Adalgiza de Oliveira Barros atua na
profissão há mais de 60 anos
“A fotografia é uma mágica e a gente
viu o começo dessa magica na cidade”. A afirmação não poderia ser feita com
mais autoridade e conhecimento de causa, pois Adalgiza de Oliveira Barros, a
Dona Ziza, como é conhecida, é pioneira como fotógrafa profissional em
Itapetininga, possuindo experiência de mais de seis décadas de atuação.
Ziza acompanhou e participou da
história da fotografia na cidade, superando obstáculos, como dificuldades
técnicas, incluindo a pouca energia que Itapetininga possuía na época, e o
preconceito por ser mulher. Registrando casamentos e eventos, a pioneira
presenciou o crescimento da cidade, pois o município hoje é bem diferente do
que quando ela começou. Em seu acervo, a fotógrafa possui material histórico,
como por exemplo, fotos das antigas igrejas de Nossa Senhora Aparecida e de
Nossa Senhora das Estrelas, além de fotografias da primeira metade do século
passado.
Apaixonada por fotos, Dona Ziza
passou esse amor ao marido, o conhecido fotógrafo Theodoro Rodrigues de Barros
Neto, e aos filhos: Maria Virgilina (Vivi), José Luiz e Adriano, que agora
administram a empresa da família, a Real Foto. Mesmo aposentada e aos 81 anos,
Ziza continua a frequentar a loja, acompanhando a evolução tecnológica das
fotos digitais e também vendo a terceira geração da família começar a atuar no
ramo, através de um neto que faz o delicado trabalho de restauração de fotos.
Veja agora um pouco da história desta pioneira, que também desenvolve
importante trabalho social.
“Comecei a trabalhar com fotos aos
14 anos, primeiro fazendo serviço interno e depois, dos 19 aos 26, como
fotógrafa profissional”, lembra Ziza. Ela recorda que começou a trabalhar na
Foto Studio (rua Campos Salles), de propriedade de Primo J. Costa, “Depois fui
trabalhar com o seu Bibi, que tinha uma foto em frente ao Clube Recreativo
Itapetiningano (CRI), em cima do antigo Cine Olana; depois fui para a Foto
Princesinha, onde cheguei a gerente, até conhecer o Theodoro”, conta Ziza, que
deixou de trabalhar com fotos para ajudar o marido, na época proprietário do
Bar Nossa Senhora de Fátima, quase na esquina da rua Pedro Marques com Virgílio
de Rezende.
Mas o serviço no bar era dispendioso
e desgastante e, ao nascer o terceiro filho, Adriano, o casal resolveu montar
uma loja de fotos. “Como eu gostava de fotografar e já tinha experiência no
ramo, montamos a foto ao lado do bar. No começo eu dividia meu tempo entre a
loja e o bar, até que o serviço de fotos foi crescendo e o Theodoro fechou o
bar e veio me ajudar”, lembra Ziza.
Vencendo preconceitos
E experiência é o que não faltava à
Dona Ziza, já que dos 14 aos 26 anos trabalhou com fotografia e foi a primeira
mulher a aparecer como fotógrafa profissional em eventos e casamentos. “As
pessoas estranhavam quando me viam na igreja e perguntavam: mas o que é isso?”, lembra a veterana
profissional, rindo.
Outra barreira vencida foi a de
fotografar ocorrências policiais, como acidentes e apreensão de drogas. “Como
não tinha fotógrafo perito naquele tempo, o delegado, que era amigo do meu pai,
veio pedir para eu fazer as fotos; meu pai deixou desde que uma pessoa de
confiança me acompanhasse”, disse a fotógrafa, ressaltando que, nesse tempo,
fez muitas fotos tristes, como de cadáveres, “Mas depois fiz muitas fotos
alegres também”, afirmou.
Uma passagem interessante aconteceu
quando ela foi chamada para fotografar um acidente nas proximidades do distrito
do Gramadinho. “Quando eu estava pegando minha máquina para fotografar, veio um
guarda e perguntou: O que você tá fazendo
aqui mocinha? Aí o taxista que me levou falou que o delegado tinha pedido
para eu fotografar”, lembra Ziza. Em outra ocasião, foi fotografar três pés de
maconha apreendidos pela polícia em uma residência. “Hoje se fala em maconha
com a maior naturalidade, mas naquela época era tabu. Eu mesma só conheci
quando fui fotografar”.
Já em seu próprio negócio, Adalgiza
fazia de tudo, desde preparar a parte química para a revelação de filmes, até
viajar para cobrir eventos em cidades da Região, como São Miguel Arcanjo,
Guareí e Buri, entre outras. Ela lembra que à noite, ao lado do marido,
revelava, recortava e deixava os filmes para secar, tudo feito manualmente.
Em busca de água
Embora nessa época não houvesse
tanta preocupação com a água, Ziza pegava o carro, colocava os filhos dentro e
sair recolher água pura das nascentes do município, ideal para fazer o químico
usado na revelação.
“Tudo era bem diferente de hoje, da
era digital”, comenta a fotógrafa. Com o tempo, a empresa da família foi
crescendo e se modernizando. Mudou de endereço, permanecendo na Virgílio de
Rezende, mas desta vez em prédio próprio.
Com a entrada do filho mais novo,
Adriano, a empresa passou – e ainda passa – por um processo de modernização
para acompanhar a constante evolução da tecnologia, principalmente nos últimos
anos.
Assim como a fotografia, a cidade
também evoluiu e mudou muito nestes anos todos, de acordo com a avaliação da
fotógrafa. “Hoje, com a foto digital, você tira a foto e vê o resultado na
hora; antes, tinha de esperar revelar o filme para ver como ficou a foto. E
houve uma época em que Itapetininga não tinha energia suficiente. Então para
tirar foto 3x4 tinha de ser uma por uma, pois tinha de ver no sol se ficou boa
a foto, já que a luz não era suficiente. A gente abria a cortininha no sol e
contava, se contasse errado perdia a foto e depois de pronta tinha de ver no
sol se realmente ficou boa”.
Certamente, uma época bem diferente
da atual, com ruas asfaltadas, energia boa e tecnologia cada vez mais evoluída.
Mas, assim como em outras atividades, talento e profissionalismo são
indispensáveis para reali\zar um trabalho de qualidade. “Hoje em dia, até
celular tira foto, mas quem quer qualidade deve procurar um profissional. Um
álbum de casamento, por exemplo, é uma obra de arte e só um fotógrafo
profissional pode fazer”, aconselha a veterana fotógrafa.
Além
do trabalho profissional, Dona Ziza sempre desenvolveu trabalho social e
religioso, atuando na catequese na paróquia de Nossa Senhora das Estrelas. Ela
também sempre ajudou a comunidade do bairro da Rocinha e hoje, é com satisfação
que vê entrar em sua loja homens feitos, pais de família, que quando crianças
foram catequizados por ela. “Deus foi tão bom comigo que me deu tudo que pedi:
um bom casamento e filhos maravilhosos”, conclui Ziza.
Texto: Marco Antônio
Fotos: Arquivo pessoal
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