Tristeza, preocupação e pessimismo são algumas das
reações apontadas
Manifestantes pediram intervenção militar
As
manifestações populares ocorridas em Brasília no último domingo, dia 3, onde apoiadores do presidente Jair Bolsonaro pediram o fechamento do
Supremo Tribunal Federal (STF) e do Congresso Nacional, além de uma intervenção
militar, causaram tristeza, preocupação e pessimismo entre jornalistas e
personalidades ouvidas pelo blog, que apontaram também o que consideram uma
irresponsabilidade do chefe do Executivo apoiar tais manifestações.
Profissionais do jornal O Estado de S. Paulo foram agredidos por manifestantes,
o que seria um ataque à liberdade de imprensa. Veja agora o que disseram os
entrevistados.
Para o
jornalista Fábio Arruda Miranda (foto), de 52 anos, a manifestação de domingo
“demonstra total desconhecimento da história do Brasil. Parece-me, até, um argumento
infantil: uma manifestação pedindo a proibição de manifestar!’ Não sabem o que falam”, afirma Miranda.
Sobre a
participação frequente de Bolsonaro nessas manifestações, o jornalista afirma:
“irresponsável, no mínimo. Além de contrariar todas as recomendações do seu
próprio Ministério da Saúde e da OMS (Organização Mundial da Saúde). Está dando asas ao seu desejo
autoritário; não sabe lidar com a Democracia. Irresponsável e inconsequente.
Tem pretensão de ser um líder populista, mas não é: nem líder, nem populista”
Para Miranda,
o fato de uma parcela da população desejar uma intervenção militar pode ser
explicado pela vontade das pessoas em terem uma “solução dos problemas
econômicos e sociais. Alguns, por desconhecimento, ‘acham’ que basta um
presidente decidir pelas soluções, o que não é verdade. O Brasil tem problemas
estruturais a serem resolvidos. E é exatamente pelo debate que vamos avançar
rumo ao desenvolvimento - e não por nenhum golpe. Penso que essa ‘extrema
direita’ não é expressiva; na verdade, não são de direita: são liberais pedindo
a expansão da justiça econômica e social. Incentivados por um presidente
inconsequente, caem na infantilidade de combater um comunismo inexistente”.
Momento delicado
Manifestantes cercam e agridem profissionais da imprensa |
Fábio Miranda
ressalta que o pais vive um “momento muito delicado” do ponto de vista de
liberdade de imprensa. “E culpo pessoalmente o presidente da República, seus
filhos e o Gabinete do Ódio!”.
Apesar do
momento difícil, o jornalista acredita que “o país tem solução, sim! E passa
por um processo de aprendizado e amadurecimento. Se existem “Tiriricas” na
política, é porque receberam votos.... O país precisa avançar para o sentimento
de nação. Nossa jovem Democracia estabeleceu uma Constituinte de 88 que prevê
muitos “direitos” – a Constituição Cidadã; agora, precisa ajustar os seus
deveres”.
Desmonte
Cristina Vallada, jornalista |
“Não
sou otimista em relação ao futuro do país. Não há como acreditar num país sem
um povo educado, saudável, bem alimentado. O governo atual vem desmontando
qualquer possibilidade do povo se desenvolver dignamente, vem tentando
implantar um modelo econômico que privilegia os ricos e tira oportunidades dos
pobres. O governo atual prega a violência, em detrimento do diálogo. O
autoritarismo e não a conciliação. A informação falsa e conveniente e não a
verdade. Não há como ter esperanças”. A frase é da jornalista Ana Cristina
Vallada, 45 anos, que reside e trabalha na cidade de São Paulo.
Para ela, “as manifestações que pedem intervenção militar
parecem mais uma forma equivocada de demonstrar apoio ao presidente e ao
militarismo que ele prega do que uma vontade genuína de que os militares
assumam o comando do país. O presidente Jair Bolsonaro demonstra desde sempre
não ter nenhum apreço pela democracia, pelas instituições democráticas, pela
divisão dos poderes. A presença dele nas manifestações pode ser surpreendente
por se tratar de um presidente da república, mas sendo quem é, pode-se dizer
que é até esperado”.
Extremismo crescente
“Acredito sim
em crescimento da extrema direita, ainda que a população pobre e com pouca
educação formal nem saiba o que isso significa. Apoia o presidente por
simpatia, por razões mais religiosas do que políticas. Creio que o caos político
sempre será cenário favorável para um golpe”, analisa Cris Vallada.
Para ela, “o
momento é delicado não do ponto de vista da liberdade de imprensa, uma vez que
nunca foi tão fácil publicar algo. É delicado do ponto de vista da informação
correta, apurada, responsável. As pessoas querem ouvir o que vai de encontro à
opinião delas e não a verdade dos fatos. Daí a hostilidade e as agressões
(contra profissionais de comunicação)”.
