terça-feira, 12 de março de 2013

Casa Luz recolhe moradores de rua e dependentes químicos

André Franco mostra planta da
futura sede da instituição
A Casa Luz existe desde 2008 e abriga dependentes químicos (álcool e drogas) e que vivem abandonados pelas ruas de Itapetininga, mas desejam se livrar do vício. O projeto surgiu por iniciativa do casal André e Lucinéia Franco. “Tudo começou no réveillon de 2008, quando minha esposa me disse que nessa época, quando todas as famílias estavam reunidas em festa, havia pessoas morando na rua e ainda mais tristes do que o normal, pois estavam sozinhas”, lembra Franco, acrescentando que a esposa sugeriu em seguida que eles preparassem o jantar e levassem para os moradores de rua. “Na hora dei risada, mas fizemos o jantar e colocamos no porta-malas do carro, encontrando a primeira pessoa quase em frente ao Genefredo Monteiro. E demos o primeiro prato de comida na rua!”, conta Franco, “o olhar daquela pessoa nos conquistou de tal maneira, que não conseguimos mais parar, levamos comida até hoje, semanalmente, para quem está na rua”.
 
Portas fechadas
 
André Franco enfatiza que sua iniciativa visa atender moradores de ruas abandonados e sem família. “Depois de um tempo, começamos a conhecer as pessoas, suas histórias e seu sofrimento; e fizemos uma triste constatação: a maioria morava na rua por opção, não por querer morar na rua, mas por opção de um estilo de vida não é compatível com a sociedade”, disse Franco, “isso mexeu conosco. Decidimos ajudar ligando para clínicas da região buscando vaga social para quem queria sair dessa vida, mas o número de pessoas (e pedidos) cresceu ao ponto de esgotarmos vagas sociais. Chegou o momento em que ninguém me atendia mais”, lembra o fundador (e atual coordenador) da Casa Luz. Ele ressalta que quem está na rua, sem família, por causa do vício, “chegou ao fundo do poço. Para muitos, as portas se fecharam de tal maneira que não tem jeito de sair sem ajuda”. Uma ajuda que ficava cada dia mais difícil de obter. Chegou ao ponto de Franco recolher em sua própria casa três pessoas que queriam sair das ruas, mas não encontravam vagas. “Ficaram em casa durante um mês, até que uma amiga cedeu uma casa na Vila Recreio, onde ficamos durante um ano”. Atualmente, a casa possui sua sede na avenida Cyro Albuquerque, mas planeja construir uma nova na Vila Paulo Ayres.
 
Casa de Recuperação
            Para Franco, o principal problema do município é a falta de uma casa de recuperação de dependentes químicos, que permita um tratamento por longos períodos, abrangendo vários aspectos, desde a parte psicológica até a religião. “Com este atendimento, a pessoa fica mais estruturada para vencer o vício, mais preparada para vencer as dificuldades”. André Franco ressalta que a internação não significa a cura, mas ajuda a pessoa nesse processo. “Se é difícil se curar com uma internação longa, imagine no período de 15 dias, como é no SUS, que só tem hospital psiquiátrico”. A Casa Luz recebe pessoas encaminhadas pelos centros de assistência social do município e até pelo Hospital Regional. “Eles não podem colocar um morador de rua, abandonado, que não tem ninguém, que está com a perna quebrada e foi atendido pelo hospital, na rua de novo. Por isso mandam para cá. Eles podem ficar o quanto quiserem ou até decidirem tocar a vida de novo”.
Franco afirma que Itapetininga não possui uma casa de recuperação de dependentes químicos ou um convênio com qualquer instituição que faça um trabalho nestes moldes. “Esse é o maior problema da cidade neste sentido”, disse, acrescentando que cidades como São Miguel Arcanjo, por exemplo, possuem três casas de recuperação de dependentes. “Em Itapeva, você procura a Promoção Social, que o encaminha à uma clinica e a prefeitura paga o tratamento”.
Sobre o fato de que muitos municípios “exportam” moradores de ruas para outras cidades, André Franco disse que “todos fazem isso. Aqui mesmo há uma entidade cujo trabalho se resumo a dar um prato de comida e uma passagem para fora da cidade para quem chega de outro município”. A exceção, segundo ele, é a cidade de Sorocaba. “Lá, o serviço social dá abrigo a pessoa por 15 dias e, quando é o caso, espera conseguir emprego e receber salário; aí, a pessoa pode retomar a vida”.
 
Prefeitura
Em nota encaminhada por email, a assessoria de imprensa da Prefeitura de Itapetininga informou que “o CAPS (Centro da Apoio Psicossocial), atende ao público em geral. Algumas pessoas acompanhadas vivem na rua, devido ao vício. Neste caso, eles ficam no CAPS nos dois períodos. O CREAS (Centro de Referência Especializado de Assistência Social) desenvolve dois projetos: um é o Blitz. Neste programa, assistentes sociais e guardas civis municipais abordam moradores de rua e os levam para abrigos, mas não é um trabalho direcionado especificamente para dependência química. Outro trabalho é o Café com Papo, em que palestrantes voluntários tratam de assuntos ligados ao bem estar, como prevenção de DSTs (Doenças Sexualmente Transmissíveis), e uso de drogas. Eventualmente, alguns moradores de rua assistem a essas palestras”.
 
Texto: Marco Antonio
Foto: Mike Adas

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