Mudanças climáticas são aceleradas pela ação humana
Ilha de lixo localizada no Oceaano Pacífico |
Nos últimos
anos, mudanças climáticas extremas, provocadas pelo aquecimento global (que por
sua vez é acelerado pela ação do homem) têm feito os cientistas se debruçarem
sobre o assunto, alertando sobretudo para os perigos de o planeta enfrentar um
futuro sombrio. O assunto é tão importante que foi abordado pelo
primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, em seu discurso na Assembleia Geral
da ONU (Organização das Nações Unidas), em setembro último. Ele destacou a
necessidade da humanidade se unir para “combater as mudanças climáticas”, e
ainda deu um puxão de orelha no mundo. “esta geração se comporta como
adolescentes. É preciso amadurecer”.
O alerta de
Johnson, que no passado chegou a duvidar do aquecimento global e das mudanças
climáticas, mostra como este tema está ligado à própria existência da raça humana.
Temperaturas extremas, secas, desmatamentos, incêndios florestais que consomem
grandes extensões de mata e até cidades, chuvas torrenciais. Tudo isso foi
registrado no planeta em 2021. E é claro que tudo isso afeta a vida na Terra.
Por isso, cientistas e lideranças afirmam que algo precisa ser feito desde já.
Neste
domingo, 31, começa a COP 26, em Glasgow, na Escócia. O evento, promovido pela
Organização das Nações Unidas (ONU), reunirá as maiores potências mundiais para
discutir as mudanças climáticas. Até o próximo dia 12 de novembro, serão
discutidos assuntos como: financiamento e compensações por perdas (assuntos que
interessam principalmente aos países pobres) e a implementação efetiva do
Acordo de Paris, sobre transações internacionais de carbono e o regramento do
novo Mecanismo de Desenvolvimento Sustentável, que deverá nortear os rumos da
economia mundial.
Autoridades
de todo o planeta alertam que as mudanças estão próximas de um patamar irreversível
e que ações precisam ser adotadas desde já ou a própria existência da espécie
humana estará ameaçada.
Alimentação
A produção
de alimentos, por exemplo, que depende sobremaneira do clima, pode ser afetada
pelas mudanças climáticas extremas. No caso do Brasil, especialistas ouvidos
pela reportagem descartam a hipótese de desabastecimento, mas apontam para uma
mudança no perfil de consumo de alimentos, em razão da alta de alguns produtos.
Eles alertam ainda que os pequenos produtores são os mais afetados pelas
mudanças, já que dependem muito da água, por exemplo, e o país está passando
por uma grave crise hídrica. Mas os profissionais apontam caminhos para superar
o problema e conciliar produção com preservação ambiental e gerar renda para as
famílias no campo.
Para o Engenheiro florestal Fábio Spina França e o pesquisador
Orlando Freire, do Instituto Florestal em Itapetininga, “as mudanças climáticas
têm e terão influência direta na produção de
alimentos, quer seja através da redução e da distribuição das chuvas ao longo
do ano, quer seja no aumento da temperatura média. Estas variações,
afetam o ciclo fisiológico das plantas interferindo diretamente na sua produção
e produtividade da cultura”, afirmam os especialistas.
Sobre a possibilidade de haver desabastecimento,
França é taxativo: “não acredito no desabastecimento de alimentos. Deveremos
ter sim redução na oferta, que levará a mudança no perfil de alimentos
consumidos e da redução de desperdícios ao longo da cadeia produtiva, de
distribuição (CEASA e, supermercados) e do consumidor final”.
Embora descarte o
desabastecimento, França ressalta que os preços dos produtos podem subir no
mercado interno e isto se deve, em parte, ao fato do Brasil exportar boa parte
de sua produção.
“É a lei da oferta e da demanda”,
explica o engenheiro, “a exportação é excelente para o país, gerando divisas. Porém, com a geração de divisas deveria
ter redução dos impostos pagos em todos os produtos, principalmente com a
gasolina e diesel, que impactam no custo da produção e distribuição de
alimentos; e redução nos impostos sobre alimentos”, diz Fábio França,
acrescentando: “e por que temos que ter essa carga absurda de impostos? Para
compensar a ineficiência do Estado?”.