Passado ignorado
Contundente
em sua análise, a professora Patrícia Ferreira Braga (foto), de João Monlevade (MG),
de 44 anos, vê as manifestações “como uma demonstração de total ignorância do
passado recente do país. Quem postula por isso nunca deve ter estudado sobre os
horrores da ditadura e o quanto os direitos individuais foram comprometidos
naquele período. São ignorantes úteis manipulados por interesses inescrupulosos”.
Sobre a atitude
do presidente, Patrícia afirma: “não considero
postura. Aliás, esse senhor é qualquer coisa exceto político. É um abestalhado
egocêntrico que só se preocupa com interesses próprios, estando completamente
alienado das necessidades do país”.
A professora
analisa ainda que “as condições para o golpe estão
armadas. Basta a canetada. O brasileiro da classe média, que apoia a volta da
ditadura, é um povo soberbo. Se acha europeu, rico e culto. E não admite que o
pobre, o preto, o gay, os diferentes; tenham os mesmos direitos que acreditam
ter recebido por mérito divino. Afinal, são “generosos” e “tementes a Cristo”.
Assim, acreditam que a ditadura restabeleceria essa “ordem” e as coisas
retomariam seu status verdadeiro”.
Sobre as
agressões a imprensa e o momento delicado do país, a professora afirma: “o ser
que ocupa a presidência instiga as pessoas contra os jornalistas. Não quer a
verdade exposta. Ameaça caçar concessões e menospreza repórteres. Isso legítima
seus apoiadores a agirem contra a imprensa e pedir limite a sua atuação. Neste
momento, todas as instituições democráticas estão sob ameaça”.
Sem esperança
“Ando desesperançosa com o país.
Temendo muito o retorno do regime ditatorial. Se o povo continuar nessa
ignorância não vejo solução a médio prazo para nossos problemas. Essa
polarização PT x Direita é nefasta. É preciso construir e acreditar na via do
meio. Sem isso estaremos condenados às polaridades que não solucionam nada. Só
disseminam o ódio e a desunião do povo”, finaliza Patrícia
Presidente desrespeita lei
Manifestantes agridem jornalistas |
Com a
experiência de quem viveu os tempos duros do regime militar, o escritor Carlos da Terra diz que vê “com profunda ansiedade e preocupação (as manifestações de
domingo). As pessoas que viveram aqueles árduos e sombrios tempos da ditadura
militar ainda trazem as marcas do terror em suas almas. Mães que perderam seus
filhos jamais se recuperaram do trauma”.
Para o
escritor, o comportamento de Bolsonaro “é uma conduta imoral do ponto de vista
humano, de vez que ele não é um militante e sim que se encontra em uma posição
que o impele a, simplesmente, agir e não incitar o povo a agir.
De acordo com a Constituição, o presidente viola a Lei nº
5.250, de 9 de fevereiro de 1967”. (Nota da redação: esta lei regulamenta a
liberdade de manifestação de pensamento e de expressão, é também conhecida como
Lei de Imprensa)
Terra ainda avalia que “há sim,
uma parcela (da população) que deseja uma intervenção militar, como realmente
houve nos anos 60. E essa parcela não é pequena. Eu, particularmente, penso que
uma monarquia seria melhor do que o sistema republicano, diante desse perigo
iminente de uma ditadura nos moldes embrutecidos e incultos de uma ditadura
militar. Obviamente, o militar é, em todos os tempos e em todas as sociedades,
preparado para lutar e matar e não para filosofar ou educar ou ainda ponderar
sobre a cultura popular. Por sua formação, o militar carece de recursos para
atividades intelectuais que são, naturalmente, incompatíveis com a força bruta”.
O escritor afirma ainda que “o
momento é delicado. Politicamente a posição filosófica é frágil diante da imposição
brutal da força. Não há clima para a citação famosa de Evelyn Beatrice Hall: "posso
não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a
morte o direito de você dizê-las".
Apesar das dificuldades, Carlos da Terra afirma que “há uma luz no fim do túnel! Nosso país teve uma formação
feudal. O povo é apegado a crenças e culturas individualistas, como uma visão
bastante simplificada de uma sociedade ideal. Quando um brasileiro nasce, logo
nas primeiras aprendizagens, ouve seus circundantes dizerem: "o Brasil é
um país muito rico". Esse conceito sugere uma acomodação. Qualquer reforma
que se pretenda fazer passará pela educação, desde a base até as universidades”.
Texto: Marco Antonio
Fotos: Arquivos pessoais; reprodução internet
Muito interessante a matéria e muito adequada aos dias de hoje
ResponderExcluirObrigado, honorável escriba
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