segunda-feira, 30 de março de 2015

Um país democrático e estável


Manifestações pró e contra o governo tomam conta das ruas

 
Protesto pelas ruas de Itapetininga em 2015
 
            As manifestações que tomaram as ruas do Brasil recentemente mostram que o país, embora dividido entre os que apoiam e os que criticam o governo, está estável e equilibrado, enfrentando até com certa tranquilidade uma profunda crise política (alavancada pelo escândalo da Petrobras) e uma crise econômica movida pela alta dos juros, dos combustíveis, das contas de água e energia, da desvalorização do real frente ao dólar e pela inflação que insiste em assombrar os brasileiros.
            Não resta dúvida de que o Brasil avançou muito nos últimos anos, e que uma parte significativa da população saiu da linha da pobreza. A questão a ser discutida é o preço que nós, brasileiros, vamos pagar por isso. E as contas começaram a chegar!! Seja por razões políticas ou outros interesses, o governo incentivou o consumo, estimulou o crédito fácil para quase todo mundo e ainda reduziu impostos para quem quisesse comprar um carro novo ou um eletrodoméstico.
            A principal questão aqui não é se a pessoa tem condições de comprar um carro financiado, mas sim se consegue arcar com as prestações e outras despesas, como IPVA, licenciamento, combustível e manutenção do veículo. Muitos se esquecem disso e no afã de adquirir um carro zero, acabam perdendo o controle da situação e têm o carro tomado por falta de pagamento. Recente levantamento divulgado por uma emissora de TV mostra que quase metade dos brasileiros maiores de 18 anos estão endividados. Este é um dado preocupante.
            E a situação tende a piorar, agora que o governo deve apertar o cinto e reduzir investimentos, tendo em vista o necessário ajuste fiscal. E como sempre acontece, quando o bolso do homem é atacado, ele grita e protesta.
            Indignados com o escândalo da Petrobrás, milhões de brasileiros saíram as ruas para dar um recado muito claro ao governo e aos políticos em geral: está na hora de mudanças. E a enorme diferença entre o número de insatisfeitos (mais de dois milhões), em relação aos que foram às ruas apoiar (200 mil, segundo dados da Polícia Militar), mostram que o país está dividido, mas a grande maioria está insatisfeita.
            E o governo parece ter ouvido a voz das ruas. No dia seguinte aos protestos, a presidente Dilma concedeu entrevista coletiva e destacou que democracia é assim mesmo, é conviver com as diferenças e as críticas. “Não pode haver unanimidade”, destacou Dilma, ressaltando que a unanimidade só existe em um tipo de regime, dando a entender que seria a ditadura, onde não há liberdade de expressão.
            Vale lembrar que, há mais de 30 anos, o Brasil inteiro se mobilizou em torno de uma causa comum: a volta da eleição direta para Presidente da República, através da emenda apresentada pelo então jovem deputado Dante de Oliveira, em 1984. A emenda acabou não passando, mas o movimento Diretas-já tornou-se a maior mobilização popular e pacífica do país, até os protestos deste mês de março. Lembrando ainda que é em março também que se realizou o Golpe de 1964, que instalou a Ditadura em nosso país.
 
Mês tem história
Março parece ser o mês em que as coisas acontecem no Brasil. Coincidência ou obra do destino, a primeira manifestação pelas Diretas foi em 31 de março de 1984, no município pernambucano de Abreu e Lima, que havia sido emancipado na época. A manifestação reuniu cerca de 100 pessoas e foi organizada pelo PMDB. Além da data coincidir com o golpe militar que iniciou a ditadura no Brasil, Abreu e Lima também é o nome da refinaria que a Petrobrás está construindo em Pernambuco e onde há denúncias de superfaturamento. Da previsão inicial de US$ 2,5 bilhões de investimentos, quando no inicio da obra, em 2005, a refinaria já custou aos cofres do país US$ 17,5 bi e a perspectiva é que, ao final da obra, tenham sido investidos US$ 20 bilhões, ou mais de R$ 60 bilhões. As denúncias foram feitas por Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás e ex-membro do Conselho de Administração da refinaria.
Voltando à história, quem viveu os anos 80 e agora está perto dos 50 anos, ou já passou dessa idade, deve se lembrar de muitos fatos que agora estão para completar 30 anos. Até parece que foi ontem que o senador alagoano Teotônio Vilela lançou a ideia de um movimento pelas eleições diretas para presidente da República, no programa Canal Livre, da Rede Bandeirantes. Mas isso foi em 1983! Um ano em que a inflação era de mais de 230%!!!

Passeata no centro de São Paulo, em abril de 1984
Também parece que foi ontem que o movimento, até certo ponto considerado sem expressão por parte da imprensa, reuniu mais de 1,5 milhão de pessoas no Vale do Anhangabaú, em São Paulo, no dia 25 de janeiro de 1984. O ato foi liderado por Tancredo Neves, Franco Montoro, Orestes Quércia, Fernando Henrique Cardoso, Mário Covas, Luiz Inácio Lula da Silva e Pedro Simon, além de artistas e intelectuais engajados pela causa.
Mas, como já estamos chegando no mês de Abril, não podemos deixar de registrar que este mês também tem sua importância para a história do Brasil. Além das comemorações do Dia do Índio (19) e Dia de Tiradentes (21) e Descobrimento do Brasil (22), neste ano completam-se 30 anos da morte de Tancredo Neves, ocorrida no dia 21 de abril de 1985. Mais uma coincidência (ou não?) mesmo dia da execução de Tiradentes, mártir da Inconfidência Mineira e um herói nacional.
Eleito pelo Colégio Eleitoral, Tancredo morreu antes de tomar posse. Sua agonia, que durou 38 dias, foi acompanhada por toda a nação. Sua morte chocou a todos.
Quem teve a sorte de acompanhar aquele movimento pela volta das diretas – e a história do país até o momento – sabe que a democracia brasileira está consolidada. O país tem seus problemas e muita coisa ainda precisa ser feita, melhorada, refeita ou até mesmo desfeita, mas não há preço que pague o fato de vivermos em um país livre, onde podemos e devemos mostrar nossa opinião.
            Ou será que alguém gostaria de viver em um país fechado, onde até o corte de cabelos dos homens, ou o uso de barba, é definido e exigido pelas autoridades? A democracia pode não ser perfeita (ninguém é), mas é sem dúvida o modelo de governo que garante mais liberdade e poder para o povo. E afinal de contas, o país é do povo! Pensem nisso!
 
Texto: Marco Antônio
Fotos: Jorge Singh (passeata em São Paulo)/Mike Adas (protestos 2015)

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