Desmatamento e queimadas
Área de queimada em Itapetininga
Sobre a questão do desmatamento (que ultrapassou os 10 mil km2 em 2020) e das queimadas, que no final de setembro atingiam quatro estados e o Distrito Federal, destruindo milhares de hectares de mata, França explicou que “há desmatamento que é permitido e o desmatamento criminoso. O agricultor sabe que precisa de água para produzir alimentos, carne etc. O que precisamos é coibir o desmatamento ilegal, aquele que não respeita os limites estabelecidos para preservação ambiental e que são feitos criminosamente".
Completando o pensando do colega, Orlando Freire diz que “as queimadas são outro problema a ser analisado. Existe o incêndio natural. Veja, por exemplo, a formação florestal denominada cerrado, as árvores possuem modificações adaptativas, como a casca mais grossa, pois ocorre o fogo espontâneo, devido ao calor, falta de água e plantas secas. Outro incêndio é aquele que, numa situação de extrema seca, o fogo passa a gerar suas próprias condições de propagação e se torna em uma situação devastadora. Os governos deveriam ter um sistema nacional de combate a incêndios, com aviões, helicópteros e equipes capacitadas e treinadas para combater qualquer incêndio no começo. Veja que o combate ao fogo em áreas declivosas é extremamente difícil por causa da topografia e de não existir estradas que cheguem próximo ao local de incêndio, todo esse atraso para início do combate é favorável para aumento da área queimada e de suas consequências negativas para avifauna e a vegetação natural”.
Segundo
os especialistas, existem caminhos para que os produtores rurais consigam
produzir sem degradar a natureza. Mas o primeiro passo é distinguir os pequenos
agricultores dos médios e grandes. “Precisamos aqui distinguir o pequeno, médio
e grande produtor rural, pois o perfil de degradação em cada um dos casos é
diferenciado”, explica Fábio França, acrescentando que “apesar de existirem
esses diferentes tipos de produtores, o objetivo é o mesmo: obter lucro em sua
propriedade”.
“Os
pequenos agricultores são os mais frágeis socialmente, buscando sobreviver do
que a terra lhes fornece. Usam métodos antigos de produção; poucos aprimoram
suas técnicas, quer seja devido à resistência a novos conhecimentos e técnicas,
ou ao fato de terem pouco capital de giro para implementar aumento de sua
produção”, ressalta Orlando Freire.
Para o
engenheiro Fabio Spina França, “com toda certeza, é possível conciliar a
produção com o meio ambiente. É a combinação harmônica desses dois elementos
que geram riqueza e sustentabilidade. A temática atual é a neutralização de
carbono na produção de bens de consumo, seja qual for este bem, e esta
tendência ganha força principalmente no setor dos agronegócios”, afirma
França.
De acordo com esta fonte, entre
as atividades do setor agropecuário, “uma das
mais impactantes é a pecuária, pois o metano, gás que é liberado durante o
processo digestivo dos animais é um dos principais causadores do efeito estufa,
responsável pelas mudanças que vem sendo sentidas no clima”.
Para amenizar este problema,
Fábio França cita como exemplo “os sistemas de produção em consórcio, onde se
produz árvores e pecuária, por exemplo, que têm se mostrado eficazes pra
conseguir a neutralização. Outra tendência já
consolidada é o plantio direto nas palhadas da cultura anterior. Não se faz o
revolvimento do solo tradicional com arados e grades. Está prática, tem sido
responsável principalmente pela conservação do solo, sem perdas excessivas de
solo e de umidade, condições suficientes para o estabelecimento das novas
culturas, aumentando significativamente a produtividade, principalmente as que
puxam a balança comercial brasileira; isto é constatado anualmente pela quebra
sucessiva dos recordes de produção agropecuária”, afirmou o engenheiro
Segundo
o pesquisador Orlando Freire, os pequenos agricultores são os mais afetados
pelas mudanças no clima, “porque são mais frágeis socialmente e tecnicamente”.
Iniciativas
O
pesquisador afirma que “qualquer pessoa
sobrevive produzindo dinheiro. Então, o produtor rural adotando medidas de
proteção ambiental, deve e necessita receber por esse serviço. Na propriedade
rural. o meio ambiente faz parte de um todo maior, porém não é um bem público.
Tem ainda, o repasse de verbas do estado a título do ICMS verde, que beneficiam
os municípios que preservam e conservam suas áreas naturais e nestes casos,
vários municípios da nossa região são beneficiados, principalmente os da região
de Casa Bonito e Itapeva, e os do vale do Ribeira”, diz Freire.