terça-feira, 5 de março de 2013

Estilo musical único, cururu pode acabar

Apresentação de cururu na avenida Peixoto Gomide
Fortemente identificado com a cultura popular brasileira, o cururu é um estilo de música de raiz que pode desaparecer. A afirmação é do apresentador e ex-radialista Comendador Pedraco, que há 28 anos mantém um espaço para apresentação de duplas de cantores e violeiros, aos domingos e quintas-feiras durante a feira-livre na avenida Peixoto Gomide e ao sábados, na feira da Vila Rio Branco.
“O cururu é o nosso folclore. Antigamente cantava na Igreja Católica. A palavra cururu quer dizer curucê, que significa cantar dentro da Cruz (dentro da igreja); era cantado em versos, com duas violas, para atrair o povo para catequisar e para a missa”, explica Pedraco. “Isso vem do tempo dos Bandeirantes e dos padres jesuítas”, acrescenta. Segundo ele, na primeira metade do século passado, o folclorista Cornélio Pires levou o cururu para fora do ambiente religioso, apresentando o gênero em circo, por exemplo.
“O nosso cururu é um pouco diferente do cururu no Nordeste”, explica Pedraco. “Cada região tem seu sotaque e modelo. Lá, é o repente”. Em quase três décadas, o ex-radlialista abre espaço para vários estilos de músicas de raiz, além da moda de viola. “Aqui vem gente de todo lugar cantar. Até do Paraná, mas lá o estilo é diferente, mais influenciado pela música gaúcha”.
O cururu tem como característica principal ser cantado por dois violeiros. “Antigamente, as violas tinham 12 cordas, simbolizando os 12 apóstolos, depois baixou para 10. No cururu o violeiro pega a carreira do A (letra A) e vai embora rimando de improviso, depois passa para o B e assim por diante”, diz Pedraco, lembrando que, antigamente, a cantoria seguia pela madrugada afora.
O apresentador enfatiza, porém, que este estilo de música raiz pode desaparecer, já que as gerações mais novas não o apreciam. “Só os mais velhos gostam e tocam”. Pedraco afirma que, se não houver estímulo. “Não só o cururu, mas a catira, o fandango e outras manifestações podem acabar”, disse.
Enquanto isso, o apresentador continua em sua luta solitária, defendendo a cultura regional. No próximo dia 10 deste mês, Pedraco promove um grande encontro de cantadores de cururu, com a participação de artistas de toda a Região.
Contribuição
“O cururu contribui para a identidade cultural por que é manifestação artística e folclórica das mais antigas. Os temas enfocados geralmente são sobre o universo caipira, sendo que nas festas rurais sempre tinha um bom desafio de cururu pra animar e divertir os muitos fãs do gênero”, afirmou Bob Vieira, ex-secretário de Cultura do município. Vieira lembra que o cururu é um gênero típico de São Paulo e confirma sua origem ligada à igreja.
“Quando os jesuítas se esforçavam para catequisar os índios no início da colonização, perceberam que eles se interessavam pelo som da viola e pelos cânticos. Foi então que resolveram divulgar os ensinamentos da Sagrada Escritura cantando em versos rimados ao som da viola. Mais pra frente virou desafio improvisado entre cantadores caipiras, que disputam pra ver quem é o melhor repentista”.
Apesar da importância do cururu para a cultura, Vieira afirma que “muito pouca coisa está sendo feita para preservar essa manifestação folclórica. Os mais jovens não se interessam em aprender a arte herdada dos pais e avós. Do jeito que está, certamente o cururu entrará para o rol dos extintos, assim como tantas outras manifestações com Cavalhada, Bugrada, Congada, etc. Se os aspectos do cururu fossem explorados nas escolas, valorizando a criatividade das rimas, o improviso cantado e o debate em desafio, se fosse ensinado aos alunos os seus fundamentos e incentivados, na certa isso contribuiria muito para que o cururu não fosse esquecido”, disse o ex-secretário.
Segundo ele, há cerca de três anos existe na cidade de Tatuí um campeonato de cururu, realizado pelo Conservatório Musical Dr. Carlos de Campos. O evento reúne cantadores da Região, que competem entre si. “É uma grande coisa que estimula o gênero, mas poderia ser estendido para outras cidades também”.
Texto: Marco Antonio
Foto: Mike Adas

Um comentário:

  1. marquinho,parabens pela sua materia ficou bem facil de entender sobre o cururu estilo de musica raiz.............bom dia!

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