domingo, 3 de fevereiro de 2013

Cracolinha um ano depois: quase nada mudou

Antigos barracões da Fepasa são
 usados para consumo de drogas
Quase um ano depois de denuncia feita pelo Marconews sobre a existência de uma cracolândia em Itapetininga, pouca coisa mudou na paisagem próxima a linha férrea que corta a cidade, mais precisamente onde antes estavam os barracões da América Latina Logística (ALL), na vila Arlindo Luz, entre as vilas Paulo Ayres e Prado. O local é ponto de usuários de drogas e traficantes. Segundo uma fonte anônima, o movimento nessa área torna-se mais intenso à noite, a partir das 23 horas, e vai até de madrugada. “As pessoas parecem zumbis andando ao longo da linha do trem”, disse a fonte. É intenso também o movimento de carros, inclusive alguns modelos de luxo, que aparecem para comprar drogas. A concentração de usuários e traficantes fez com que o local fosse chamado de Cracolinha, em referência à Cracolândia que existia no centro de São Paulo.
            Ainda de acordo com uma fonte anônima, as melhorias que foram feitas no terreno, como limpeza e a construção de um acesso para facilitar a passagem até a Vila Paulo Ayres, acabaram sendo utilizadas pelos dependentes e traficantes. Há relatos de pessoas que ficam escondidas em bueiros e galerias de águas pluviais, onde podem usar drogas livremente, como também emboscar passantes incautos.
O problema vem se arrastando há pelo menos um ano e nem algumas medidas adotadas pelo Poder Público, como a demolição de imóveis usados para o consumo de drogas e o isolamento dos barracões com uma cerca amenizaram o problema.
            A reportagem esteve no local e flagrou algumas pessoas no interior dos antigos barracões. Um buraco na cerca indicava ser o lugar por onde as pessoas entravam no local. Na hora em que a equipe fazia as fotos, uma moça saiu de um dos barracões; um homem que estava no local pegou uma pedra e ficou com ela na mão, em atitude ameaçadora.
            Moradores dizem que evitam passar pelo local durante a noite e madrugada, mesmo quando estão a caminho do trabalho. Ainda segundo moradores, a maioria dos usuários é jovem, alguns com menos de 18 anos.
Realidade
Como zumbis, os dependentes caminham pela linha férrea
            “O que acontece na Cracolinha é a pura realidade”, comentou André Franco, coordenador da Casa Luz, instituição que acolhe moradores de rua. “As pessoas parecem mesmo zumbis; algumas ficam dias sem comer, só pensando em conseguir alguma droga. É a chamada fissura”, acrescentou o coordenador, que toda semana leva comida às pessoas que dormem nos barracões. Atualmente, este trabalho também conta com o apoio de voluntários.
            Segundo ele, existem duas formas de trabalhar com dependentes químicos: “Uma é evitar que a dependência aconteça, através de um trabalho de prevenção; a outra é ajudar quem quer sair. Entre estes dois extremos, temos milhares de pessoas que estão na dependência, mas não há o que fazer”. Franco é contra a internação compulsória, adotada pelo governo estadual, por exemplo. “A pessoa precisa querer sair deste tipo de vida para que seja encaminhada a uma clínica de recuperação. Se não for assim, não consegue tirá-la dessa vida”.
Ponta do iceberg
            Enquanto outros municípios já possuem instituições que atuam na recuperação dos dependentes, Itapetininga sofre com o problema dos viciados em drogas ou álcool, que se espalham pela cidade.
            “A Cracolinha é só a ponta visível do problema. Itapetininga tem bolsões de pobreza e há bairros inteiros infestados pela droga, que muitas vezes é vendida em casas de famílias, com as pessoas sendo obrigadas a conviver com essa situação por seus parentes envolvidos no tráfico”, afirmou Franco.
Zumbis
            Os zumbis humanos costumam se dispersar com a chegada da Polícia Militar, mas apenas por pouco tempo. “É só a PM ir embora que tudo volta”, disse uma pessoa. Pedestres já teriam sido ameaçados a luz do dia, bem como veículos apedrejados pelos dependentes químicos.
            “Esse é um tema muito complexo que envolve ações de setores como Saúde, Promoção Social e Segurança Pública”, afirmou Eliana Fontes, assistente social e ex-secretária da Promoção Social do município. Para ela, o Poder Público deveria ocupar os galpões com atividades, o que afastaria os viciados. Atualmente, segundo ela, o espaço está cedido à Secretaria de Esportes.
Polícia Militar
            Após denúncia feita pela imprensa a PM intensificou o policiamento nos arredores dos galpões da antiga Fepasa, na Vila Arlindo Luz, região conhecida como Cracolinha. Segundo o major Marcelo Marques, subcomandante do 22º Batalhão da Polícia Militar, em um espaço de três dias, 46 pessoas foram abordadas no local, por estarem em atitude suspeita.
 
Texto e Fotos: Marco Antonio

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