Aos
42 anos, o jornalista, ator e autor teatral Rogério Sardela fala de
sua paixão
pelo teatro, jornalismo e da dificuldade em viver de arte no Brasil
Em entrevista exclusiva para o Marconews,
o jornalista, ator e autor teatral Rogério Sardela (foto), conta suas
experiências no jornalismo, sua paixão pelo teatro e pela música. Casado com
Patrícia Sardela e pai de quatro filhos: Kátia, Bryan, Luan e Fernando (e avô
de Lucas, de um ano e três meses), Rogério revela que a paixão pela escrita
surgiu antes do amor pelo teatro. Com passagens por vários órgãos de imprensa,
ele coleciona histórias pra lá de interessantes e pitorescas. Em sua
trajetória, jornalismo, teatro e cultura caminham lado a lado.
Veja nesta matéria algumas das
passagens marcantes de uma vida pautada pela arte, mas que também deixou sua
marca na arte e cultura itapetininganas.
Marconews - Conte um pouco de sua história. Como se
interessou pelas artes, em especial o teatro? E como foi sua experiência no
jornalismo? Por que
decidiu seguir a sua profissão? Sua família, teve influência na sua decisão?
Hoje você atua na área?
Rogério Sardela - Antes mesmo da
descoberta do teatro, o talento para a escrita já se mostrava na adolescência.
Fui uma criança que gostava de assistir novelas, então escrevia histórias em
quadrinhos naqueles cadernos de brochura e espirais escolares (pequenos) e
inventava minhas histórias, recheadas de personagens e mostrava aos amigos.
Devia ter por volta de 15 anos. Foram inúmeras ‘novelas’ em quadrinhos. Aos 18
anos havia terminado de escrever mais uma história, cujo título era ‘Festa de
Arromba’. Foi então que li num jornal que o município de Campina do Monte
Alegre procurando novos talentos, para artes diversas. Entrei em contato com a
Secretaria de Cultura daquele município, falando de meus textos. O retorno fora
positivo e sem aviso prévio, tomei um ônibus e segui para lá, com o objetivo de
conversar com o responsável. Lamentavelmente a pessoa com quem deveria falar
havia viajado para Itapetininga e nos desencontramos. Tal pessoa era o saudoso
ator Altair Lima, então responsável pela pasta de Cultura de Campina do Monte
Alegre. Acabei deixando o original da história, sem possuir qualquer cópia,
para que Lima pudesse ler e posteriormente me dar um retorno, o que nunca
aconteceu, pois telefonei diversas vezes para lá e diziam que ele não estava ou
que havia deixado a Prefeitura.
Ainda aos 18 anos, apresentado pelo amigo Jorge
Abelardo de Barros, conheci o Grupo Teatral Ciranda da Lua, dirigido por
Maurício Lima Oliveira. O ano era 1993.
Antes, minhas únicas experiências foram fazendo figuração na Paixão de Cristo,
em 1990. No primeiro ano de Ciranda da Lua participei de três montagens, sendo
Pequenos Trechos de Uma Grande Obra (que reunia pérolas de Shakespeare). Nesta,
fiz um Romeu cômico para o clássico ‘Romeu & Julieta’, além de A
Cartomante, onde declamei um poema de Álvares de Azevedo chamado ‘Se eu
morresse amanhã’, o qual gosto muito e o infantil Pluft, o Fantasminha, de
Maria Clara Machado, interpretando o marinheiro João. Esta montagem de Pluft fez grande sucesso
entre crianças e adultos e as apresentações ocorreram no extinto Grêmio
Estudantino Cel. Fernando Prestes (atual biblioteca Municipal Dr. Júlio Prestes
de Albuquerque). Em meio a tudo isso sempre fui uma pessoa que gostava de ler.
Desde criança frequentava a biblioteca e lembro-me até hoje do primeiro livro
que li naquele espaço: O Reizinho Mandão, de Ruth Rocha, por volta dos dez
anos. Li muito as histórias do Cachorrinho Samba, Alice no País das Maravilhas
e outros da coleção Vagalume.
A leitura incluía jornais como Estadão, Folha
de São Paulo, Notícias Populares e jornais locais, como Nossa Terra, para o
qual escrevi uma carta em 1994, sem jamais imaginar que viria dentro de pouco
tempo a integrar o time de colunistas e em seguida, a própria Redação. Faço uma
observação que entre 1992 a 1995, ao mesmo tempo em que participava do Ciranda
da Lua, também gostava de cantar, aliás, a paixão pela música começou em 1989,
quando mantinha com amigos um grupo de dublagens chamado Space Star. Com o fim
do grupo, em 1992 decidi cantar utilizando karaokês e fui convidado para cantar
em saraus culturais (inclusive um deles foi em 1994, dentro do recinto da Expo-Agro),
além de clubes e fiz algumas apresentações na extinta SP Sul TV, nos programas
da Paula Guarnieri e do Ivan Barsanti ao lado da Regina Soares. O teatro acabou
tomando mais espaço em minha vida e a música acabou sendo deixada de lado, mas
nunca esquecida, pois ainda tenho planos para esta arte. Na adolescência compus
várias letras românticas, estilo que gosto muito.
