quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

Mesmo com crise, turismo continua aquecido


Turistas estrangeiros impulsionam o setor

Praia de jericoacoara, no Ceará

          Você já deve ter ouvido falar que Deus é brasileiro! Afinal, um país tão rico de recursos naturais, com paisagens exuberantes e vastas e um povo (ainda) acolhedor, só pode ser mesmo a casa de um Ser Superior. Talvez seja por isso que muitos turistas estrangeiros visitam o Brasil, apesar da crise econômica, da infraestrutura precária e da violência nossa de cada dia. Muita gente vem conhecer as belezas deste verdadeiro paraíso tropical.
          E esses visitantes estão vindo cada vez em maior número, deixando alguns bilhões de dólares por aqui e colaborando para manter a roda da economia girando. Em contrapartida, apesar de uma leve queda, registrada em junho do ano passado, os gastos dos brasileiros no exterior foram quase 9% superiores ao mesmo período de 2017, segundo o Ministério do Turismo.
          Os dados demonstram que, apesar de todos os problemas que existem em várias partes do mundo, as pessoas continuam viajando e gastando, fazendo do turismo uma peça importante na engrenagem econômica de vários países.

Injetando dinheiro no país
A receita gerada pelo turismo internacional no Brasil, de janeiro a junho de 2018, registrou alta de 5,94% na comparação com o 1º semestre de 2017. Em visita a destinos brasileiros no período, os viajantes estrangeiros deixaram no País US$ 3,24 bilhões, US$ 180 milhões a mais que nos primeiros seis meses do ano anterior (US$ 3,06 bi). Os dados são do Banco Central do Brasil.
“Os dados reforçam que o turismo é um vetor da economia e como tal deve ser tratado”, comentou o ex-ministro do Turismo, Vinicius Lummertz. A variação positiva acompanha a alta na chegada de turistas internacionais no período. A entrada de turistas estrangeiros no Brasil aumentou 8% no primeiro semestre de 2018 em comparação com os primeiros seis meses de 2017: foram 3,15 milhões de visitantes internacionais, segundo números preliminares divulgados pelo Ministério do Turismo com base nos dados da Polícia Federal.
Cinco dos seis primeiros meses de 2018 tiveram receita superior à do ano anterior: janeiro (+17,8%), fevereiro (14,2%), abril (19,6%), maio (2,3%) e junho (0,5%). Já a despesa cambial turística, valor gasto pelos brasileiros no exterior, caiu em junho. Passou de US$ 1,51 bilhão (2017) para US$ 1,49 bi, o que corresponde a -1,5%. No acumulado do ano, no entanto, a despesa cambial foi de US$ 9,57 bilhões correspondendo a um percentual de 8,72% superior ao mesmo período de 2017 (US$ 8,81 bilhões).

Potencial do país e investimento
          Para Fabiano Orso, 44 anos, gerente geral do Hotel Ibis em Tatuí, o Brasil tem um grande potencial a ser explorado no segmento do turismo, mas há muito ainda a ser feito na área, como investimentos nas áreas de infraestrutura e segurança.
          “O Brasil é um país com um potencial de turismo enorme ainda não explorado em sua totalidade. Algumas regiões possuem o turismo como sua principal fonte de renda. A tecnologia impulsiona os destinos turísticos e somos vistos no mundo todo. Sem contar com o turismo de negócios que movimenta as grandes cidades, como São Paulo, por exemplo, sendo cada vez mais destino das grandes redes hoteleiras internacionais, gerando novos empregos para o setor de serviços”, afirma Orso. Ele também aponta o que precisa ser feito para estimular o setor: “investimento em segurança e infraestrutura são fundamentais para alavancar o mercado turístico. Desenvolver organizações que fomentem os destinos e seus atrativos e organize os interesses públicos e privados, além da criação de políticas públicas que regularizem as atividades turísticas e seus desdobramentos. Além disso, receber o turista inclui a capacitação dos profissionais do turismo, do comercio e serviços locais. Além da educação da população para que ela possa valorizar, indicar, conhecer e principalmente frequentar os pontos turísticos de sua cidade ou região”.

Futuro
Vista aérea do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro

          O gerente vê com otimismo o segmento nos próximos anos. “As pessoas têm tido maior interesse e possibilidade de viajar, conhecer lugares novos e ter novas experiências. Acredito que algumas regiões podem atingir seu máximo quanto a demanda e oferta como outras regiões ainda possuem muito a ser explorado. O turismo e seus impactos precisam ser encarados de forma sustentável para atender a necessidade de todos. Além disso há novos movimentos turísticos que fogem do convencional, abrindo outros nichos de mercado”.
          Orso ressalta ainda que “a experiência do turista se torna completa quando ele sente-se seguro e quando encontra infraestrutura que o permita conhecer os lugares para que possa extrair o máximo de sua viagem. O investimento em segurança e infraestrutura é importante também para os profissionais do turismo que geralmente possuem horários de trabalho que fogem do convencional pois se adequam a necessidade do turista. Muitos precisam sair cedo de suas casas, ou voltar tarde de seus trabalhos e precisam de transporte púbico adequado e segurança além de outros aspectos que envolvem o dia a dia de uma cidade”.
          O gerente avalia que “o brasileiro é reconhecido como um povo muito hospitaleiro, anfitrião por natureza. Aquele “jeitinho brasileiro”, de levar vantagem, vai dando espaço para profissionais capacitados e trabalhos de conscientização e educação para a população quanto a importância de receber bem um turista. A hotelaria nacional vem se mostrando preparada para atender à crescente demanda de turistas”.

