quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Feira livre: tradição que vai além das compras

Visitar a feira é um ato social que passa de geração em geração

Feira livre na avenida Peixoto Gomide


          Frequentar a feira livre, geralmente aos domingos, para comprar produtos fresquinhos e com preços mais em conta, é uma tradição que passa de pai para filho. Mas a feira é muito mais do que o ato de fazer compras. É um ato social e uma oportunidade para rever amigos, colocar a conversa em dia, reclamar da inflação quando o preço do tomate (sempre ele!) sobe muito, fazer campanha política (como já está acontecendo) ou simplesmente passear. Fazer a feira, como se diz habitualmente, é uma tradição que faz parte da cultura do nosso povo. Não é à toa que existe até uma data para homenagear os feirantes: o dia 25 de agosto.
          Neste dia, o Marconews publica uma matéria especial com Claudinei Vieira, que trabalha na feira livre há mais de 40 anos. Você verá também um pouco da história das feiras e descobrirá a importância desta tradição, que colaborou para o surgimento do Capitalismo.

Mais de 40 anos de feira
Claudinei era criança quando foi trabalhar com o pai, Francisco

          Quando tinha 11 anos de idade, no final dos anos 70, Claudinei Vieira começou a ajudar o pai, Francisco, a vender produtos na feira-livre da avenida Peixoto Gomide, em Itapetininga. A família tinha um pequeno sítio no bairro da Rocinha e o seu Francisco vendia parte do que produzia na feira,
          Claudinei trabalhou na feira com o pai durante seis anos. “Depois cresci, casei e deixei de trabalhar aqui na feira, mas nunca deixei de frequentar a feira”, conta Claudinei, que há seis anos voltou a ter uma banca na feira, onde trabalha auxiliado pela mulher e a filha, Cristina. A história da família está muito ligada à feira-livre. Dos sete filhos do seu Francisco Motta Vieira, três trabalharam com o pai mantendo uma banca na tradicional feira da avenida Peixoto Gomide, a tradição foi passada para os netos e atualmente é preservada por Claudinei; seu Francisco faleceu há três anos.
          “Meu pai começou em 74, se não me engano, mas eu era muito novo, não lembro direito”, conta o feirante, lembrando que a banca vendia produtos como ovos e galinha caipiras, alho, feijão arroz e queijo. Claudinei lembra que a feira era só na avenida propriamente dita e não havia bancas na calçada em frente as escolas, “Hoje a feira mudou; tem mais variedade, mas o pequeno produtor não sobrevive mais”, afirma. Ele mesmo não é mais produtor. “Tenho um sítio na Rocinha, mas produzo só para o gasto”,
          Até há dois anos, Claudinei trabalhava em uma indústria, mas hoje tira o seu sustento da feira. Ele procura manter a tradição iniciada pelo pai. “Era uma coisa que ele gostaria e também para lembrar o começo do meu pai na feira, que foi uma época difícil”. Nestas quatro décadas, muita coisa mudou; atualmente, cerca de 500 pessoas passam pela banca de Claudinei todo domingo; ele faz feira de quarta a domingo.

Claudinei com a filha, Cristina

História
Para quem pensa que essa “moda” de fazer feira é coisa recente, saiba que tudo começou cerca de 500 anos antes do descobrimento do Brasil. A partir do renascimento comercial e urbano no século XI, teve início na Europa uma transformação na economia, na vida social e principalmente na paisagem urbana. Nessa época, o artesanato se destacou como uma das principais mercadorias comercializadas. Mas vender não era tarefa fácil, pois os comerciantes tinham de ir de um lugar para outro para poder vender suas mercadorias. Os principais lugares onde comercializavam era na beira das estradas, perto das cidades, onde passavam várias pessoas. As feiras ficavam nos burgos (centro das cidades). Os núcleos urbanos se ampliaram e novos muros foram construídos para abrigar a expansão urbana e para proteger as atividades comerciais que eram realizadas nos burgos, centro da vida social europeia.
Com o desenvolvimento das feiras foram surgindo novos métodos comerciais como os juros e o uso da matemática, essas evoluções foram essenciais para a criação do sistema capitalista.
As principais feiras ficavam nas regiões de Champanhe, na França, na atual Itália (Gênova e Veneza) e em Flanders (atual Bélgica). Inicialmente as feiras exerciam atividades comerciais mais locais, mas com o passar do tempo elas se tornaram amplos espaços de negócios, recebendo e comercializando produtos de diferentes regiões da Europa, África e Ásia.
O desenvolvimento das atividades comerciais nas feiras foi fundamental para a introdução da moeda como base de troca (compra e venda) de mercadorias. Como as feiras passaram a exercer o intercâmbio entre os diferentes lugares do continente europeu e do mundo, diferentes moedas eram utilizadas nas negociações.
A partir de tal momento surgiu uma nova atividade proporcionada pelo comércio das feiras: os cambistas, comerciantes que se especializaram na troca de diferentes moedas. Eles exerceram importante papel para o desenvolvimento comercial, pois os bancos e banqueiros surgiram a partir dessa atividade cambista de troca de moedas. Criaram-se novos sistemas de pagamentos, como letras de feira e letras de câmbio.
Com a internacionalização das atividades comerciais que as feiras propiciaram, iniciou-se o desenvolvimento de um novo sistema de administração comercial, que utilizava taxas de juros e métodos matemáticos, como o sistema decimal. Essas inovações levaram a uma racionalização das atividades comerciais e foram fundamentais para o início do sistema capitalista racional: as taxas, os juros, o capital, os bancos e os lucros.

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