Rogério Sardela na redação do jornal Nossa Terra, nos anos 90 |
Em janeiro de 1995, descobri que minha amiga de
infância, Leila Rosana Assunção de Meira (a Leila Corinthiana), era
colaboradora do jornal Nossa Terra. Conversamos sobre minha vontade de integrar
o jornal. Então redigi algumas notas sobre os famosos da TV e apresentado ao
editor Hélio Rubens de Arruda e Miranda, acabei fazendo minha estreia no NT,
como carinhosamente chamávamos o jornal Nossa Terra. Lembro-me daquele sábado,
como costumeiramente comprava o exemplar e fiquei surpreso ao conferir que
minha coluna havia sido publicada sob o título de ‘Mundo Artístico’. A experiência com o jornalismo foi
fantástica, pois através dela pude exercitar ainda mais a escrita, reportando
sobre diversos assuntos, sendo não somente redator, mas também repórter e
fotógrafo. Não se usava a Internet como nos dias de hoje, bem como as máquinas
fotográficas digitais, mas o bom e velho filme. O teatro e jornal caminharam
juntos, mas um ano antes, em 1994, participei da encenação de O Auto da
Compadecida, de Ariano Suassuna, interpretando o Padeiro. Em 95 ainda fiz O
Sonho de Uma Noite de Verão, encerrando assim minha trajetória no Ciranda da
Lua, para no mesmo ano criar o grupo teatral Corpo & Alma, que me deu a
liberdade de trabalhar com meus próprios textos teatrais.
A trajetória na imprensa não parou. Depois do
Nossa Terra fui convidado a integrar a equipe do Jornal Rota 21, passando ainda
pelo Jornal Falando D, Jornal Correio de Itapetininga e O Dia Jornal. Permaneci
um longo tempo como colunista do Jornal Cidade, da Maria Aparecida Rodrigues
dos Santos, irmã do saudoso Osmar, da Gazeta de Itapetininga. Não posso deixar
de mencionar que a mesma equipe de Redação do NT ainda era responsável pelas
matérias do delicioso e polêmico tablóide O Popular de Itapetininga. Neste caso, o Pop, teve uma edição que entrou
para história, às vésperas das eleições de 1996, quando denunciou uma manobra
vereadores da Câmara local, que aprovaram o aumento de seus próprios salários
para o próximo mandato, o que despertou a ira de alguns edis, que mandaram
apreender os exemplares e até mesmo funcionários foram parar na delegacia, mas
verdade seja dita, o fato só fortaleceu o ‘jornal corajoso que diz o que é
preciso’ (slogan usado à época pelo O Popular). Outra experiência inusitada que
tive como repórter para O Popular aconteceu num velório. Um cidadão havia
morrido na Santa Casa de Misericórdia local por possível negligência médica. O
velório estava cheio e lá fui eu, com a câmera de filme e um bloco de
anotações. Estava ao lado do caixão, louco para fazer uma foto, mas com receio
e medo de ser expulso do ambiente, afinal, o clima ali era de tristeza. Foi
quando um familiar do falecido se aproximou e perguntou se eu estava
pretendendo fotografar. Então perguntei se ele gostaria. Com a afirmação, era
tudo o que eu mais queria. Fiz o trabalho jornalístico e ainda encaminhei pelo
correio um exemplar da reportagem para o irmão do falecido. Em 1995
Itapetininga ganhava a Revista Visual, do colunista e fotógrafo Zézinho
Trindade. Também tive a honra de escrever para várias edições. Conheci Zezinho
em 1994, como seu convidado para o Sarau Cultural da Expo-Agro. Outra matéria
envolvendo velório, desta vez em 1998, já no Jornal Rota 21. Alguém havia
colocado um bilhete embaixo da porta da Redação avisando que um homem havia
morrido ‘às minguas’ em plena via pública e que era para a reportagem
comparecer ao velório. Lá fui eu para mais uma missão. Estranhei pelo fato de
que não havia ninguém velando o corpo, já que todos os familiares estavam do
lado de fora daquela sala. Fui para o lado do caixão e então entendi a razão de
ninguém estar ali. O corpo estava exalando mau cheiro.
