobaria ainda ações de empresas exploradoras de recursos naturais, como as fabricantes de óleo de palma e de alimentos em geral, além de englobar a ajuda dos povos indígenas para dar suporte aos programas de Redd (Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação florestal). De acordo com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, as ações anunciadas envolvem governos, empresas, bancos e sociedade civil e mostram que há muitos parceiros ansiosos em enfrentar juntos a mudança climática.
 
Brasil como referência
            Em junho, relatório divulgado na Alemanha, como parte das comemorações do Dia do Meio Ambiente, destacou o Brasil como o país que mais reduziu o desmatamento e as emissões de gases que causam aquecimento global. O documento, produzido pela organização Union of Concerned Scientists (União de Cientistas Preocupados, em tradução livre), com sede nos Estados Unidos, explora como, na primeira década deste século, o Brasil conseguiu se distanciar da liderança mundial em desmatamento e do terceiro lugar em emissões de gases e se transformou em exemplo de sucesso. "As mudanças na Amazônia brasileira na década passada e sua contribuição para retardar o aquecimento global não têm precedentes", diz o relatório, intitulado "Histórias de Sucesso no âmbito do Desmatamento", que analisa a trajetória de 17 países em desenvolvimento com florestas tropicais. Segundo o estudo, “a velocidade da mudança em apenas uma década - na verdade, de 2004 a 2009 - é impressionante".
 
Como o desmatamento afeta o resto do país
            Embora o relatório aponte que 80% da floresta original ainda se mantém, não deixa de ser preocupante que 20% da Amazônia tenha sido derrubada, atividade que se intensificou nas últimas quatro décadas, segundo relatório sobre o clima que deve ser apresentado no final do ano, em conferência sobre o assunto a ser realizada no Peru.
            Reportagem apresentada recentemente pelo Fántástico (Tv Globo), mostrou que a derrubada da mata tem reflexos em todo o País, principalmente nas regiões Centro Oeste e Sudeste, pois boa parte da água que abastece estas áreas vem da Amazônia. Com o desmatamento, cai o número de árvores (algumas centenárias) e ocorre a consequente diminuição no volume de água que a floresta lança no ar. O quadro contribui para a pior estiagem que o Sudeste (principalmente São Paulo) registra nas últimas décadas.
            Segundo cientistas, nos últimos 400 milhões de anos, a umidade que evapora dos oceanos é levada pelos ventos para o continente, nas áreas das grandes florestas tropicais (em volta do Equador), parte da umidade é despejada e os ventos de encarregam de levar o excesso para o oceano. Este processo ocorre ao redor do planeta, com uma única exceção: a Amazônia.
            Pelo processo natural, o excesso de umidade do oceano Atlântico seria despejada no Pacífico. Seria, mas acontece que o continente possui uma enorme barreira natural: a Cordilheira dos Andes, com montanhas de até sete mil metros de altura. Elas represam as nuvens e empurram para o interior da América do Sul, levando chuva para o Brasil, Bolívia, Paraguai, Uruguai, Argentina e até o extremo sul do Chile. O estudo analisa que isto impede o surgimento de desertos nessas áreas, como ocorre em outras localidades existentes na mesma latitude ao redor do mundo.
            Segundo os especialistas, graças à Amazônia e aos Andes, estados como São Paulo e Rio de Janeiro, e até o Rio Grande do Sul, seriam um grande deserto. Além do volume de água que vem do oceano, a floresta se encarrega de lançar cerca de 20 bilhões de toneladas de água todos os dias na atmosfera, criando os chamados rios voadores, responsáveis por abastecer os reservatórios do Sudeste e fornecendo aproximadamente metade da água consumida na região.
            Mas a ação do homem, mais uma vez, interfere no ritmo natural do planeta. Em São Paulo, por exemplo, a devastação da Mata Atlântica forma grandes massas de ar quente que impedem a chegada dos rios voadores, fazendo com que despejem suas águas no Norte do Brasil, o que causa enchentes, como as registradas no Acre, por exemplo.
            Para os especialistas, a ação do homem contribui decisivamente para a mudança do clima global. Essas alterações terão efeito sobre a humanidade. Afinal, para gerar o mesmo volume de água que floresta amazônica lança diariamente no ar, a usina de Itaipu (a mais potente do mundo) precisaria trabalhar 145 anos, apontam os cientistas.

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