Exterior
          Falando sobre os gastos dos brasileiros no exterior, que apresentaram pequena queda em junho do ano passado, mas mantém o crescimento ao longo do ano, Fabiano Orso afirma que “a insegurança na economia fez com que o brasileiro repensasse seus custos e periodicidade de suas viagens. O aquecimento da economia e a valorização da nossa moeda devem ser fatores importantes para essa retomada”.
          O gerente acredita ainda que “o turismo precisa deixar de ser encarado como uma forma alternativa de renda. Se bem estruturado através do poder público e privado, o turismo pode ser responsável pelo desenvolvimento de atividades profissionais que envolvam a comunidade, os interesses sociais, econômicos e produtivos de uma região.  Além, claro, do forte apelo cultural que envolve o turismo. Viajar é conhecer a história dos lugares, logo preservar a história é fundamental para gerar demanda turística”

Crescimento sólido
          Maior operadora de turismo da América Latina, a CVC, empresa fundada no começo da década de 70, na cidade de Santo André, no ABC paulista, cresceu 10,2% entre 2017 e 2018. A informação é da assessoria de imprensa da operadora.
          De acordo com a empresa, “as famílias brasileiras já incorporaram o hábito da viagem na cesta de consumo e a experiência da CVC mostra que os clientes adaptam a viagem ao seu orçamento.  Ou seja, o “destino dos sonhos” está sendo substituído, atualmente, pelo “destino que cabe no bolso”, e neste sentido os destinos turísticos que oferecem a melhor relação custo x benefício ganham destaque”.
          Ainda segundo a companhia, o Nordeste brasileiro, que possui destinos como Porto Seguro, Maceió, Fortaleza, Natal e Porto de Galinhas "lidera o ranking de destinos mais buscados entre os clientes”.

Foco é turismo interno
          O turismo interno representa a maior fatia no bolo de operações da empresa. “Cerca de 60% da movimentação da operadora se refere à viagens dentro do Brasil e 40% para viagens ao exterior. Em momentos com alta do dólar, como o atual, essa movimentação gira em torno de 70% para destinos nacionais e 30% para destinos internacionais, ou seja, não apresenta uma queda brusca e nem uma migração considerável, apesar de os destinos brasileiros ganharem no quesito preferência nacional”, afirma a assessoria da empresa.

Estratégias 
Ainda segundo a assessoria, a empresa adotou estratégias que alavancaram o seu crescimento, como: renegociações de preços e tarifas com fornecedores no Brasil e no exterior, junto a companhias aéreas, hotéis e resorts, empresas de receptivo e passeios, para reverter descontos aos consumidores; promoção de dólar reduzido - a CVC tem feito promoções com câmbio reduzido, para promover viagens para a Europa, cuja procura está mais alta em comparação aos EUA, por exemplo.
A operadora também optou pelo financiamento sem juros da viagem em até 15 vezes iguais, em reais e parcelas fixas, nos cartões de crédito Banco do Brasil ou em até 12x iguais com entrada para 60 dias, para embarques a partir de dezembro. Além disso, “em tempos de dólar alto, o consumidor também utiliza pontos de programas de fidelidade  para adquirir pacotes de viagens – os clientes da  Livelo, por exemplo, programa de fidelidade criado em parceria pelo Banco Bradesco e Banco do Brasil,  já estão resgatando seus pontos nas mais de 1.200 lojas da CVC no Brasil, para emissão de bilhetes aéreos junto a qualquer companhia aérea do mundo, mas também para efetuar diárias de hospedagens, locação de carro, seguro viagem, intercâmbio, passeios, cruzeiros marítimos, para viagens dentro ou fora do Brasil”. Outra iniciativa é o parcelamento da viagem no boleto, o que, conforme a CVC, “não compromete o limite do cartão”.
A operadora informou que, no último trimestre de 2018, “o parcelamento das compras em boleto bancário na CVC aumentou mais de 30%. No mesmo período do ano anterior esse número era em torno de 25%”.

Mudanças
Em portaria baixada em dezembro último, o Ministério do Turismo determina que, a partir deste ano, “só serão reconhecidas como regiões turísticas aquelas que contarem com instância de Governança Regional, Conselhos Municipais de Turismo ativos e, pelo menos um prestador de serviço inscrito no Cadastur, serviço de cadastro de pessoas físicas e jurídicas que prestam serviços no Turismo”
Os três novos critérios foram publicados no Diário Oficial da União, na Portaria Nº 192. A ideia é estimular a participação da sociedade na definição, implantação e acompanhamento das políticas públicas do turismo, por meio do Programa de Regionalização do Turismo - PRT, que seguem o princípio da gestão descentralizada.
“A Portaria Nº 192 é fruto de uma série de discussões que tivemos com interlocutores estaduais do Programa de Regionalização, ao longo do ano. Entendemos que o PRT estava maduro o suficiente para avançar”, comentou o Diretor do Departamento de Ordenamento do Turismo, Rogério Cóser. A próxima etapa, de acordo com o ministério, “é de sensibilização e mobilização dos interlocutores estaduais e gestores municipais para adequação das novas regras para atualização do Mapa do Turismo Brasileiro”.
Além dos três novos critérios, ficam mantidas exigências previstas na portaria anterior. Para integrar o Mapa do Turismo Brasileiro, os municípios que compõem as regiões turísticas devem possuir características similares e/ou complementares e uma identidade histórica, cultural, econômica e/ou geográfica em comum. Os municípios devem ser limítrofes e/ou próximos uns aos outros e comprovar a existência de órgão ou entidade com orçamento destinado ao setor.
Texto: Marc Antonio
Fotos: Ricardo Rollo (Embratur); Ministério do Turismo

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