Voltando ao teatro, com o objetivo de fazer
algo diferente, escrevi um monólogo chamado Revelações de Um Cinquentão. Foi
uma experiência ótima, pois segurar a atenção do público, sozinho, por 50
minutos, não é fácil. Encenei esta peça em 2010 e atualmente retomo o texto,
para apresentá-la em breve, com algumas alterações. Já na era da Internet, no
ano 2000 comecei a escrever para o site ROL – Região On-Line, do editor Hélio
Rubens de Arruda e Miranda. Em 2013 fui redator de O Dia Jornal, tendo este ano
de 2016 participado da Revista Top da Cidade com a série de entrevistas Por
Onde Anda?
Tanto no teatro quando no jornalismo tudo
aconteceu por iniciativa própria. A família não me influenciou, mas sempre torcem
por tudo que faço. Sim, continuo nas
duas áreas, mas como disse em outro trecho, tenho projetos para a música e
acabei de disputar pela primeira vez as eleições para vereador. (Nota da redação: Rogério Sardela teve 147
votos; ele é filiado ao PTN).
Marconews - Como é viver de arte em
uma cidade como Itapetininga? Na sua opinião, o que precisa melhor na cidade
nesta área?
Rogério
Sardela
- Quando se está começando, ‘viver da arte’ é muito gostoso, mas com o passar
do tempo percebe-se que o artista não vive só de aplausos. Até a estreia muita
coisa acontece. O sucesso de um espetáculo não se faz apenas de plateia e vai
muito além do texto, da direção, da escolha dos atores e claro, de apoio
(patrocinadores), coisa que em Itapetininga sempre foi muito difícil. Comigo
não foi diferente. Foi amor à arte mesmo, mas passados 23 anos, lamentavelmente
estamos na mesma situação no sentido de apoio, ainda mais neste momento de
crise financeira que o País atravessa. Penso que Itapetininga ainda não possui
seu tão sonhado Teatro Municipal. Tem sim, espaços improvisados, mas um teatro
não. Temos o do Sesi, espetacular, mas é privado. O saudoso diretor e ator
Antonio Balint dizia que queria que Itapetininga fosse conhecida como a Terra
do Teatro, assim como Tatuí é a Terra da Música. Esta é uma bandeira que
defenderei. Outra resistência que sempre existiu é a do próprio público, não
acostumado a prestigiar teatro, mas aos poucos a nova geração de adolescentes
está mais aberta para esta arte.
Marconews – Você está
preparando uma edição especial da Semanart, evento promovido pelo Jornal Nossa
Terra nos anos 90. Qual o objetivo deste evento agora?
Rogério
Sardela - Em
janeiro de 1997 o Jornal Nossa Terra promoveu a Semanart – Semana de Artes no
Clube Venâncio Ayres. O evento reuniu colaboradores que apresentaram suas
experiências com passarela, teatro, exposição de obras de artes, músicas e
palestras. Como sugestão do editor Hélio Rubens,
estou preparando uma nova edição, cujo objetivo é o reencontro de funcionários,
colunistas, amigos e leitores do Jornal Nossa Terra, com apresentações
culturais.
Marconews
– Você é muito ligado à cantora Katia. Como você avalia o mercado de arte, principalmente
música, atualmene? Há perspectiva de crescimento?
Rogério
Sardela
- Minha amizade com a Kátia é bastante antiga. Eu tinha apenas 13 anos quando a
música ‘Qualquer Jeito’ estourava nas rádios e estava em primeiro lugar no
programa Globo de Ouro. Quem tem mais de 35 anos lembra de Kátia, a cantora
lançada por Roberto Carlos. Sonhava em conhecê-la. Isto foi possível quando
iniciei meu trabalho no Nossa Terra, através de uma entrevista via fax e desde
então não perdemos o contato. Cheguei a batizar minha primeira filha com seu
nome, em homenagem à cantora, que pessoalmente conheci no ano 2000, quando eu
trabalhava como assessor de imprensa no Sindicato dos Comerciários. Kátia, para
quem não sabe, trabalha com informática para deficientes visuais e ajudou no
desenvolvimento e divulgação do software Dosvox, então veio fazer o lançamento
do programa em Itapetininga, no referido sindicato. É uma pessoa muito querida
e amada pelo público, com quem falo praticamente todos os dias. Kátia está
gravando novo CD e estou agenciando diretamente seus shows. Com certeza fará
apresentação na cidade.
O mercado de artes
sempre sobreviveu, com crise ou não. Há espaço para todos. É fato que hoje a
crise atinge a todos, independentemente se é famoso ou não. Ainda sobre teatro,
ao mesmo tempo em que ensaio Revelações de Um Cinquentão, escrevo uma nova
comédia, que terá quatro personagens masculinos. Amo escrever comédia, mas
adoraria enveredar para um drama quem sabe...Atualmente também sou membro da
diretoria do CRI – Clube Recreativo Itapetiningano, para o qual escrevo o livro
sobre seus 100 anos.
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