Atletas falam da paixão pelo esporte e
da emoção de representar a cidade
Quem pensa que o vôlei feminino
adaptado para a 3ª idade é um joguinho de “comadres”, por assim dizer, pode se
preparar para mudar de ideia. E não só quanto ao vôlei, mas também em relação
aos outros esportes. Em Agosto, Itapetininga sediará mais uma edição dos Jogos
Regionais do Idoso (JORI), evento que deverá receber atletas de mais de 40
cidades.
Mesmo enfrentando muitas
dificuldades, como a falta de estrutura para treinar e o apoio de poucas
empresas locais, o vôlei feminino adaptado para a 3ª idade tem tudo para
repetir – até melhorar – a atuação da edição anterior dos jogos, quando as
atletas conquistaram o segundo lugar na modalidade.
Para alcançar este objetivo, as
“meninas” treinam duro. “Levamos a sério mesmo; disputamos até para conquistar
um lugar no time”, garante Creusa Aparecida Pinto, de 63 anos. Mas a rivalidade
e as rusgas terminam na quadra; fora dela, a convivência social e a amizade
continuam. “Sempre nos reunimos nos aniversários”, conta Elenice Mendes Tácia,
67, que pratica o esporte há pelo menos 15 anos.
“Aqui não há panelinha e a gente
joga com garra mesmo. Os jogos são emocionantes e até quem tem um problema ou
outro de saúde, devido à idade, esquece disso na hora do jogo, principalmente
se for do JORI”, afirma Tânia Moreno, de 64 anos. Segundo ela, um exemplo de
que o esporte é levado a sério é o fato de que os treinadores cobram resultados
e empenho dos atletas, como ocorre em times mais jovens. “E quando você
enfrenta um time forte, de qualidade, o jogo fica ainda mais disputado”,
observa Tânia. “Muitas vezes, quem está de fora pode achar que o jogo tem um
ritmo mais lento, mas para quem está na quadra é pura emoção, adrenalina”,
acrescenta a professora aposentada, que nunca havia praticado esporte – exceto
queimada – antes de entrar para o vôlei adaptado.
Das salas de aula para as quadras
Creusa Pinto lembra que tudo começou
há mais de 15 anos, através de uma iniciativa do Sesi, com o professor Alencar
e o técnico Inaldo. No começo, era a partir de 50 anos, depois mudou para 60.
“Eram professoras que saíram da sala de aula para a quadra, mas nunca tinham
praticado esporte e não sabiam o que fazer”, disse Creusa. Diferentemente de
algumas de suas companheiras, ela conta que sempre praticou esporte: “eu corria
forte os 100 metros e jogava basquete”. Hoje, além do vôlei, ela adora dançar.
“Ficarei feliz se morrer na quadra ou dançando”.
Poucas diferenças
Segundo as jogadoras, a modalidade
adaptada tem poucas diferenças em relação ao esporte tradicional. “O número de
atletas na quadra é igual e o posicionamento também, mas nós podemos pegar a
bola com a mão e passar para a companheira do time. Além disso, são três sets
de 15 minutos cada e a rede é posicionada um pouco mais baixa”, revela Tânia
Moreno. Ela destaca, porém, que em partidas muito disputadas o set pode se
prolongar e chegar a até 20 minutos.
Outras diferenças são: quase ninguém
dá manchete (só quem já jogou vôlei), o saque é feito lançando-se a bola, e não
batendo nela, não há cortada e ninguém pula no bloqueio. “Outro item é que, no
terceiro toque, nós pegamos a bola e colocamos na mão da atacante”, explica
Tânia. Creusa Pinto esclarece que “quem da manchete e são
ex-jogadoras de vôlei na fase de campeonatos colegiais são: eu, Tereza
Bernadete, Marta Lotfi e a Luiza, do time de 70 anos”.
