segunda-feira, 13 de abril de 2015

Fotógrafa pioneira conta sua história


Adalgiza de Oliveira Barros atua na profissão há mais de 60 anos

 


            “A fotografia é uma mágica e a gente viu o começo dessa magica na cidade”. A afirmação não poderia ser feita com mais autoridade e conhecimento de causa, pois Adalgiza de Oliveira Barros, a Dona Ziza, como é conhecida, é pioneira como fotógrafa profissional em Itapetininga, possuindo experiência de mais de seis décadas de atuação.
            Ziza acompanhou e participou da história da fotografia na cidade, superando obstáculos, como dificuldades técnicas, incluindo a pouca energia que Itapetininga possuía na época, e o preconceito por ser mulher. Registrando casamentos e eventos, a pioneira presenciou o crescimento da cidade, pois o município hoje é bem diferente do que quando ela começou. Em seu acervo, a fotógrafa possui material histórico, como por exemplo, fotos das antigas igrejas de Nossa Senhora Aparecida e de Nossa Senhora das Estrelas, além de fotografias da primeira metade do século passado.
            Apaixonada por fotos, Dona Ziza passou esse amor ao marido, o conhecido fotógrafo Theodoro Rodrigues de Barros Neto, e aos filhos: Maria Virgilina (Vivi), José Luiz e Adriano, que agora administram a empresa da família, a Real Foto. Mesmo aposentada e aos 81 anos, Ziza continua a frequentar a loja, acompanhando a evolução tecnológica das fotos digitais e também vendo a terceira geração da família começar a atuar no ramo, através de um neto que faz o delicado trabalho de restauração de fotos. Veja agora um pouco da história desta pioneira, que também desenvolve importante trabalho social.
Antiga Igreja das Estrelas
            “Comecei a trabalhar com fotos aos 14 anos, primeiro fazendo serviço interno e depois, dos 19 aos 26, como fotógrafa profissional”, lembra Ziza. Ela recorda que começou a trabalhar na Foto Studio (rua Campos Salles), de propriedade de Primo J. Costa, “Depois fui trabalhar com o seu Bibi, que tinha uma foto em frente ao Clube Recreativo Itapetiningano (CRI), em cima do antigo Cine Olana; depois fui para a Foto Princesinha, onde cheguei a gerente, até conhecer o Theodoro”, conta Ziza, que deixou de trabalhar com fotos para ajudar o marido, na época proprietário do Bar Nossa Senhora de Fátima, quase na esquina da rua Pedro Marques com Virgílio de Rezende.
            Mas o serviço no bar era dispendioso e desgastante e, ao nascer o terceiro filho, Adriano, o casal resolveu montar uma loja de fotos. “Como eu gostava de fotografar e já tinha experiência no ramo, montamos a foto ao lado do bar. No começo eu dividia meu tempo entre a loja e o bar, até que o serviço de fotos foi crescendo e o Theodoro fechou o bar e veio me ajudar”, lembra Ziza.
 
Vencendo preconceitos
            E experiência é o que não faltava à Dona Ziza, já que dos 14 aos 26 anos trabalhou com fotografia e foi a primeira mulher a aparecer como fotógrafa profissional em eventos e casamentos. “As pessoas estranhavam quando me viam na igreja e perguntavam: mas o que é isso?”, lembra a veterana profissional, rindo.
            Outra barreira vencida foi a de fotografar ocorrências policiais, como acidentes e apreensão de drogas. “Como não tinha fotógrafo perito naquele tempo, o delegado, que era amigo do meu pai, veio pedir para eu fazer as fotos; meu pai deixou desde que uma pessoa de confiança me acompanhasse”, disse a fotógrafa, ressaltando que, nesse tempo, fez muitas fotos tristes, como de cadáveres, “Mas depois fiz muitas fotos alegres também”, afirmou.
            Uma passagem interessante aconteceu quando ela foi chamada para fotografar um acidente nas proximidades do distrito do Gramadinho. “Quando eu estava pegando minha máquina para fotografar, veio um guarda e perguntou: O que você tá fazendo aqui mocinha? Aí o taxista que me levou falou que o delegado tinha pedido para eu fotografar”, lembra Ziza. Em outra ocasião, foi fotografar três pés de maconha apreendidos pela polícia em uma residência. “Hoje se fala em maconha com a maior naturalidade, mas naquela época era tabu. Eu mesma só conheci quando fui fotografar”.
            Já em seu próprio negócio, Adalgiza fazia de tudo, desde preparar a parte química para a revelação de filmes, até viajar para cobrir eventos em cidades da Região, como São Miguel Arcanjo, Guareí e Buri, entre outras. Ela lembra que à noite, ao lado do marido, revelava, recortava e deixava os filmes para secar, tudo feito manualmente.
 
Em busca de água
            Embora nessa época não houvesse tanta preocupação com a água, Ziza pegava o carro, colocava os filhos dentro e sair recolher água pura das nascentes do município, ideal para fazer o químico usado na revelação.
            “Tudo era bem diferente de hoje, da era digital”, comenta a fotógrafa. Com o tempo, a empresa da família foi crescendo e se modernizando. Mudou de endereço, permanecendo na Virgílio de Rezende, mas desta vez em prédio próprio.
            Com a entrada do filho mais novo, Adriano, a empresa passou – e ainda passa – por um processo de modernização para acompanhar a constante evolução da tecnologia, principalmente nos últimos anos.
            Assim como a fotografia, a cidade também evoluiu e mudou muito nestes anos todos, de acordo com a avaliação da fotógrafa. “Hoje, com a foto digital, você tira a foto e vê o resultado na hora; antes, tinha de esperar revelar o filme para ver como ficou a foto. E houve uma época em que Itapetininga não tinha energia suficiente. Então para tirar foto 3x4 tinha de ser uma por uma, pois tinha de ver no sol se ficou boa a foto, já que a luz não era suficiente. A gente abria a cortininha no sol e contava, se contasse errado perdia a foto e depois de pronta tinha de ver no sol se realmente ficou boa”.
            Certamente, uma época bem diferente da atual, com ruas asfaltadas, energia boa e tecnologia cada vez mais evoluída. Mas, assim como em outras atividades, talento e profissionalismo são indispensáveis para reali\zar um trabalho de qualidade. “Hoje em dia, até celular tira foto, mas quem quer qualidade deve procurar um profissional. Um álbum de casamento, por exemplo, é uma obra de arte e só um fotógrafo profissional pode fazer”, aconselha a veterana fotógrafa.
Além do trabalho profissional, Dona Ziza sempre desenvolveu trabalho social e religioso, atuando na catequese na paróquia de Nossa Senhora das Estrelas. Ela também sempre ajudou a comunidade do bairro da Rocinha e hoje, é com satisfação que vê entrar em sua loja homens feitos, pais de família, que quando crianças foram catequizados por ela. “Deus foi tão bom comigo que me deu tudo que pedi: um bom casamento e filhos maravilhosos”, conclui Ziza.
 
Texto: Marco Antônio
Fotos: Arquivo pessoal

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