segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Arte e cultura: instrumentos de mudança e inclusão

Especialistas falam sobre a questão
 
Marcos Terra

Em um mundo onde a palavra de ordem é inclusão social, com mudanças de atitudes e comportamentos visando elevar a qualidade de vida das pessoas, qual seria o papel da arte e da cultura neste contexto? Como ações ligadas à área cultural e artística podem contribuir para a inclusão de pessoas que vivem praticamente à margem da sociedade?

           Para personalidades e profissionais ouvidos pela reportagem, a arte e a cultura podem sim ser usadas como instrumentos de inclusão e mudança social. Alguns cuidados, entretanto, devem ser observados, como, por exemplo, identificar as manifestações culturais e constituir um diálogo entre o Poder Público e a sociedade, tendo como objetivo o fomento dessas manifestações.

            Ex-funcionário público municipal e ex-secretário de Cultura de Itapetininga, Marcos Vinícius de Moraes Terra, mais conhecido como Marquinho Terra, avalia que, de modo geral, “a arte e a cultura podem ser instrumentos de inclusão social, mas temos que tomar certo cuidado com esses conceitos, principalmente identificando que existe diferença entre cultura e a arte, por mais que, em uma visão genérica, as duas palavras sejam complementos uma da outra. Assim, é necessário sempre entender que não necessariamente toda arte e até mesmo todas as ideias de cultura podem servir como instrumentos de inclusão social”.

            Para ele, que atualmente se divide entre trabalhos na Capital e Itapetininga, o primeiro passo é identificar iniciativas inclusivas. “Sempre identifiquei dezenas de ações de arte e cultura que serviam como instrumentos de inclusão social, uma forma comum é a própria atuação das entidades sociais, que quase sempre têm em suas ações projetos que valorizam o desenvolvimento humano, com ações ligadas às artes como: aulas de musica, dança, capoeira, cultura do hip-hop e outras tantas, felizmente comuns no ambiente das entidades sociais”.

            Sobre as dificuldades em levar cultura e arte às camadas menos favorecidas da sociedade, Marquinho Terra afirma que “primeiro é necessário reconhecer que nessas camadas existem cultura e arte, um exemplo bem comum e que inúmeras vezes eu presenciei foram grupos musicais, de artes cênicas, e de outras modalidades artísticas falando que a cidade (Itapetininga) não tem arte, aí eu sempre me questionei: se não tem arte o que eles estão fazendo então? Com esse questionamento é bom entender uma coisa: a cultura, apesar de apagada e adormecida, sempre está presente na comunidade, o que talvez não tenha (e que deveria ser o questionamento correto) é a fruição (apreço, aproveitamento da ate) e o fomento artístico nesses setores, e isso é um problema do Poder Público, ele tem que observar, entender e discutir com a comunidade como é a melhor forma de suprir essas necessidades de apoio à criação e produção e também como criar oportunidades para que todos tenham um bom acesso à criação artística e possam apreciá-la”.

Marcos Terra conta que tem viajado muito nos últimos meses, dividindo-se entre trabalhos em Itapetininga e São Paulo, entre eles a ópera Ça Ira (foto), do compositor Roger Waters, nada mais, nada menos do que o fundador da banda Pink Floyd. “Foi uma grande escola de como se faz uma produção de nível internacional, trabalhando com uma equipe extraordinária, sem dúvida essa oportunidade (que apareceu de forma muito incomum), me rendeu um historia incrível: conhecer e trabalhar com um mito como é o Roger Waters, mas confesso que o melhor de tudo foi compartilhar experiência com as produtoras que eu trabalhei diretamente nesse período. Esse trabalho me rendeu outro convite muito inusitado: a de trabalhar como produtor executivo em cenografia com dois grandes cenógrafos brasileiros, a cenografia era um campo da produção cultural que eu realmente desconhecia e ainda conheço muito pouco, mas foi outra grande experiência. entre os projetos que participei nesse período, está o Musical “A Madrinha Embriagada” do SESI SP, realizei também pesquisa e elaboração orçamentaria de outras duas Óperas”, conta Marquinho Terra.

