Mais de 50 pessoas são acusadas de
improbidade
e desvio de dinheiro público da saúde do município
A Justiça de Itapetininga aceitou,
no último dia 17, o pedido para abertura da ação civil pública proposta pelo
Ministério Público contra suspeitos de desviar dinheiro do Hospital Regional do
município. Com a decisão do juiz Jairo Sampaio Incane Filho, 53 pessoas – entre
políticos, empresários e servidores - e 45 empresas são acusadas de estar
envolvidas no esquema por improbidade administrativa e desvio de dinheiro
público. O processo judicial era tratado como segredo de justiça, mas os nomes
foram revelados nesta ação civil pública. O valor da ação ultrapassa R$ 16,5
milhões. Além da ação civil, o GAECO (Grupo de Atuação Especial de Combate ao
Crime Organizado), também investiga o caso e apresentou denúncia em 2013 contra
61 pessoas na 2ª Vara Criminal de Itapetininga. A acusação e de formação de
quadrilha, peculato e corrupção ativa e passiva, entre outros crimes. Neste episódio,
o GAECO afirma que foram desviados do hospital mais de R$ 7 milhões. Batizada
de Operação Atenas, a investigação
teve início em 2011, após denúncias e ataques do então secretário de Saúde do
município, Geraldo Macedo, feitas contra a administração de ex-prefeito Roberto
Ramalho.
Com
referência à Ação Civil Pública, os nomes dos envolvidos podem ser verificados
no site do Tribunal de Justiça de São Paulo. Há acusados que respondem tanto na
ação civil quanto na criminal. Quem quiser acessar os nomes basta acessar o
endereço abaixo e clicar em “Partes do Processo”.
https://esaj.tjsp.jus.br/cpo/pg/show.do?processo.codigo=7H000100K0000&processo.foro=269 . Após abrir esse endereço click em
cima de “ Partes do Processo”
esaj.tjsp.jus.br
Entenda o caso
Em
dezembro de 2013, o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado
(GAECO) - Núcleo Sorocaba, ofereceu ao Juízo da 2ª Vara Criminal de
Itapetininga, denúncia criminal contra 61 pessoas indiciadas na investigação
conhecida como Operação Atenas e que apurou um intrincado esquema de desvio
de dinheiro público do Hospital Regional de Itapetininga.
Segundo
o GAECO, os denunciados são empresários, dirigentes de Organizações Sociais
(OS) e de Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), médicos
e agentes públicos, dentre os quais ex-Prefeito de Itapetininga, atual
Vice-Prefeito, e ex-Secretários municipais. Os crimes atribuídos aos envolvidos
são de formação de quadrilha, fraudes em licitações, peculato e corrupção
passiva e ativa.
A
investigação concluiu que foram desviados pelo menos R$ 7,5 milhões da verba da
saúde pública de Itapetininga, por meio das empresas dos denunciados. De acordo
com a denúncia, os responsáveis pela OSCIP Sistema de Assistência Social e
Saúde (SASS), que administrava o Hospital Regional de Itapetininga, montaram
empresas de fachada que emitiam notas fiscais correspondentes a serviços nunca
prestados ao Hospital. O esquema também envolvia a emissão de notas fiscais
superfaturadas.
Na
operação que desmantelou o esquema, em 2013, 10 pessoas foram presas e, em
poder de uma delas, foi apreendida uma mala com R$ 1 milhão em dinheiro, além
de dólares e euros. Há nos autos notícia do recebimento de suborno por parte de
um parlamentar e de um Prefeito de município do interior, motivo pelo qual o GAECO
– Núcleo Sorocaba remeteu à Procuradoria-Geral de Justiça cópia integral da
investigação para as providências de sua alçada.
História
A
investigação do MP começou após denúncia do ex-vice-prefeito e secretário de
Saúde, Geraldo Macedo, no final de agosto de 2011. Na época, ele disparou o
mais duro ataque já sofrido pela administração municipal, denunciando supostas
irregularidades na gestão do Hospital Regional, gerenciado pelo SASS. Entre as
denúncias, estava o repasse de recursos a empresas de consultoria, que
pertenceriam a diretores do SASS. As denúncias foram feitas durante sessão do
Legislativo local.
O
então vice-prefeito relatou ainda desmandos administrativos que vinham
ocorrendo em sua secretaria, com o objetivo de desgastá-lo politicamente.
“Quando assumi a saúde, alguns amigos me disseram que o prefeito queria me
queimar e eu acho que foi isso mesmo. Uma fritura usando um maçarico”,
acrescentou o ex-secretário. Logo no início de sua explanação, Geraldo Macedo
deixou claro que não estava para meias palavras. “Roberto Ramalho é um tirano
ingrato que não aceita opiniões divergentes. Ele não é democrático”, afirmou o
ex-secretário, “se pudesse me exonerar do cargo de vice-prefeito, que foi me
dado pelo voto do povo, ele o faria”.
Ainda segundo
Macedo, várias ações do prefeito obstruíram sua gestão frente à secretária,
como a nomeação de funcionários exonerados por ele em outra pasta. Entre os
motivos da exoneração, estava o fato dos funcionários receberem sem trabalhar,
de acordo com o ex-vice-prefeito. Geraldo Macedo criticou o que chamou de
herança recebida quando era titular da pasta da Saúde: a realização de
pagamentos sem o empenho. Fato que, de acordo com ele, ocorria desde 2009. “Eu
herdei R$ 17 mil e a ex-secretária Regina (Soares), R$ 400 mil”. Macedo lembrou
que nenhum pagamento da administração municipal pode ser feito sem o devido
empenho.
Durante
sua fala aos vereadores e público presente (com o plenário lotado), o então
vice-prefeito mostrou um relatório administrativo com mais de 200 páginas o
qual, segundo ele, com base em orientações do Tribunal de Contas do Estado,
recomendava que o convênio com o SASS não fosse renovado. “Mesmo assim, o
prefeito o renovou até 2013”, disse. Durante sua fala, Macedo confirmou que
encaminhou cópias dos documentos ao GAECO, grupo especializado ao combate ao
crime organizado e ao Ministério Público, pedindo providências. Esses
documentos serviram de base para que o MP iniciasse uma investigação, que
culminou com a denúncia contra 61 pessoas.
Defesa
As denúncias de Macedo caíram como
uma bomba no Paço Municipal. No começo do mês de setembro de 2011, Roberto
Ramalho (foto) compareceu à Câmara local, para se defender dos ataques de
Macedo; na ocasião, o prefeito também respondeu à perguntas dos vereadores. Para
Ramalho, as declarações de Macedo, à época, tinham caráter eleitoreiro.
Sobre as denúncias envolvendo a
administração do Hospital Regional, a cargo do SASS (Sistema de Atendimento
Social e Saúde), Ramalho disse que o problema “foi levantado pela equipe da
prefeitura”. Sobre a dívida que o município teria com a instituição, o prefeito
afirmou que “O SASS fez mais serviço do que foi contratado e a prefeitura
estava passando dinheiro aquém das necessidades. “Então tem a dívida. Tudo é
bem transparente”.
De
acordo com Roberto Ramalho, a dívida era de R$ 4 milhões na época da renovação
do contrato com a entidade. Contrato este que não deveria ser renovado, na
avaliação de Geraldo Macedo, na época secretário da Saúde do município. “Todo
processo que assinamos passa por avaliação do secretário e quando chega ao
prefeito é para as providencias necessárias para a renovação”. O contrato com o
SAS encerrou-se em setembro de 2012.
Fotos: Mike Adas/Arquivo Marconews
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