quinta-feira, 1 de maio de 2014

Ayrton Senna: o herói moderno


Morte do piloto completa 20 anos; seu falecimento comoveu o país

 

            O menino paulistano de classe média-alta que se tornou um fenômeno das pistas de corrida. Um ídolo inigualável que despertou a admiração de toda uma nação. Assim era Ayrton Senna da Silva, morto em trágico acidente no dia 1º de maio de 1994, em Imola, na Itália, ao bater violentamente na curva Tamburello.
            O Brasil parou naquele dia, e nos outros que vieram depois, para acompanhar a chegada do corpo, sua passagem pelas ruas de São Paulo, o velório e o enterro de Senna.
            Mas qual o segredo de Ayrton Senna, cujo apelido de infância era Deco? Sim, ele era um piloto fenomenal, tricampeão do mundo, mas existem outros ótimos pilotos. E, analisando friamente as estatísticas, Michael Schumacher é o maior piloto de todos os tempos. Afinal, é o único heptacampeão e por enquanto reina absoluto, ameaçado, ainda que de longe, por Sebastian Vettel. E por falar em Schumacher, ele começa a dar sinais de recuperação de seu acidente de esqui.
            Mas Ayrton é único. Mestre da pista molhada, enfrentou desafios dentro das equipes por onde passou, como a preferência por outros pilotos. Mesmo sendo de família rica, Senna era brasileiro e me pergunto se o fato de ser do Terceiro Mundo não fez com que, no começo, fosse visto com certo preconceito pelas grandes equipes europeias, que poderiam ter privilegiado seus companheiros europeus. A briga com Alan Prost dentro das pistas e nos boxes é um dos marcos da carreira do brasileiro.
            Além do piloto arrojado, Senna era um cidadão fora das pistas, exemplo para muitas pessoas, justamente em um país onde exemplos de caráter, de dignidade, são cada vez mais raros. Este sim era o segredo de Ayrton Senna: perfeccionista nas pistas e nos negócios, mas um ser humano que valorizava a vida. Tanto é que, em um grande prêmio, dois anos antes de sua morte, parou o carro praticamente no meio da pista para ajudar o piloto francês Erick Comas, que estava preso no carro. Muito acreditam que a ação rápida de Senna, prestando os primeiros socorros ao piloto, salvou a vida do mesmo (veja depoimento de Comas). Pena que o próprio Senna não teve um atendimento tão rápido e eficiente quando se acidentou.
            Para muitos, a morte do brasileiro foi uma fatalidade. Pois quebrar a barra de direção logo antes da curva, passar reto e bater o carro no ângulo exato para que o braço da suspensão quebrasse e atingisse a viseira do capacete....Uma situação improvável, mas que ocorreu! E a comoção atingiu a todos, não apenas os brasileiros, mas todos que o tinham como ídolo.
            Em recente depoimento em vídeo, Galvão Bueno lembrou os momentos que se sucederam logo após o acidente de Senna. Ele mesmo precisou parar a transmissão por três vezes, naquele dia, para respirar. Em meio ao corre-corre de todos tentando ir para o hospital saber a real situação, o locutor lembra que soube da morte de Senna através de outro piloto: Gerard Berger, por sinal grande amigo de Ayrton.
            Ayrton Senna se foi, mas seu legado permanece! Certamente, o fato de que hoje as viseiras são à prova de bala é uma das muitas consequências que sua morte trouxe para o esporte. Embora amasse a velocidade, sua maior preocupação era a segurança de todos. Nisto não abria mão e batia de frente com os organizadores das provas, quando achava que algo não estava certo. Em toda a história da competição, sua morte foi a última entre os 36 tristes episódios de pilotos que morreram em função desse esporte.
            Atualmente, os carros de Fórmula 1 esbanjam tecnologia e segurança. Os motores diminuem de tamanho, mas graças a uma série de recursos tecnológicos, rendem muita potência.
            Bem diferente dos tempos do Ayrton, quando a tecnologia praticamente não existia e as trocas de marchas eram feitas no braço, como se diz. Segundo Jorge Telles, fã do piloto e integrante da turma da Placa dos 100, que há mais de 20 anos acompanha o GP do Brasil, além de ter dezenas de horas gravadas de corridas, em uma corrida, o brasileiro chegou a mudar de marchas mais de 250 vezes. “São dados oficiais e verídicos”, garante Jorjão, como é conhecido. Haja braço!
            Ayrton Senna. Este nome certamente está gravado nos corações dos brasileiros. E só podemos agradecer pelo que ele fez. Obrigado Ayrton!
 
Herói
Veja agora o depoimento do piloto Erick Comas sobre o acidente com Senna. “Quando passei na curva Tamburello, os helicópteros médicos, as ambulâncias, o carro de Ayrton, todos estavam lá. Vi que já estava colocado em uma maca, então parei meu carro. Uma paralisia me bateu, porque eu estava próximo de um homem que, dois anos antes, tinha salvado minha vida e eu não podia fazer nada para ajudá-lo. Isso foi horrível. Ele salvou minha vida, mas eu cheguei muito tarde. Eu não era médico, e o estado que ele estava era muito pior que o meu. O acidente dele foi diferente do meu. Mas me encontrar naquela situação, ao lado dele, me sentindo tão impotente, foi uma experiência horrível. Fui o último piloto a vê-lo. Foi difícil aceitar que tive a honra de fazer a última visita antes de ele ir embora. Para mim, foi o fim do livro na Fórmula 1”. Comas deixou o esporte depois do acidente de Ayrton Senna.
 
Texto: Marco Antônio
Colaboração: Andréa Vaz e Jorge Telles

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