 
Região
O Cururu é uma manifestação
cultural típica da Região

            Ao contrário do que pensa muita gente, Marcos Terra avalia que a nossa Região é rica culturalmente. “É um campo fértil para a produção cultural. Apenas necessitamos entender melhor a nossa dinâmica regional e fomentá-la de forma concreta. Infelizmente a nossa Região se destaca na produção cultural com diversas cidades que investem todo o dinheiro da cultura em shows de aniversario de cidade e rodeios, eu sou totalmente contra quando isso ocorre em detrimento a outras politicas públicas na área da cultura, é nefasto observar prefeituras pagando por um show de duas horas valores que poderiam fomentar dezenas de projetos”.
            Terra afirma sempre pensar a cultura em termos regionais. “Não consigo não pensar regionalmente; exemplo disso é que, nesses últimos meses, meu envolvimento com a Ópera e também com os musicais, fez com que eu imaginasse como seria incrível pode levar para a minha região um espetáculo tão grandioso como esse, quem sabe qualquer momento conseguimos realizar mais esse sonho. Sempre penso regionalmente, prova é que todos os eventos que de alguma maneira eu participei, acabava dando ares de regional, foi assim na primeira conferencia intermunicipal de cultura que reuniu 11 cidades e em outros tantos como o 1° Seminário Regional do Sudoeste Paulista em Economia Criativa e Turismo que aconteceu em novembro do ano passado”.
 
Participação da sociedade

             Coordenadora do Museu Paulo Setúbal (foto), em Tatuí, e representante do SISEM (Sistema Estadual de Museus), na Região, a artista plástica Raquel Fayad entende que “o apoio do Poder Público nas ações culturais é fator decisivo para um desenvolvimento pleno na área cultural. Estamos num momento especial na área da cultura na nossa cidade. Temos o apoio do Poder Público, que a cada dia acredita mais na força deste setor e que nos fortalece ao apoiar as nossas ações. Faço parte do conselho de cultura de Tatuí e estamos num momento especial porque temos reunidos no Conselho, pessoas que visam o desenvolvimento cultural e artístico da cidade. Esta equipe deseja e acredita num futuro melhor e tem qualificações para participar ativamente da construção de uma lei, de um plano e de um fundo municipal de cultura”.

Para ela, que também é diretora do ponto de cultura AMART, o que “mais deveria ser pontuado, é a questão da participação da sociedade como fator de mudança neste processo de desenvolvimento cultural. Este é um trabalho de todos: Poder público e sociedade. Não basta cobrar, tem que participar”. A artista é enfática ao afirmar que arte e cultura “podem e devem ser instrumentos de inclusão social”.

Raquel Fayad cita inúmeras ações culturais que visam a inclusão social no município de Tatuí: “existem vários projetos sociais na cidade, que trabalham a inclusão social. COSC, Lar Donato Flores, Fundo Social de Solidariedade, Maçonaria, AMART, Rotary e Lions, Clube da 3ª idade, Apodet, APAE. Nestes locais, sempre são oferecidos cursos de artesanato, de música, de pintura, de dança, entre outros. Cursos que visam aumentar a autoestima, o desenvolvimento de uma habilidade, a troca e o convívio. Uma pessoa que se expressa artisticamente participa de modo mais efetivo no seu contexto sociocultural, contribuindo de forma produtiva e transformando o seu desenvolvimento em um constante processo de aprendizagem e de reconstrução de suas formas de expressão”.

Raquel ressalta ainda: “não acredito que o difícil seja levar cultura (às camadas mais necessitadas). O difícil é atrair o interesse das camadas, não só as mais carentes, mas da sociedade em geral. Vivemos em um mundo tão virtual e rápido que fica difícil parar para realizar algo com as mãos, ouvir, ou mesmo para se sociabilizar fisicamente. A troca não oferece conforto. Você precisa estar disposto a sair de casa para produzir, se doar, seja trocando ou se expressando. E o mundo se acostumou em tem que ter um atrativo forte que o leve, nem sempre este atrativo sendo cultural. A cultura é a forma de vida e expressão do ser humano e nós sempre estaremos nos transformando, mas mantendo as nossas raízes, concepções e formações. Vejo que estamos em plena transformação. Num momento único, mas conscientes deste caminhar, deste fazer”, finaliza a artista, comentando sobre o segmento cultural em Tatuí. Veja matéria completa na revista Hadar deste mês: www.revistahadar.com.br
 
Texto: Marco Antônio
Fotos: Facebook; Jornal Integração (Museu Paulo Setúbal). Marconews

Nenhum comentário:

Postar um comentário