Dificuldades
Apesar do bom desempenho em
competições, tanto nos Jogos Regionais quanto na Liga de Vôlei Adaptado de
Itapetininga e Região, o time enfrenta muitas dificuldades, como a falta de
estrutura e patrocínio. “Representamos a cidade, mas são poucas empresas que
nos apoiam: são casos isolados, que acontecem porque os integrantes do time vão
atrás das firmas”, comenta Tânia. As atletas também esperam a reabertura do ginásio
Mário Carlos o mais breve possível, para que possam retomar a rotina de três
treinos semanais. Como o ginásio está fechado, o time está treinando duas vezes
por semana, no Ayrton Senna, em Vila Barth.
“Falta estrutura; a terceira idade
aqui não é uma maravilha. Se os jovens vão atrás de seus direitos, nós também.
Os velhinhos também mordem”, disse Creusa, acrescentando que o time chegou a
custear uniformes do próprio bolso. “Em Santos, chegamos a ficar sem condução”,
afirmou a atleta. “O engraçado é que, quando fomos para a final, aí apareceu o
pessoal da Prefeitura; até descobriram o horário do jogo”, declara Tânia.
As mulheres reconhecem que os
problemas atingem também outros esportes, mas esperam que a situação melhore
com a realização dos Jogos do Idoso. “O ambiente é ótimo! Participar dos Jogos
é a sensação mais gostosa que existe; fazemos amizades e conhecemos todo mundo.
Até dormimos no chão, como nos jogos dos jovens”, afirmou Tânia.
Benefícios
Além de resgatar valores como
amizade, companheirismo e lealdade, a prática esportiva traz benefícios à saúde
das atletas. “Não tomo remédio para nada”, diz Tânia, revelando que dorme muito
melhor depois do treino e que sente falta do esporte quando fica muito tempo
sem jogar ou treinar.
“O esporte é tão gostoso, mas você
tem de saber seus limites. Aqui ninguém tem a saúde 100% e muito acham que
precisam estar 100% para jogar, mas não é assim”, disse Tânia. Para as
jogadoras, um momento marcante na trajetória do time foi a participação no
torneio comemorativo aos 100 anos da imigração japonesa no Brasil, realizado em
2008. Para os JORI que acontecerão em Itapetininga, a expectativa do time,
treinado pelo técnico José Nunes Júnior, é grande.
JORI
Programados para o próximo mês de
Abril, os Jogos Regionais do Idoso (JORI) foram transferidos para Agosto. De
acordo com a Secretaria de Esportes e Lazer, o evento ocorrerá no período de 05
a 09 de Agosto,, com abertura programada para o dia 6, no Ginásio Ayrton Senna
da Silva, em Vila Barth. A nova data foi confirmada pelo Governo do Estado de
São Paulo, em publicação no Diário Oficial do último dia 20. O evento esportivo
estava previsto para ser realizado, inicialmente, entre os dias 08 e 12 de
Abril, mas houve mudança por remanejamento administrativo. O JORI visa promover
a integração do idoso na sociedade por meio de atividades físicas e
desportivas, tendo papel fundamental na valorização, promoção da saúde e
bem-estar dos mesmos. Em Itapetininga, os participantes com idade mínima de 60
anos estarão disputando as seguintes modalidades: Atletismo, Bocha,
Buraco, Coreografia, Damas, Dança de Salão, Dominó, Malha, Natação, Tênis, Tênis
de Mesa, Truco, Voleibol e Xadrez. A previsão é de que duas mil pessoas, entre
atletas e dirigentes, estejam envolvidas durante a competição, destinadas aos
Municípios que compõem a DERL-Delegacia Regional de Esporte e Lazer de
Sorocaba. Os Jogos Regionais do Idoso é uma promoção conjunta do Fundo Social
de Solidariedade do Estado de São Paulo, Secretaria Estadual de Esporte, Lazer
e Juventude, Fundo Social de Solidariedade de Itapetininga e Secretaria
Municipal de Esporte a Lazer de Itapetininga. Esta é a 19ª edição dos jogos.
Segundo o secretário Osmar Júnior,
sua pasta também está pleiteando junto ao governo federal a liberação de
recursos extras do Ministério do Esporte para serem utilizados na reforma geral
do ginásio Ayrton Senna. Também está sendo negociada a criação de um time
profissional de vôlei no município, com base na Lei Federal de Incentivo ao
Esporte.
Fotos: Divina Maria/Divulgação
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