sexta-feira, 17 de abril de 2015

Alberto Isaac fala sobre liberdade de expressão e democracia

País mudou nos últimos 30 anos
 
 
            Decano do jornalismo regional, com 58 anos de profissão e 89 de vida (completa 90 em setembro), o veterano jornalista Alberto Isaac (foto) afirma que o Brasil mudou muito nos últimos 30 anos, período marcado pela redemocratização do país, após a ditadura militar (1964-1985).
            Isaac lembra que, durante o regime de exceção, “a censura era rigorosa, inclusive com a presença de censores nas redações dos jornais. Nessa época, o Estadão (jornal O Estado de São Paulo) costumava publicar receitas e poesias na primeira página”, afirma o jornalista. A prática acabou se tornando uma forma velada de protesto contra a censura, pois o leitor ficava sabendo que a poesia ou receita entrou no lugar de uma matéria censurada.
            Embora estivesse em plena atividade durante a ditadura, Alberto Isaac garante que nunca sofreu qualquer tipo de pressão. “A nossa Região é tranquila; apenas uma única vez um militar me procurou querendo saber porque eu criticava o então prefeito Joaquim Aleixo Machado. Eu disse: tudo bem, vou comunicar ao jornal a sua reclamação! Fiz a matéria e mandei, mas o jornal não publicou! Foi a única vez que isto aconteceu, o Estadão não costumava censurar minhas matérias”, conta o jornalista.
            Com o fim do regime militar, Isaac recorda que os jornais também se democratizaram. “Foi um momento muito especial: cada um escrevia o que bem entendia, mas é claro que havia o critério do Chefe de redação”, diz o jornalista.
 
Evolução
            De meados da década de 80 até hoje, a imprensa brasileira evoluiu muito, segundo a avaliação do veterano profissional. “A tecnologia evoluiu muito, mas os jornais ainda têm um peso enorme”.
            Sobre as recentes manifestações que aconteceram em várias cidades do Brasil, Alberto Isaac entende que “pelo que se observa é manifestação popular motivada por descontentamento, mas tem um viés político”, ressalta o jornalista, acrescentando que “as pessoas odeiam o PT, mas tem também pessoas do bem, que estão realmente preocupadas com o país. Democracia é isso! Se fosse durante o regime militar o protesto seria proibido e, se houvesse, seria reprimido”.
Assim como a maioria da população, ele não concorda com os protestos violentos que ocorreram no ano passado. “Aquilo antes era um baderna; hoje é pacífico, mas com viés político”, afirma o jornalista.
Alberto Isaac também se lembra da inflação galopante que existia há 30 anos. “Tenho uma loja no Mercado Municipal há 56 anos; na época da inflação descontrolada, eu comprava uma calça em um dia e no dia seguinte o preço era outro”. Ela recorda de uma antiga cliente que falava que o dinheiro pipocava em sua conta. “Mas não valia nada...a inflação comia tudo”.
            Para o veterano profissional, a liberdade de expressão só é possível dentro do regime democrático. “Essa é a vantagem da Democracia”, afirma, com a autoridade de que tem quase 60 anos de atuação ininterrupta no jornalismo. “Na verdade, comecei em 1952, mas parei por quatro anos para lecionar no Vale do Ribeira, voltei a escrever para o Estado em 57 e não parei mais”, esclarece Isaac.
 
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