Estudante de 18 anos conta sua história
Amanda quer contar sua história em livro |
Integrar-se e ser aceito em um grupo social é o sonho de todo
adolescente. Nada mais natural. Imagine então como é sentir-se fora da galera.
Para uma jovem cheia de vida e sonhos, esta é uma situação muito difícil.
Imagine agora um agravante para este quadro: a pessoa, por questões alheias à
sua vontade, não consegue aprender no mesmo ritmo de seus colegas. E isto nada
tem a ver com inteligência, mas com uma dificuldade que o cérebro tem de
interpretar e decodificar as palavras. Isso é a dislexia, um transtorno
neurológico que atinge entre 10% a 15% da população mundial, No Brasil,
estima-se que entre 10 a 15 milhões de crianças e jovens possuam dislexia.
A estudante Amanda Fantazia
Carvalho, de 18 anos, está entre os jovens afetados por este transtorno. Bonita
e cheia de vida, ela revela as dificuldades vividas no dia-a-dia da sala de
aula, incluindo o bullyng, e o esforço para superar e vencer suas barreiras.
Amanda revela que sua dislexia foi
adquirida após complicações durante seu parto. O problema foi descoberto quando
Amanda tinha seis anos de idade. Desde então seus pais têm se desdobrado na
busca de melhores condições de aprendizado e qualidade de vida para sua filha e
também para outras crianças e jovens que passam pelas mesmas dificuldades. Eles
apoiam a iniciativa da filha de contar sua história em livro e, desta maneira,
chamar a atenção da sociedade para este problema, que afeta a vida de milhões
de jovens
Revista Atenas - Quando você percebeu que tinha
dislexia?
Amanda Fantazia - Meus pais perceberam quando eu tinha seis anos, por eu ter bastante
erros na fala e dificuldade de aprender a escrita, o colégio entrou em contato
com meus pais e indicaram uma fonoaudióloga que detectou a dislexia.
Revista Atenas - Como é conviver com a dislexia?
Amanda Fantazia - Complicado pois a cada dia enfrento uma luta, sem falar que muitas
vezes sou limitada pela dislexia, muitas vezes me senti impotente, achava que
realmente eu fosse o problema ou que não era tão inteligente que nem os outros,
apenas quem passa por esse distúrbio sabe a sensação de viver com ela, muitas vezes
não perguntei ao professor sobre uma dúvida por não saber falar tal palavra e
senti medo da sala toda dar risada, muitas vezes não entrei em grupinho para
conversar por medo de falar errado. Mas hoje eu aprendi a conviver com ela,
aprendi todas as manhas, porém, é complicado. Tem uma frase de um disléxico que
representa bem isso: “eu preferia perde um braço do que viver com a dislexia”.
Estudante atualmente faz curso de análises clínicas |
Revista Atenas - Você tem
muita dificuldade nos estudos?
Amanda
Fantazia - Sim...muitas! Por estar no terceiro ano essa é uma
fase muito complicada, a dislexia dificulta a interpretação dos textos, os
números ficam embaralhados, dificultando a execução dos exercícios e a leitura.
Sem falar da dificuldade de memorização, por não conseguir guardar direito os
conteúdos isso acaba me prejudicando muito nos estudos.
Revista Atenas - Com é o relacionamento com seus
colegas de classe? E com os amigos em geral?
Amanda Fantazia - O relacionamento é bom, meus amigos da escola sabem que sou disléxica.
Tenho amigas que me ajudam muito na sala de aula, me dão apoio e me ajudam
quando estou com uma dificuldade. Já meus amigos em geral sabem que eu tenho
dislexia, alguns não dão tanto apoio por não saber o real significado da
dislexia e os que sabem me dão apoio e me ajudam, infelizmente tenho ainda
alguns colegas que mesmo sabendo que tenho esse distúrbio ainda fazem algumas
brincadeiras sem graça.
Revista Atenas - Você faz algum tipo de tratamento ou acompanhamento
médico?
Amanda Fantazia - Sim faço acompanhamento médico com uma psicóloga e com uma
psicopedagoga e fonoaudióloga.
Revista Atenas - O apoio de seus pais e familiares
ajuda a enfrentar a dislexia?
Amanda Fantazia - Sim, meus pais e meus avós me ajudaram muito nessa caminhada que foi
longa e árdua, me deram bastante apoio nos momentos difíceis e enfrentaram
grandes dificuldades comigo, quanto aos meus familiares que não entendem o que e a
dislexia e o que ela causa na vida da pessoa acabaram não me apoiando.
Revista Atenas - Como seus pais reagiram ao saber desse distúrbio?
Amanda Fantazia - Ficaram assustados porque na época não se falava muito sobre síndrome
e pouco se conhecia; até os próprios profissionais na época ficaram com medo de
dar esse diagnóstico.
Revista Atenas - Você já se sentiu discriminada ou sofreu algum
preconceito por conta da dislexia?
Amanda Fantazia - Sim e muito, na parte da escola, ou fora dela, tanto quanto na
família, e ainda sofro, o disléxico sofre muito bullying por conta da
dificuldade da fala. Sofri em vários colégios por onde passei. De alunos e de professores,
inclusive houve um acontecimento quando eu tinha oito anos de um professor que
rasgou uma redação na minha cara por conter muitos erros de português. Por isso
muitos disléxicos são introvertidos e criam uma defesa contra todos, Mas hoje
graças a Deus estou em um colégio que me respeita. Mas, infelizmente já sofri
bullyng de pessoas que nem sabiam que eu tinha esse distúrbio. Apenas sofri por
falar algumas palavras erradas.
Revista Atenas - Você acha que isto acontece porque as pessoas são desinformadas
a respeito do assunto?
Amanda Fantazia - Sim, hoje muitos profissionais na área da educação não sabem o que é
dislexia; logo não sabem lidar com o assunto e infelizmente isso acaba
prejudicando muito o aluno, pois é na sala de aula que os professores podem descobrir
este distúrbio, já que têm mais acesso na parte da escrita. Infelizmente, a
dislexia não é muito comentada, não se fala muito dela. Assim, os professores,
ou qualquer profissional, acham, que não tem muitos disléxicos e na verdade
hoje existem muitas pessoas com esse distúrbio.
Revista Atenas - Você pretende contar sua história em livro?
Amanda Fantazia - Sim e não apenas contar mas com o livro eu quero ajudar os pais e as
pessoas que sofrem com a dislexia. Eu sofri muito para lidar com a dislexia,
ainda mais “sozinha” e hoje eu sei que se eu tivesse apoio ou dicas de um outro
disléxico, teria me ajudado muito. Quero poder ter a chance de ajudar essas
pessoas, quero dar esse apoio moral. No meu livro vou contar sobre a minha história
e sobre os momentos que eu passei de dificuldade, vou contar como os pais,
junto com os professores podem ajudar os seus filhos nessa batalha, além de um
apoio moral, no final vou dar dicas de estudos, como ir bem no colégio/faculdade.
Espero poder alcançar muitas pessoas com esse livro. Leia matéria completa na edição deste mês da revista Atenas
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