segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Aulas de culinária ajudam alunos da Apae

Iniciativa de artesã inova no atendimento
A artesã Andréia Gomes, que desenvolve trabalho na APAE


          Projeto desenvolvido na APAE (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) de Itapetininga pela artesã Andréia Gomes tem possibilitado a 30 alunos da instituição a chance de descobrir e desenvolver um talento: o de cozinhar e preparar pratos e doces diferenciados. O objetivo da iniciativa é auxiliar na inclusão social dos alunos e os resultados, segundo a professora, estão sendo surpreendentes.
          Andréia entrou na APAE em novembro do ano passado, para supervisionar as oficinas de artesanato, pintura e os trabalhos com material reciclado e marcenaria. A resposta rápida dos alunos nas aulas de culinária surpreende ainda mais quando a professora informa que, no dia da reportagem, 11 de março, fazia apenas um mês que o projeto tinha iniciado. Neste mês de novembro, o Marconews entrou em contato com a artesã novamente, que passou novas informações.
          “Eu tenho alunos com vários tipos de deficiência”, conta Andréia, observando que “fui vendo e analisando possibilidades, colocando desafios. Eles foram correspondendo além do esperado, cada vez mais os trabalhos estão saindo com requintes de artesão mesmo, principalmente artesanato e pintura”. A primeira turma de 24 alunos, todos homens, ampliou para 30 pessoas e agora possui mulheres entre seus integrantes, com idades entre 17 e 56 anos. São eles que organizam toda a cozinha antes das aulas e depois arrumam tudo para a turma da tarde.

Dar o melhor de si
A professora brinca com os alunos

“Eu não consigo fazer nada básico”, revela Andréia, acrescentando que, “a partir do momento em que você se dispõe a fazer algo, tem que fazer o melhor possível”. A primeira receita preparada pelos alunos foi uma torta crocante de banana, com Andréia passando a receita na lousa para a turma copiar. “A grande maioria não consegue ler, mas eles copiam”, diz a professora, lembrando que a receita foi um sucesso. “O cheiro se espalhou pela APAE e logo todo mundo veio aqui ver o que acontecia. Dominamos a escola naquele dia, não é”, brinca Andréia com os alunos.
          Ela ressalta que os meninos puderam sentir o sucesso com os elogios que receberam após o resultado do trabalho. “Todo mundo gosta de elogios, mas para eles é mais importante ainda. A partir daquele dia se apaixonaram pelas aulas”.

Inclusão
          Perguntada se as aulas são importantes para os alunos superarem as dificuldades, Andréia responde que “a intenção é a inclusão na sociedade; dar oportunidade para eles serem responsáveis, pois estão trabalhando com comida, fazendo algo gostoso para as pessoas comerem. Isso eleva a autoestima”, afirma a professora, ressaltando que, para seus alunos, as dificuldades para aprender “são um pouco maiores”. Mas nada que eles não possam superar; alguns inclusive já preparam as receitas em casa, com a ajuda da família. “As aulas ultrapassam os muros da entidade. Eles podem fazer na casa e gerar renda”, conta Andréia.

Experiência única
          Não são só os alunos que estão se emocionando com as aulas. A experiência está sendo única também para a professora. “O amor e a verdade que existem aqui não encontrei em nenhum outro lugar. Quando eles gostam, gostam mesmo, mas quando não gostam não tem jeito”, relata Andréia Gomes, que se emociona a falar sobre as famílias dos alunos. “Elas têm entrado em contato comigo através de redes sociais, para agradecer, pois dizem que as aulas mostram que os alunos podem fazer muito mais do que os limites a que estão acostumados...eu leio quando chego em casa e aí é um choro só...me desfaço em lágrimas”. Como exemplo da evolução dos meninos, a professora cita um aluno que era muito retraído, mal deixando as pessoas se aproximarem. “Com as aulas, ele é outra pessoa, até traz receitas para fazermos aqui”.

Depoimentos
A artesã e os alunos mostram as mãos com chocolate durante as aulas

          Alguns alunos se prontificaram a dar depoimento sobre as aulas de culinária. “Eu estou gostando das aulas; aprendi a fazer bolo de banana, que é a receita que mais gosto. Ainda não consigo fazer em casa”, afirma Geovane, de 19 anos, morador do Jardim Casagrande e aluno da instituição há nove anos. Ele deve participar em breve de um convênio que a APAE mantém com a multinacional 3M e trabalhar por um ano na empresa. “Quero ter meu dinheiro e poder ajudar minha família, comprar coisas para meu sobrinho, que me quer bem. Eu gosto de todo mundo aqui; quem não gosta da Andréia?”, diz Geovane.
          “A Andréia é ótima professora; ela me ensinou a fazer coisas com casca de ovo. Aqui nós temos uma overdose de Andréia. Ela nos suporta”, afirma outro aluno, Edson, que já fez em casa, com a ajuda da mãe, a famosa torta de banana. “Minha mãe adorou”.
          “Eu ajudo Andréia em tudo aqui. Ela me ensinou a fazer cookies e torta de banana. O que eu mais gosto é o quibe na chapa; vou fazer em casa para minha família”, afirma Eric, de 24 anos.
          Mais velho dos alunos, Lázaro, de 56 anos, também é funcionário da instituição; ele também gosta das aulas e já aprendeu a fazer docinhos. A APAE de Itapetininga possui 220 alunos e está instalada na Vila Paulo Ayres.

Texto: Marco Antonio
Fotos: Facebook

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