sábado, 5 de maio de 2012

Ex-combatente fala sobre a Guerra

Neste dia 5 de maio, é comemorado o dia do Expedicionário e do ex-combatente. A data lembra os brasileiros que lutaram na Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e que ajudaram a vencer o poderoso exercito alemão, principalmente na Itália.
            Prestes a completar 90 anos (no dia 4 de julho), o itapetiningano Vitório Nalesso (foto) é um dos muitos homens que foram convocados a lutar na Europa. Desde meados de 1944, até o fim da guerra, em maio de 1945, Nalesso treinou muito para entrar em combate. Ele e outros pracinhas precisaram passar por uma série de exames e exercícios.
            Nascido no bairro da Chapadinha, Nalesso ajudava o pai na roça quando, aos vinte e poucos anos, “fui chamado para servir o Exército Nacional, junto ao 5º Batalhão de Caçadores, sediado em Itapetininga”, lembra o ex-pracinha. Ele se apresentou no dia 5 de março de 1944 e foi incorporado no dia 25 desse mesmo mês. Vitório Nalesso ficou no 5º BC até junho de 44, quando foi para São Paulo, no 4º Regimento de Infantaria, onde fez os exames para entrar na FEB (Força Expedicionária Brasileira).
            Após cerca de 10 dias, Nalesso foi transferido para a cidade paulista de Caçapava, onde realizou treinamento, e daí para o Rio de Janeiro, na Vila Militar, sendo incorporado ao 11º Regimento de Infantaria, onde realizou mais treinamentos e exames médicos, até embarcar para Itália no dia 22 de setembro. No dia seis de outubro de 1944, os brasileiros chegaram no porto de Nápoles, e daí foram transferidos para navios menores, que os transportaram para o norte da Itália, onde lutariam contra os alemães.
            Mais de cinco mil homens chegaram em Livorno, onde os brasileiros permaneceram durante um mês, “tomamos bastante conhecimento sobre as armas que usaríamos e de como era a guerra na Itália”, conta Nalesso. Segundo ele, os brasileiros deixaram o país sem saber direito o que era a guerra. Ao todo, mais de 10 mil brasileiros chegaram para lutar na Itália nos navios que levaram Nalesso e outros itapetininganos.
 Clima terrível
            Logo na primeira noite em solo italiano, o primeiro problema: uma forte chuva surpreendeu os brasileiros, o acampamento, montado próximo a um rio, foi inundado pelas águas do manancial, que transbordou. Os pracinhas tiveram que correr para desmontar as barracas e buscar um ponto alto para ficar. Com a chuva forte, não adiantava montar as barracas de novo. O jeito foi ficar na chuva mesmo, esperando ela passar.
            Alí já deu para sentir como seria o clima na Itália, que por sinal judiou muitos dos brasileiros, acostumados com o calor. Além da chuva, os pracinhas também enfrentaram o frio, que chegava a 22 graus negativos. “Era terrível, uma coisa que a gente nunca tinha experimentado”, lembra Vitório Nalesso. Ele recorda ainda que o gelo tomava conta das trincheiras, que precisavam ser limpas constantemente.
 Equipamento
            O ex-combatente é taxativo ao afirmar que, se dependesse do equipamento bélico nacional, o soldado brasileiro “teria que voltar para casa”. Ao contrário dos brasileiros, os americanos tinham os melhores equipamentos. “Quando eles iam para a frente de batalha, era até bonito de ver; parecia que iam para um desfile, de tão bonita que era a farda”. Além disso, quando tinham que descansar, eles realmente deixavam a linha de frente e iam para as cidades mais próximas. “Nós não podíamos fazer isso. Os brasileiros dormiam e descansavam ao relento, e ficávamos a semana toda sem trocar uma peça de roupa e sem tomar banho”. Os alemães, por sua vez, também tinham um bom equipamento, além de terem homens mais experientes em combate. “Eram valentes, mas não enfrentavam o brasileiro na baioneta”.
Nalesso durante campanha na Itália
            Foi somente em Livorno que os pracinhas tomaram contato com as armas que usariam, como a metralhadora .50, a qual seria operada por Nalesso. A medida que avançavam, o inimigo estava mais próximo. “E os alemães lutavam duro”, lembra Vitório Nalesso. Para evitar serem atingidos por tiros e granadas do inimigo, os brasileiros avançavam durante a noite.
 Morte e oração
            Mas mesmo avançar de noite era um perigo, pois os alemães costumavam jogar granadas nos brasileiros. Foi assim que um artefato desses explodiu próximo a Nalesso, que seguia com seu pelotão para a linha de frente. Ele não foi atingido por estilhaços, mas caiu em cima de uma caixa de munições que levava. Até hoje ele tem problemas no ouvido direito por causa da explosão do artefato.
            Ainda por causa da explosão, ele acabou se separando de seu grupo. Sozinho em meio a escuridão, resolveu voltar pelo caminho que tinha feito. Eram cerca de duas da manhã. Ele seguia o som da artilharia. Vitório Nalesso conseguiu voltar ao quartel general da companhia, onde descansou e comeu (um café da manhã reforçado, segundo ele) antes de voltar para junto do seu grupo.
            Orientado por um oficial, seguiu por uma estrada, indo atrás de seus companheiros. Ao chegar próximo a um túnel, ele percebeu que a agua que corria pelo chão estava misturada com sangue.
“De longe, no escuro, vislumbrei o vulto de uns homens na beira da estrada, chamei forte: Aí tigrada, a cobra vai fumar e ninguém respondeu...Então me aproximei e vi que estavam mortos; levei um choque; o sangue que escorria era o que estava deixando a água turva. Eu coloquei minha mochila no chao, rezei e depois continuei meu caminho”. Nalesso acredita que eram soldados brasileiros mortos em combate que haviam sido deixados alí por seus companheiros, para que fossem levados de volta para o acampamento.
            O ex-combatente lembra ainda que o primeiro brasileiro a tombar na guerra era de Itapetininga: Joaquim Antônio de Oliveira, nascido no bairro Chapada Grande e integrante do 6º Regimento.
            O reencontro com seus amigos foi festivo e Nalesso conta que integrantes de seu pelotão já estavam à sua procura. O pracinha itapetiningano então foi para a frente de batalha, lutando até o fim da guerra.

Mulheres e crianças
Nalesso conta que os soldados tinham pouco contato com a população, nessa época constituída por mulheres, crianças e velhos, principalmente, pois os alemãs levaram os homens para lutar na guerra. Neto de italianos, ele conseguia compreender o que as pessoas falavam. E muita gente pedia comida, E os brasileiros repartiam a comida com a população, “que há muito tempo já não tinha o que comer”.
Com o fim da guerra, os brasileiros tomaram conhecimento da triste situação do povo italiano e da violência cometida pelas tropas alemãs contra a população.
Texto e Foto: Marco Antonio

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