Visitar a feira é um
ato social que passa de geração em geração
Feira livre na avenida Peixoto Gomide |
Frequentar
a feira livre, geralmente aos domingos, para comprar produtos fresquinhos e com
preços mais em conta, é uma tradição que passa de pai para filho. Mas a feira é
muito mais do que o ato de fazer compras. É um ato social e uma oportunidade
para rever amigos, colocar a conversa em dia, reclamar da inflação quando o
preço do tomate (sempre ele!) sobe muito, fazer campanha política (como já está
acontecendo) ou simplesmente passear. Fazer
a feira, como se diz habitualmente, é uma tradição que faz parte da cultura
do nosso povo. Não é à toa que existe até uma data para homenagear os
feirantes: o dia 25 de agosto.
Neste
dia, o Marconews publica uma matéria especial com Claudinei Vieira,
que trabalha na feira livre há mais de 40 anos. Você verá também um pouco da
história das feiras e descobrirá a importância desta tradição, que colaborou
para o surgimento do Capitalismo.
Mais de 40 anos de
feira
Claudinei era criança quando foi trabalhar com o pai, Francisco |
Quando tinha 11 anos de
idade, no final dos anos 70, Claudinei Vieira começou a ajudar o pai,
Francisco, a vender produtos na feira-livre da avenida Peixoto Gomide, em
Itapetininga. A família tinha um pequeno sítio no bairro da Rocinha e o seu
Francisco vendia parte do que produzia na feira,
Claudinei
trabalhou na feira com o pai durante seis anos. “Depois cresci, casei e deixei
de trabalhar aqui na feira, mas nunca deixei de frequentar a feira”, conta
Claudinei, que há seis anos voltou a ter uma banca na feira, onde trabalha
auxiliado pela mulher e a filha, Cristina. A história da família está muito
ligada à feira-livre. Dos sete filhos do seu Francisco Motta Vieira, três
trabalharam com o pai mantendo uma banca na tradicional feira da avenida
Peixoto Gomide, a tradição foi passada para os netos e atualmente é preservada
por Claudinei; seu Francisco faleceu há três anos.
“Meu pai começou em 74,
se não me engano, mas eu era muito novo, não lembro direito”, conta o feirante,
lembrando que a banca vendia produtos como ovos e galinha caipiras, alho,
feijão arroz e queijo. Claudinei lembra que a feira era só na avenida
propriamente dita e não havia bancas na calçada em frente as escolas, “Hoje a
feira mudou; tem mais variedade, mas o pequeno produtor não sobrevive mais”,
afirma. Ele mesmo não é mais produtor. “Tenho um sítio na Rocinha, mas produzo
só para o gasto”,
Até há dois anos, Claudinei
trabalhava em uma indústria, mas hoje tira o seu sustento da feira. Ele procura
manter a tradição iniciada pelo pai. “Era uma coisa que ele gostaria e também
para lembrar o começo do meu pai na feira, que foi uma época difícil”. Nestas
quatro décadas, muita coisa mudou; atualmente, cerca de 500 pessoas passam pela
banca de Claudinei todo domingo; ele faz feira de quarta a domingo.
Claudinei com a filha, Cristina |
História
Para quem
pensa que essa “moda” de fazer feira é coisa recente, saiba que tudo começou
cerca de 500 anos antes do descobrimento do Brasil. A partir do renascimento
comercial e urbano no século XI, teve início na Europa uma transformação na
economia, na vida social e principalmente na paisagem urbana. Nessa época, o
artesanato se destacou como uma das principais mercadorias comercializadas. Mas
vender não era tarefa fácil, pois os comerciantes tinham de ir de um lugar para
outro para poder vender suas mercadorias. Os principais lugares onde
comercializavam era na beira das estradas, perto das cidades, onde passavam várias
pessoas. As feiras ficavam nos burgos (centro das cidades). Os núcleos urbanos
se ampliaram e novos muros foram construídos para abrigar a expansão urbana e
para proteger as atividades comerciais que eram realizadas nos burgos, centro
da vida social europeia.
Com o
desenvolvimento das feiras foram surgindo novos métodos comerciais como os
juros e o uso da matemática, essas evoluções foram essenciais para a criação do
sistema capitalista.
As principais
feiras ficavam nas regiões de Champanhe, na França, na atual Itália (Gênova e
Veneza) e em Flanders (atual Bélgica). Inicialmente as feiras exerciam
atividades comerciais mais locais, mas com o passar do tempo elas se tornaram
amplos espaços de negócios, recebendo e comercializando produtos de diferentes
regiões da Europa, África e Ásia.
O
desenvolvimento das atividades comerciais nas feiras foi fundamental para a
introdução da moeda como base de troca (compra e venda) de mercadorias. Como as
feiras passaram a exercer o intercâmbio entre os diferentes lugares do
continente europeu e do mundo, diferentes moedas eram utilizadas nas
negociações.
A partir de
tal momento surgiu uma nova atividade proporcionada pelo comércio das feiras:
os cambistas, comerciantes que se especializaram na troca de diferentes moedas.
Eles exerceram importante papel para o desenvolvimento comercial, pois os
bancos e banqueiros surgiram a partir dessa atividade cambista de troca de
moedas. Criaram-se novos sistemas de pagamentos, como letras de feira e letras
de câmbio.
Com a internacionalização
das atividades comerciais que as feiras propiciaram, iniciou-se o
desenvolvimento de um novo sistema de administração comercial, que utilizava
taxas de juros e métodos matemáticos, como o sistema decimal. Essas inovações
levaram a uma racionalização das atividades comerciais e foram fundamentais
para o início do sistema capitalista racional: as taxas, os juros, o capital,
os bancos e os lucros.
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